quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

PESO PENA


Vez em quando eu escuto por aí sobre a gravidade das coisas: "É que meu caso não é prá psicanálise, não. É grave. É caso prá psiquiatria."
Fico pensando o que seria um caso prá psicanálise. Ela, que pegou os casos mais perdidos que se possa haver por aí, ficou relegada à um plano perigoso.
A história do Freud e seu diferencial estava justamente em ouvir o que o paciente tinha a dizer. Em prestar uma atenção danada em porque o corpo começava a falar o que a boca não queria dizer. O que era trancado a sete chaves prá não trazer à tona conflitos internos tão secretos que a ameaça de revelá-los assustava mais que qualquer bicho-papão.
Só que junto à escuta desses conflitos, estava a elaboração dos mesmos. Desfazer nós e desembaraçar novelos. Esta é a proposta.
Nada de pilulinhas mágicas que fazem calar, que fazem babar, que enchem o rosto de tiques nervosos.
É a escuta o que se privilegia.
Chega a ser de uma curiosidade mórbida como tem tanta gente que confia plenamente em médicos prá fazer calar a boca.
"Doutor, preciso de uma mordaça. Não posso com meus desejos e fantasias e vontade de virar a mesa."
A consequência às vezes é drástica. Além da eliminação do desejo, há o perigo de morte, literalmente, da pessoa.
Mas é natal. Vamos cear com a família, aparafusar sorrisos e não esquecer o rivotril de cada dia.

curiosidades: O Natal é a época em que mais as pessoas entram em crise. E o peru entala na garganta. Sem nem precisar de farofa. Tudo isso para que a voz não saia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

"ELE É BONZINHO, TADINHO!"


Por que é que a gente escolhe os nossos amigos como tais?
Você aí, apressadinho, mal leu a pergunta e já tasca logo uma resposta ansiosa que teoricamente seria óbvia: "Ué, por afinidade!"
Isso seria certo se a vida fosse simples, óbvia, e sem mecanismos secretos que a gente esconde de todo mundo. Mas na prática a teoria é muito outra.
Todo mundo lembra fácil aqui de alguém que tem um amigo chato, mas chato de verdade, que ninguém aguenta, com a única exceção daquele nosso amigo que tem o apelido de bom pastor, de madre teresa, ou de qualquer entidade filantrópica que faz o bem indiscriminadamente.
A pergunta é: Por que aguentar essas pessoas?
Até o Betinho, símbolo do bem maior no mundo politicamente correto já assumira, quando lhe perguntaram se ele, o tal, tinha algum tipo de preconceito. Ele pensa, se cala, revê seus conceitos e divulga: - Tenho sim. Tenho preconceito contra o chato!
Tem outra questão aí que se interpõe. Afinal, quem é chato? A gente não vai achar tão facilmente gente com crachás, ou que pertençam ao chatos anônimos tentando se curar só por 24 horas. Mas a problemática que trago aqui é muito maior que a pura e simples classificação. É sobre as escolhas. Sobre o que me leva a eleger alguém como amigo. e mais, por que são abertas tantas exceções? Por que os descontos?
Prá quem é realmente uma mala sem alça é até cômodo. Afinal, ele não precisa se aprimorar em nada. É chato e pronto.
E a outra parte? Por que quer parecer tão boazinha?

terça-feira, 20 de novembro de 2007

E AGORA? O QUE FAZER NESSAS HORAS?


Ele devia ter uns 8 anos e estava apaixonado. Voltava rindo de orelha à orelha da escola, e sempre respondia 'sim' quando lhe perguntavam se tinha namorada.
Mas era um namoro diferente.
Ele e sua escolhida voltavam roxos prá casa, de tanta briga na hora do recreio. Falei briga, e não espancamento. Que isso fique bem claro. É algo como uma coreografia não ensaiada. Muito diferente de demonstração de poder por só uma das partes.
O raciocínio nunca exposto era mais ou menos o seguinte:
"Não sei o que fazer quando estou apaixonado. Então o contato mais próximo que posso ter é rolando pelo chão."
Ele não tinha a menor dúvida. Saía no tapa com ela.
Se não sabe o que fazer, brigue. Pelo menos faça alguma coisa, era o lema.
Nem preciso dizer que essa elaboração toda sobre o toque só foi alcançada mais de uma década depois, talvez 2 ou 3...
Muitas vezes a lógica aí de cima sequer é mencionada. Mas não por omissão. É falta de dados mesmo.
Como é que uma criança vai saber como reagir ao que sente, como agir de acordo com seus desejos, se ela não conhece nada daquilo? Se ela não tem a menor intimidade com aquelas confusões sentidas que estampam um riso idiota no canto dos lábios.
Ela, definitivamente, não tem dados prá lidar com isso tudo. Até porque umas das características do amor - ah, o amor - é a total falta de dados, de planejamento, de inteligência prática.
O gaguejar é constante, as frases atrapalhadas, o desastre está consumado e derruba porcelanas com rabadas de elefante.
Só que infância passa. E essa ignorância toda é combatida com a máxima racionalidade possível. Assim, fica muito mais fácil controlar o que se sente, fazendo um esforço danado prá nada sentir.
E assim se vai morrendo aos poucos por falta de sangue que corem as faces, por falta de confusão, por falta de 'burrice'.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

TODO MUNDO QUER SER...


O Senso Comum (assim, com maiúscula) diz que todo mundo quer ser amado. E a pergunta que não cala é: "Quem é esse tal de Senso Comum?"
Tem umas coisas que a gente associa ao ser humano como se fossem inquestionáveis, como se fossem verdades incontestáveis mais que absolutas. E esse tópico da vontade de ser amado ser universal vem logo à tona.
Todo mundo, quem?
Eu mesma conheço umas 4 ou 9 pessoas que fazem um esforço medonho para serem odiadas. Elas teimam em fazer tudo para irritar o outro, para merecerem o desprezo, o xingamento, a raiva mais que cruel vinda dos outros.
Você mesmo, aí do seu lado, já deve ter se lembrado de alguém com essas características. É algo mais ou menos como "Não me ame. Eu não valho à pena." que fica no ar. E quem transgride essa regra acaba sendo visto com um olhar profundamente desconfiado, como burro, tonto, tolo. E merecedor de um desprezo muito maior. Afinal, foi gostar logo da pessoa errada.
E a gente, que cantava aquelas coisas bregas e adoráveis tipo "você não soube me amar", que responsabilizavam o outro pela incompetência em realizar essa tarefa tida como tão simples, acaba nem percebendo como é difícil ser amado.
Como é difícil aceitar o afeto dos outros, principalmente se o afeto for do tipo positivo.
E se corta profundamente com a desculpa de não querer machucar ninguém. Mas acaba respingando sangue e farpa prá quem estiver por perto.
Mas por que uma coisa tão boa como o amor tem que doer?
Ai o Freud, que já falava dessa inaptidão para o amor como um sintoma de que a análise é necessária e até urgente...
O cara sabia das coisas!!!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

VARA DE GOIABA


Vez em quando escuto por aí sobre as semelhanças entre a psicanálise e alguns objetos
um tanto hostis. Outro dia mesmo ouvi que o psicanalista de hoje era a 'vara de goiaba' de ontem.
Absurdo!
Mas achei que pode ser interessante trazer esse tema aqui. Afinal, por que tanto medo de psicanálise?
A imagem mais apropriada é a da mão inquisidora apontando pro sujeito, obrigando-o a confessar seus crimes mais secretos.
Êpa. Mas isso quem faz é o padre, a madre-superiora, a diretora do colégio, do presídio, o delegado, os colegas da clínica de recuperação, o bedel,...
Por que é que a fama recai sobre o psicanalista?
Outro papel interessante que supostamente o psicanalista tem é o de guia turístico. Ele tem o mapa. Ele sabe como chegar lá. Ele tem a informação que eu não tenho, e vai me dar o caminho.
Esse é o outro lado da moeda, que no fim significa mais ou menos a mesma coisa. Nos dois, a posição de poder do psicanalista está em voga. Nos dois ele tem a força - seja em forma de objeto de tortura, seja em forma de mapa da mina.
Mas uma coisa precisa ser dita aqui: Esse psicanalista aí só existe prá quem foge de análise e inventa desculpas prá não fazer.
Se alguém cruzar com um desse tipo, fuja. Fuja o mais rápido que puder, pois isso de psicanálise não tem nada.
A função da psicanálise é muito outra.
É investigar. É procurar. É buscar, junto com o analisando, os caminhos, os porquês, as saídas do labirinto.
Ou psicanálise não passaria de mera imposição da vontade do analista sobre a vida dos outros, apelando prá um "faça isso; não faça aquilo". O que, convenhamos, não adianta muita coisa, já que a consequência de qualquer ação será somente de quem a pratica.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

SAUDADE DO CHIQUEIRINHO


... E o bebê ficava ali no meio da sala, usando um pedaço muito pequeno da casa - a parte que lhe cabia daquele latifúndio - seguro toda vida. Dentro do chiqueirinho, ou cercadinho, ele estava sempre seguro.
Nada podia lhe atingir. Nada podia lhe acontecer. Nenhum tropeço, nenhum objeto era estranho, nenhuma queda era perigosa.
Nada!
Sem riscos. Sem novidades. Sem vista pro céu.
Ah, o céu!!!
É curioso como alguns hábitos da infância permanecem eternamente.
Duvido que só eu tenha notado que tem gente por aí que caminha de andador até hoje. A gente olha a pessoa e consegue até visualizar aquele disco esquisitíssimo de plástico azul com rodinhas, onde se punha as pernas e teoricamente ensinava a andar com segurança. (Como se as pessoas só pudessem aprender a andar com esse objeto altamente anti-natural).
Nem vou falar aqui de fase oral, com chupetas trocadas por cigarros, bebidas e comidas... Cito apenas aqueles troços que cumprem a promessa de proteger.
E eles insistem em permanecer no convívio da gente, mesmo que o objeto em si já nem exista mais. E toma-lhe chave e tranca, toma-lhe condomínio altamente vigiado, toma-lhe emprego chato, toma-lhe namorado(a) intragável. Tudo muito seguro e sem ameaça de surpresa. Assim não existe a menor probabilidade de alguma coisa decepcionar, de sair do controle, de machucar.
se não acontece nada novo, como alguma coisa pode dar errado?
Só que lá na infância tinha o domingo.
O passeio era diferente. Parque, areia, praia, zoológico, vento no rosto, banho de picolé derretido, onda que derrubava e deixava sem prumo, árvore, jabuticaba, pé descalço, bicicleta, sol, ...
Mas e o céu hoje em dia? Cadê? Cadê olhar pro alto e perceber que há muito mais do que o teto da sala visto do chiqueirinho?

domingo, 7 de outubro de 2007

"ODEIO POLÍTICA"


Essa frase é constantemente repetida em qualquer lugar onde a gente vá. Frequentemente ouvida em consultórios e filas de banco. Facilmente compreendida em qualquer situação em que a gente não queira dar muito parecer, passar recibo de que a aposta que a gente fez acaba ficando mesmo sem recibo, sem garantia, sem satisfação garantida ou seu dinheiro de volta.
Já dizia o louco bigodudo Nietzsche que a diferença entre a ditadura e a democracia é que, na segunda, a gente escolhe quem vai mandar na gente.
Não quero aqui defender ditadura ou democracia num ou isto ou aquilo muito do empobrecido. Ao contrário, minha pergunta é: Por que delegar?
Depois dos comentários sobre o filme do Bope - digo de novo que é um excelente filme. O que mata, literalmente, é que não seja ficção - senti uma onda de escolha no ar, como se a gente pudesse escolher quem vai tomar conta da gente. Se o Bope, o tráfico, a polícia ou a elite alienada.
Mas por que é que eu tenho que escolher entre um desses?
Saindo do filme e indo pelo mundo afora a gente encontra outros exemplares eleitos por aí, os quais teoricamente 'tomariam conta' de nós, zelariam pela justiça e nosso bem estar, mas que olhando de perto não é bem assim.
É até reconfortante achar que alguém olha por nós. Que não estamos sozinhos. Que tem um 'responsável' por nossas proezas e até por nossas desgraças.
Falando nisso, as bancas de jornal estão abarrotadas com matérias anti e pró Che Guevara, explicitando bem essa idéia de que temos que escolher entre um - e só um - desses caminhos.
Mas se é prá escolher entre militares ou comunistas, Zé Pequeno ou Capitão Nascimento, alienação bronzeada ou intelectualidade amarga, fico com os shows de calouro mesmo. E dou bananas prá todos esses outros sem-talento.
Em Elke nós confiamos!

sábado, 29 de setembro de 2007

GOSTO POR DESGOSTO


Masoquismos à parte, tem gente que é mesmo chegado a um sofrimentozinho como forma de vida.
Não o sexual, quando se precisa impreterivelmente de alguém prá lhe impor a dor, mas o sofrimento como única forma de viver mesmo.
E toma reclamação, e toma problema insolúvel - já que o esforço prá resolver é nenhum -, toma mazela como cartilha de comportamento.
O que chama a atenção é o esforço feito prá continuar no mesmo lugar, o da dor, achando sempre que dar um só passinho é muito difícil. Gasta dinheiro e tempo, e isso é matéria escassa no planeta. E terapia é um negócio muito caro (ó a desculpa aí, gente!)
Outro dia ouvi de uma mulher como ela não suportava mais o marido, mas fazia questão de não separar só de raiva dele.
O detalhe é que ela tinha câncer, com metástase, e sabia ter os dias contados.
Mas a não-separação não era medo de falta de cuidados, não. Era vingança, como ela dizia. e ela precisava fazer aquilo - se vingar - antes de morrer.
Aí a gente vê logo que tem um gosto pelo desgosto muito maior que qualquer possível alegria.
Seja o desgosto de viver reclamando, seja o desgosto de dormir com um inimigo, seja o objetivo de vida unicamente voltado prá espezinhar um outro.
Só pergunto onde é que fica o por do sol nessa história toda. Onde fica o beijo na boca? Onde fica a satisfação em produzir o que gosta? Onde fica...?
Ah... eu é que não vou ficar falando aqui - como fazem os desgostosos.
Tô atrasada prá dar umas gargalhadas. Vou correr ou meu sorvete derrete.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

EU NÃO VI, mas...


Como já dizia Sílvio Santos: "O filme é muio bom. O filme é ótimo. Eu não vi, pois o filme é inédito. Mas minha mulher viu, minha filha viu, meu síndico viu,..."
Agora que 'Tropa de Elite' já teve sua primeira sessão no cinema, todo mundo pode dizer sem medo ou hipocrisia que viu, sim, e daí?
Claro que a qualidade do filme é excelente, e que a gente sai do cinema (?) meio como saía de 'assassinos por natureza', doido prá alguém mexer ou olhar estranho e a gente poder exercitar nossa inteligência transbordando pela mão em soco.
Claro que é um retrato corajoso de como o sistema faz tudo pro próprio sistema não funcionar. Mas confesso que me preocupa a polêmica em torno do filme ser focada só na pirataria. Que por mais que ele retrate uma realidade, a realidade retratada não foi questionada nem um pouco. Pelo contrário. Fica só uma afirmação: A REALIDADE É ASSIM. E PRONTO. Quem não sabe disso é alienado. Mas o problema aí não está em saber ou não saber. Está na aceitação disso tudo sem o mínimo questionamento, sem a menor perturbação das almas.
Então o filme, que era prá ser polêmico - pois descreve os tipos mais medonhos que a gente convive, pois coloca a tortura como instrumento plausível de ser usada, amplamente aceitável dentro do contexto, pois levanta que o uso da força é o que vale - acaba sendo um filme descritivo.
Eu me choco quando vejo que a tortura ainda é usada. E muito. Mas me choco mais ainda quando ela é aceita sem pestanejar como mero fator da realidade. Imutável. Certa. Cristalizada.
E você? Qual a cor da sua farda?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

CAFÉ COM LEITE


Nunca entendi bem essa expressão. Desde criança a gente escuta, nas brincadeiras, que Fulano ou Beltrano, por ser pequenininho, é café com leite. Ele até pode brincar com os outros, maiores, mas não conta muito. Não vale.
Por que 'café com leite'?
Isso nem vem muito ao caso, descobrir a origem da expressão. O fato é que depois de velho a gente continua lidando com essas sensações de ser apenas café com leite. De não ter os instrumentos necessários para participar da brincadeira. Não ter estatura. Parece que ficou faltando alguma informação ou formação para que o sentimento de aptidão se mostre presente.
A pergunta aqui então é outra: Por que se achar café com leite? Por que, por mais pós doutorado que as pessoas tenham, elas não se sentem aptas a realizar alguma coisa que realmente gostariam?
Se o olhar for político dá até prá entender. Principalmente hoje em dia, quando parece haver uma facilitação para que não haja repetência ou evasão escolar. Essa política hoje tem força total, com a desculpa de justamente fortalecer a auto estima dos alunos.
Mas tem coisa pior prá auto estima do que se sentir burro? Do que sentir que não teria a mínima condição de realizar o que lhe foi incumbido se não fosse a ajuda dos grandes?
E o que psicanálise tem a ver com isso?
Às vezes o obstáculo fica tão grande, tão grande, que a gente fica se sentindo mesmo bem pequenino perto dele. Vira mesmo café com leite. Só que, ao contrário do termo, que implica em certa proteção, por não termos todas as armas, é exatamente nessa situação que nos sentimos mais desprotegidos.
E então chega a hora de investigar direitinho de onde vem esse sentimento. De onde vem essa sensação de que "todo mundo sabe menos eu". Tem gente por aí que passa por mau aluno mas só precisa de uns óculos prá enxergar melhor.
E você? Aceita uma lupa, Sherlock?


O café maravilhoso aí de cima quem fez foi um amigo, o Emílio Rodrigues. às vezes um café com leite pode ser muito, muito bom.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

LIGUE OS PONTOS


Já era dever de casa da tia Maricota associar a coluna 1 à coluna 2, ligando a única resposta que cabia.
Funcionava mais ou menos assim: Se tá com sede, beba água.
Se tem fome, coma.
Quer pitar? fume.
Sono? cama.
Sente raiva? soque um, quebre a cabeça, xingue.
Tá triste? chore.
Feliz? Não caiba mais em si e espalhe por aí.
Apaixonado? Ame, fique lindo, rindo à toa...
Mas aí vem o homem, que não pode seguir puramente seus instintos, sob pena de se tornar animal demais, simples, fácil, e começa a trocar todas as respostas.
Aí a gente vê quem tá com fome fumando mais um cigarro prá enganar - quem?; quem tá brabo criando úlcera e pedra nos rins - ao invés de tacar pedras por aí; quem tá feliz disfarçando prá não destoar muito do resto; quem tá triste engolindo seco e parafusando um sorriso na cara;...
E tudo isso é prá ser racional, complexo e muito gente?
Ahnnnnnnnn.
Mas e o animal? Morre?
Não uiva mais quando é Lua cheia?
Lamentável... lamentável...

foto de Ivânia Trento

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

ÍDOLOS - MODO DE USAR


Recebi dia desses um e mail com texto de uma psicóloga falando sobre o filme do Cazuza.
Dizia a moça, cheia de razão e verdades absolutas : "Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora. As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível."
Fiquei me perguntando o que seria um ídolo certo?
Claro que Cazuza não era santo. Imagine-o escrevendo suas letras sem a intensidade de vida que lhe socava o estômago a cada manhã... Não dava.
Mas daí a alguém dizer se esse é o ídolo certo ou o errado, tentando ditar qual o comportamento correto a se adotar, me chocou profundamente.
Acho engraçado que o 'mau exemplo', teoricamente, para os "especialistas" de plantão, seja o mais importante prá se determinar que tipo de ídolos queremos. Mas exemplo a gente tem o tempo todo. Não cabe a nós - e só a nós - escolhermos o que, de cada um, admirar?
Em outras palavras, tomar tudo o que Jimmy Hendrix tomava era fácil. Quero ver tocar guitarra que nem ele.
E é isso o cultivado: O diferencial, a irreverência, a capacidade de deixar a música possuir como se fosse entidade - vai dizer que não é? - e virar simples cavalo, corpo prá uma manifestação, possibilidade de expressar alguma coisa com a qual muita gente se identifique.
Não é isso o que torna alguém ídolo? Não é essa identificação que torna alguém admirável?
Ou é o que a psicóloga, adotando uma postura mais que professoral, delimitando cartilhas do bem viver, permite?
Pensando bem, no caso de alguns ídolos, quanto mais maldito, MELHOR.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

ORA BOLAS, VÁ FAZER TERAPIA


Chega a ser cômico como não existe ofensa maior do que mandar alguém fazer terapia.
Pode xingar a mãe, mandar tomar não sei o quê não sei aonde, sugerir uma viagem pela TAM, coabitação com a sogra,...
Mas bastou falar em terapia que a casa cai, o circo pega fogo, e vem logo o rebate, meio infantil, quase chamando o irmão mais velho prá bater:
"Vai você que tá mais acostumado!"
E começa uma discussão longa meio querendo dizer "quem tem problemas é você, não eu"
Mas eu pergunto aqui, chamando prá briga, se é realmente possível nesse mundo alguém não ter problemas.
Claro, o problema é sempre do outro. Todo mundo sabe disso. Mas já que a gente tem que conviver...
Parece haver um certo temor em mexer no que está há tanto tempo 'adormecido', abafado, trancado à sete chaves lá nas profundezas do porão mais secreto. Mas o que será que tem nessa caixinha que assusta tanto?
O Ferenczi, psicanalista vastamente elogiado por Freud, sublinhou um detalhe importante em sua clínica sobre esses segredos e repressões mantidos à todo custo. É que ele reparou que, muitas vezes, o medo de se mexer no que está guardado fica tão grande, tão cheio de julgamento, como se ao fazer terapia soltasse todo o mal, e os mosntros seguiriam desgovernados, agora libertos, massacrando a humanidade.
Mas ele percebeu, com sua sensibilidade mais que apurada,que os pacientes acabavam prendendo ali, também, no meio de tudo, sentimentos altamente positivos como a ternura, o afeto, o carinho, e até o amor.
Então prá fugir das coisas 'ruins', eles acabavam negando a existência das 'boas'.
E isso é vantagem?
SE você acha que sim, só tenho uma coisa a dizer:
Oras, vem fazer terapia!!!

Foto Por Luiz,"São Paulo's Eyes .Flickr"

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

COMO SER INTELIGENTE. PASSO A PASSO


Não é que me cai nas mãos um livro ensinando às mulheres inteligentes como serem inteligentes?!?
Não sei ainda se é piada, provocação, manual ou instrumento prá se livrar de gente pegajosa. Mas o fato é que fiquei com uma inveja mortal de não ter escrito isso.
Devo admitir que é de uma inteligência tamanha alguém escrever um manual ensinando a ser inteligente. Vende como água - e olha que esse artigo tá cada vez mais raro, quase tanto como a inteligência - e ainda livra umas pessoas de outras indesejáveis.
É só dizer assim: "Olha, você não está sendo razoável. Seja racional e concorde comigo."
Simples assim.
Basta trocar o adjetivo.
De manual de boas maneiras adotamos agora, nesse período em que a razão teoricamente ultrapassou de longe a emoção - por mais que sejamos cada vez mais passionais -, o manual da inteligência.
Nada de questionamentos. Nada de experiências. Nada de visão a posteriori. Nada de conclusões próprias. Isso demanda tempo. E nós não dispomos disso.
Siga o mestre e pronto. Ganhas um diploma de inteligente-funcionário-amante-padrão-do-mês.
Vamos eliminar logo os passos em falso, as incertezas, os errados, os conflitos, o crescimento,...
É só seguir a bula. A receita. O mapa.
Mas se você aí quiser achar seu próprio método de vida, com tudo o que essa tem direito, bato palmas daqui, com os olhos marejados, cheia de emoção por achar vida inteligente no meio dessa "inteligência" toda.
Ufa!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

CRÉDITOS


Faz pouco tempo postei um poema aqui no blog supostamente roubado de um amigo.
Claro que prá roubar de amigos a coisa é muito outra. A gente avisa, pede com jeitinho, diz que se apropriou e promete um chocolate em troca.
Acabou que nesse ato ganhei 100 anos de perdão - ladrão que rouba ladrão...
O poema já tinha sido roubado há tempos.
Mas essa não é a questão primordial aqui não.
O que me gritou aos ouvidos foi o modo como a gente lê um autor, e o modo como lê outro. A diferença está toda na assinatura.
Quando o poema era ainda de meu amigo eu o achei brilhante, sereno, simples. Quase li com o sotaque e a entonação de quem eu já conhecia.
Parece que já tem um preparo nosso, meio que abrindo espaço no peito prá poder caber, prá absorver aquilo tudo que ainda vai ser lido.
No entanto, - e eis aí nossa questão - ao descobrir o verddeiro autor daquelas linhas, minha interpretação foi completamente diferente.
Fiquei perplexa em como aquilo tinha me chamado a atenção.
Mas isso não se dá só na arte, não.
Um filme bom que ainda passa por aqui é o brasileiro "Proibido proibir" que levanta uma questão mais ou menos parecida.
Ele faz uma denúncia fortíssima a respeito da manipulação de informações. Ou seja, se o cara é preto, pobre, favelado, e vê o que não devia, fatalmente se algo lhe acontecer ele será colocado como o vilão da história, como o traficante ameaçador, como quem atirou primeiro.
Não importa muito o que ele diga, pouca gente lhe dará ouvidos.
Sua assinatura não cola. Não tem crachá ou instituição que o banque.
Tem que ter uns pré requisitos prá poder ter direito à credibilidade. E essa acaba dependendo de quem é a outra parte envolvida.
Mas como fui da poesia ao grupo de extermínio?
É que a estrutura é a mesma. Não importa a lógica, o argumento, a 'justiça',... Nossa escuta já está meio contaminada.
E se a gente só abrir os ouvidos e olhos prás assinaturas já conhecidas, prás idéias já pré concebidas, prás teorias já adotadas e comprovadas...
Vai sobrar realmente MUITO POUCO.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

POR QUE A GUERRA?


Já faz muito tempo que Freud escreveu um texto com esse nome, discutindo com Einstein os motivos que levam o ser humano a entrar numa guerra. E parece que os motivos não mudaram muito desde essa elucidação.
A gente agradece aos amigos o tempo todo a presença deles nas horas difíceis. E dá graças a Deus de eles estarem por perto nas horas boas também. Afinal, amigo é prá rir junto.
No entanto, lembrando as palavras de Freud aqui, nos deparamos com a presença um tanto importante em nossas vidas de alguém que acaba tendo função fundamental na nossa existência.
O Freud, já em 1932, alertava para algo que funciona mais ou menos assim: Para que a gente não se odeie muito e acabe cometendo suicídio, a gente pega tudo de ruim que há em nós e acaba jogando em outra pessoa,transferindo, externalizando aquela podridão toda. Assim fica mais mais fácil a convivência com nós mesmos, seres perfeitos, feitos à imagem e semelhança do Todo Poderoso.
Que Freud me perdoe pela simplificação mas funciona mais ou menos assim.
Daí não fica difícil entender o motivo de se manter a todo custo certas inimizades. O vilão é necessário na novela, ou ela fica chata que só. É em torno dele que gira toda a trama, é por ele que os semelhantes se unem. É graças a ele que qualquer união é possível. Espécie de pacto de linchamento.
Vamos malhar o Judas!!!
E está feita a união do povo.
E não é só com Judas que essas coisas acontecem não. Afinal, quem se lembra de um tal de Barrabás que fez todo mundo atirar pedras no "doido" que dizia prá quem quisesse que ele era filho do "Ômi"???
O próprio Bush deve agradecer até hoje ao Osama pelos aviõezinhos nas torres. Foi assim que ele conseguiu que sua nação se unisse contra um inimigo, e parasse de olhar prá ela própria e prá tudo o que acontece ao seu redor - tá aí o gelo derretendo a olhos vistos que não me deixa mentir.
Vamos atacar os talibãs! Conclama ele, e o espelho perde assim sua função. Ninguém precisa se olhar. Basta olhar os inimigos e caprichar na mira.
Agora a provocação: O diabo é mesmo tão feio quanto o pintamos? Como conseguimos essas cores?

sábado, 28 de julho de 2007

LIGA NÃO. É SÓ PSICOLÓGICO


Lembro até hoje de umas frases que a gente escuta, e sai repetindo por aí, como se fossem a mais pura verdade.
Uma delas que me faz até rir é a seguinte:
"Frio é psicológico!"
Fico imaginando o fim da primeira guerra mundial, com os soldados congelando na Rússia, e fazendo ohnnnnnnnnnnn prá pensarem em outra coisa. Afinal, frio é só psicológico.
E o psíquico acaba ficando com o mesmo status de mentira. Espécie de Bicho-papão, Saci, monstro do armário. Se você não acreditar, ele desaparecerá.
A parte engraçada dessa história é a contradição em que cai esse conceito. Afinal, passa-se a vida valorizando o racional, em detrimento do emocional - como se fossem antagônicos -; mas na hora de dizer que alguma coisa é psicológica, ou meramente psicológica, o mental tem sua total desvalorização.
Isso não se dá só com o frio.
Hoje a gente sabe que a maioria das doenças tem uma ligação profunda com o estado emocional das pessoas. Mas a simples palavra "psicológico" remete a uma temática tão fabulosa, tão fantasiosa, que fica parecendo invenção de quem sente.
Tá aí o tal do sistema que fica nervoso que não me deixa mentir.
E o que mais está nesse mundo da psiquê que é tão deixado de lado? Que é tão desacreditado? Que não é levado à sério?
Arrisco aqui que nesse mundo coexistam, juntinhos, o frio, o medo, a fome... e os fantasmas, os sonhos, os desejos,...
Ah... Os desejos!!! Esses sim, dão um trabalho danado! Melhor nem olhar direito. Melhor virar a cara. Tapar os olhos, como crianças diante de cenas proibidas na tv.
será?
Será mesmo eficaz? afinal, até a dita louca da Estamira, a homem par (quem não viu o filme, corra), afirma com todas as letras:
"Tudo o que é imaginário existe, é, tem!"

segunda-feira, 23 de julho de 2007

ONNNNNNNNNNNNNNNNNN

Vez em quando um e outro me chama de louca por aí, dizendo que estou profanando a psicanálise, ou que o Freud ficará muito revoltado onde quer que ele esteja, ou ainda que virtualmente não saberei quando o paciente vai mentir e coisa e tal.
Me defendo fácil. Afinal, o que, hoje em dia, a gente não pode fazer usando o computador?
O próprio Freud fez umas análises um tanto não convencionais, usando cartas como instrumento, e analisando criança através do que o pai dizia dela, então pergunto aqui, qual a diferença?
O que ele ficava sabendo dos pacientes era só a parte que lhe chegava. Não importava muito se era mentira, verdade, fantasia ou distorção.
Se era o enfoque "X" que lhe era narrado, como sendo a verdade adotada pelo paciente, este então devia ter uma importância considerável.
Quanto a ser chamada de louca, confesso que nem me importo. Acho que até gosto.
Ser sã o tempo todo cansa. além de ser demasiadamente chato.
Fico pensando no próprio Freud sendo vaiado em suas convenções, xingado de lunático, pois ousava dizer tudo o que disse,inventando teorias 'descabidas' e revolucionárias.
Claro que não faço odes à loucura aqui, mas chamo atenção pro ousado, pro diferente, pro fora dos padrões, e de como ele pode mudar o mundo, movimentar, causar reboliço e vontades.
E tem um monte de críticas sobre a análise on line, se ela é válida ou não. Se 'dá resultados' ou não.
Mas não serão essas críticas relativas a análise em si? Seja ela on ou off line?
Parece que há uma força tremenda contrária a esse movimento causado por mexer nas forças ocultas do inconsciente. Como se ele tomasse de conta e deixasse o ruim aparecer.
Só que tem um detalhe fundamental: o que é bom também vem à tona.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

BALA PERDIDA


eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesmo

Cantava o Cazuza pela madrugada afora, tentando convencer todo mundo que aqueles cortes na carne, aquelas doses a mais, aqueles beijos sem destinatário só feriam a ele mesmo.
E tá institucionalizada a bala perdida.
Não começou com Cazuza. Claro que não.
Isso é veeeeeeeeeeeeelho!!!
Talvez venha até da Bíblia. Por que não?
Afinal, quem foi que acreditou que era prá amar não só os amigos, como os inimigos também? Quem segue a risca eu já não sei.
Mas que a confusão está formada, isso está.
Achei interessante ressaltar o contrário aqui. O ódio aos amigos, a porrada no ser amado, a agressão à família - não a que cola com tradição e propriedade, mas aquela que a gente tem afinidade mesmo.
Inimigo não aguenta tapa. Ele revida. E feio. Já os eleitos... Tadinhos. Eles têm que aturar cada coisa.
Ôpa. Será que é por aí? Prá não bater em todo mundo na rua, prá não dirigir a agressividade prá quem incomoda, prá não sair bicando os outros de torto à direita, a gente acaba "porrando" quem tá perto e nos mostra algum afeto?
Então não é só o Cupido que é ruim de mira. Nós também.
Mas é complicado mesmo esse negócio de atirar no alvo. Até em discussão de rua fica sempre uma frase que poderia ser dita, mas que na hora a gente nem pensou. Prá não perder a frase, ela acaba saindo na hora errada. Com a pessoa errada. Com a consequencia errada.
E pensando aqui em justiça divina, não será uma grande injustiça tratar todo mundo igual?
Amar inimigo, odiar amigo, convidar chato prá festa - TEM que amar o próximo -, aturar quem a gente não suporta, machucar filho prá atingir ex... Prá que?
Ah é... Mandamento né?
Mas pensando assim só dá prá chamar o Nietzsche. Prá distribuir bananas por aí.
Será que uma mira melhor ajuda?
Um dia eu te conto...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

"NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA"


Essa é a frase mais famosa de Drummond. Apesar de tudo o que ele já fez, todo mundo sempre pára na pedra do meio do caminho.
E fica ali, estático, sem pular a pedra, sem tirá-la do caminho, sem desviar dela, ou mesmo sem continuar o percurso olhando pro céu, nem aí prá pedra alguma.
A pedra estava lá. e estagnou o percurso. Virou obstáculo consideravelmente enorme, já que impediu todo mundo de continuar.
Contra a pedra não tenho nada. Como a pedra há a árvore, o córrego, o prédio, o sinal de trânsito, a moça bonita, o pivete,..., tudo no meio da estrada. Enchendo de novidade o dia.
Mas por que parar por causa da pedra? E deixar de aproveitar todo o resto?
É uma pergunta importante, que talvez nem todo mundo se faça.
Afinal, a gente empaca o tempo todo...
Essa paralisação rochosa não é feita assim tão de caso pensado, não.
Ela tem vários nomes, e o mais usado pode ser "resistência", o que em psicanálise é a força teoricamente contrária à do analista. Aquela que o sujeito faz prá continuar recalcando, prá deixar longe dos olhos e da percepção o que possa vir à tona causando reboliço.
Em suma, enquanto a análise faz um esforço danado para trazer à consciência o que ficou inconsciente, a resistência, ou a pedra no caminho, faz o esforço contrário prá fechar no baú, no fundo do mar mais fundo, o que foi recalcado.
É como espécie de placa de trânsito dizendo prá gente parar.
Não avance! Se mexer, pode doer.
E nem chegar a um texto até o final a gente consegue. Pára numas coisinhas às vezes tolas, às vezes sem importância nenhuma, só prá não ter que falar ou ouvir sobre um assunto.
Tá lá a pedra estendida no chão (que me perdoe João Bosco). Prá evitar sentir ou lembrar; para, a princípio, proteger o homem, acaba empacando-o, paralizando-o, só prá ele continuar ali, parado, estático, diante da pedra.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

SOU TODA OUVIDOS



Tem uma frase importantíssima do Winnicott, aquele pediatra-psicanalista-inglês que já comentei, que diz o seguinte:
"O bebê não existe!"
A princípio ela choca um pouco, pois para alguns já remete à imposição de força, como se ele, o bebê, fosse mero joguete na mão de adulto.
Até parece né?!? A gente sabe muito bem que um bebê se esgoela e berra mesmo, de verdade, "dicumforça", quando alguma coisa não agrada.
Então voltemos à frase.
Winnicott dizia que um bebê só pode existir, e saber disso, se tem os cuidados adequados. Senão, ele só reage, ele só sobrevive, ele só... é só. Ele nem é.
Lembrando disso, me vem à mente uma crítica de um palestrante muito prático, que de tão prático chegava a ser... deixa prá lá.
Dizia ele que psicanálise - e no mesmo saco a psicologia, a religião, o aconselhamento da vizinha,etc, - não serve prá nada, pois a resposta a gente tem que achar sozinho.
Eu só fico imaginando que pensamentos, que respostas são essas que a gente supostamente acha sozinho. Já que sozinho, como o bebê aí de cima, a gente pouco sai dos coeiros. Não há relação, conversa, riso, choro, vela, quiçá fita amarela. Não há caminhos outros. Há só a repetição. O mantra de um si mesmo um tanto pobre, pois não sabe trocar.
A gente faz de conta que dá conta de tudo sozinho, e vai seguindo o caminho, andando pela rua, assobiando, mão no bolso, dizendo "Eu me basto! Eu me basto!"
E pára na banca de jornal e dá de cara com um monte de revistas ensinando a viver, a discutir relacionamento, a tratar pais, filhos, cachorro, papagaio... E nem se dá conta de que aquelas técnicas só servem pros últimos, os que não vão contra o que a gente fala, pois a única coisa que são capazes de fazer é repetir.
Mas tem uma coisa que escapa à nossa percepção. Todos esses "vida, modo de usar", sem exceção, falam de diálogo. Numa tradução grosseira, é uma lógica prá dois. Não a lógica do maior, do mais forte, do mais chato, do que fala mais, do que chora, do que bate,... Mas uma conversinha que conte com pelo menos dois pontos de vista.
O que implica em, no popular, seguir à risca o ditado do "quando um burro fala, o outro abaixa a orelha."
E isso, definitivamente, não é prá qualquer um - ou qualquer dois.
Geralmente, quem propõe o tal diálogo pensa algo como "vou expôr meu ponto de vista e ele, o outro, vai entender e mudar." Mas aí vem a resposta, que estraga tudo. O outro também quer mudanças, também quer falar, também quer ser ouvido.
E eu daqui pergunto o porque de ser tão difícil ouvir e ser ouvido?
Bom, acho que já falei demais...
Tô esperando sua vez. Afinal, o sem orelha aqui é só o Van Gogh.
Eu?
Sou toda ouvidos.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

JOGÃO DECISIVO


Prá "aprender" fácil, fácil pro vestibular, a gente decorou os movimentos literários como espécie de choque de gerações. Se um é racional, o seguinte só pode ser emocional, e o conseguinte racional de novo. E ficou uma espécie de contradição entre essas duas maneiras, como se elas jamais se coadunassem. Como se a existência de um fosse o pressuposto prá ausência do outro.
O emocional acabou sendo pejorativamente chamado de irracional. E toma-lhe ataque.
Ficou no inconsciente uma espécie de vale tudo. De guerra entre torcidas, a qual só se pode pertencer a uma delas.
Se é flamengo, odeia o vasco. Se é palmeiras, odeia o corinthias. Se é grêmio, odeia o colorado... e a recíproca é certeira, só muda o estado e o time.
Uma relação entre os dois é impensada, já que em sua "natureza" eles são opostos.
Mas desde quando começou essa guerra entre mente e corpo? Entre o racional e o emocional?
E ela serve prá que, afinal?
Na época do Descartes, aquele que nos dividiu em 2, dava prá entender.
Ele jamais poderia dissecar bichinhos vivos se dissesse que eles têm alma. a Igreja não permitiria. O Estado não permitiria. Tinha um propósito. Alma é só pros humanos. O resto é instinto. É irracional. Deve ser suprimido, abafado, ou pode causar sérios problemas.
Mas e hoje?
Por que a briga continua? Por que o que não é consenso é louco?
OU será que louco é tudo aquilo que discorda de mim?
E quem é o Napoleão nessa hsitória?


A foto acima é uma provocação deliciosa. Afinal, os instrumentos do racional suspendem o irracional e o deixam de pernas pro ar. Sem uso. Sem ter como fazer nada.

domingo, 1 de julho de 2007

O FOGO DE PROMETEU


"A gente pode
morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos´
e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode
dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode
olhar em volta e sentir que tudo está
mais ou menos.
Tudo bem.
O que a gente não pode
mesmo, nunca, de jeito nenhum,
é amar mais ou menos,
é sonhar mais ou menos,
é ser amigo mais ou menos
e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar
uma pessoa mais ou menos..."

Chico Xavier

Esse poema me lembrou a história de Prometeu. Aquele que moldou os seres humanos com argila, e roubou o fogo do Olimpo para dar vida aos vivente. Gustav Schwab narra o mito assim
"Foi assim que surgiram os primeiros seres humanos, que logo povoaram a terra. Mas por muito tempo eles não souberam como fazer uso de seus membros, nem da centelha divina que tinham recebido. Embora fossem capazes de enxergar, nada viam; ainda que escutassem, não sabiam ouvir. Vagavam como vultos de sonhos, e não sabiam utilizar-se da criação... Rastejavam como formigas em cavernas que a luz do sol não iluminava, sem saber se era inverno, primavera ou verão."

É mais ou menos assim que anda boa parte da humanidade. Aquela que se protege de sentir. Com medo do incêncdio, acabam não acendendo nem um fósforo que lhes ilumine ou aqueça o peito.
E fica realmente difícil achar algum sentido pros dias, quando a mediocridade impera. Quando a ausência de vitalidade preenche mal e porcamente os espaços vazios, e a hipocrisia começa a tomar lugar como se fosse "o natural".
Falta fogo.
Falta vida.
Falta afeto.

Mas dá prá mudar isso. É só promover um atrito com pedrinhas. Um encontro de faíscas vira um incêndio digno de ser muso de Nero.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Idade?

O menino gritava. Esperneava. Xingava. Chorava.
Eu atravessei a rua para ver o que era aquilo, numa curiosidade de atropelamento. Até que pude ver uma agressão total. Um adulto, funcionário de uma farmácia, revirando o menino como se ele fosse uma colcha, a qual se sacode em busca de algum objeto perdido.
O adulto enfiava as mãos dentro da roupa do menino, e procurava.
O quê?
Nem ele sabia.
O objeto perdido simplesmente não existia. O que havia ali era demonstração de quem mandava, de quem podia subjugar o outro. E o atendente ganhou. Teoricamente cumprindo seu trabalho da "melhor" maneira possível.
O menino?
Ahhhh. Prá muita gente nem era mais menino, apesar de seus 12 ou 13 anos. Era só um monstro, que deveria ter maioridade penal, e ser enquadrado em qualquer crime prá poder ser isolado e nunca mais incomodar.
Ao mesmo tempo leio nos jornais o pai de um jovem espancador de mulheres defendendo-o como se fosse uma criança.
Seu crime? Segundo o pai foi o de ter errado ao julgar que uma empregada doméstica fosse mera prostituta.
Como se bater em prostitutas - ou em qualquer pessoa - fosse atitude até louvável.
Ironias a parte.
Minha pergunta é só uma : classe social determina a idade agora?
É que quando aprendi a contar, vi que o ano era composto de 365 dias, com exceção dos anos bissextos. Agora vejo que isso não tem muita importância. Já que um garoto de 12 anos pode ser monstro "di maior", e um monstro de 19 é só uma criança.
E vem um monte de teorias dizendo como os pais deveriam agir antes, de como deveriam controlar e se informar. Mas pergunto aqui: Será que não estamos esperando bom senso de pais que simplesmente não têm isso prá oferecer.
Ao contrário, pelo visto o que esses pais passam para os filhos é uma divisão do mundo muito pobre, como se houvesse 2 times. Os que batem e os que apanham. Os que são servidos e os que servem. As "crianças" e os índios, mendigos, domésticas, prostitutas, trabalhadores, bancários, camelôs, garçons, vendedores,...
Então, passar aquelas noções de respeito, de certo e errado, de justiça, fica realmente muito difícil.
E restam crianças. Apodrecidas em corpos de adultos. Fedendo. Putrefatas. Brigando até hoje pelo brinquedinho que nem querem. Ou que querem destruir.
Deve ser muito triste crescer e continuar criança assim, sem conhecer nunca o que seja o outro, sem se emocionar com o pôr do sol, sem experimentar carinho, respeito, companheirismo, ou qualquer sentimento mais nobre do ser humano.

sábado, 23 de junho de 2007

AINDA NÃO


E o sujeito se vê completamente desesperado, despreparado, nu, diante da platéia afoita...
Quem nunca ouviu falar, ou mesmo nunca sonhou com algo parecido?
A interpretação chega a ser óbvia. Como se ainda tivesse que fazer alguma coisa antes de se lançar em alguma atitude importante. Como se, literalmente, o sujeito não estivesse pronto.
Mas aqui, na vida irreal, é diferente.
Vida irreal, sim, já que ela conta meio como ensaio, como preparação, como rascunho prá uma vida que nunca chega.
E vêm uns raciocínios engraçados de gente muito inteligente, mas que se acha completamente "despreparada". É o caso de quem não vai à praia porque está muito branco... De quem arruma a casa pra chamar a faxineira. E não chama nunca, pois ainda não arrumou... De quem precisa resolver um problema que dura 30, 40, 50 anos para então começar a fazer análise...
Tá certo, parecem desculpas esfarrapadas à primeira vista. Mas não são, não. Essas histórias só falam de quanto as pessoas acham que ainda falta muito treino, muito curso, muita pós, para poderem começar a fazer qualquer coisa.
Tem um despreparo aí que é primitivo, ancestral, talvez mostrando até uma exigência de atitude num momento em que elas realmente não poderiam tomar atitude alguma... Quando ainda engatinhavam pela casa e se cortavam em cacos humanos adultos espalhados pelo chão, sem a menor idéia de como desviar ou colar aquilo tudo.
Eu sei, cada caso é um caso. Nem quero aqui ficar inventando personagens e motivos prováveis de essas sensações existirem.
Só ressalto aqui a resistência que se tem em não se mover, como se fosse rebeldia, como se fosse a resposta tardia...
Mas essa resposta atinge a quem, afinal?
Então fica combinado assim: eu espeto aqui com meu tridente, e você começa logo essa análise. Seguro sua mão e você vê que pode, ok?
Ligue jah!!!


Se você achou o telefone da foto antigo - sim, isso é um telefone - olha só prá idade do seu problema...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

SE ENTREGA, COURISCO!


Não pretendo tornar esse blog um pequeno diário, mas tem umas coisas que ficam na cabeça, e fazem pensar, e causam tanta coisa, 'tantas emoções', que seria até mesquinharia minha não dividir com ninguém.
Outro dia comi um negócio na rua que me fez realmente mal, e eu me contorci por uns dias outros até passar o mal estar.
Ajoelhei, pedi aos céus, pedi perdão, prometi que nunca mais, arrependi até da maçãzinha que nem fui eu que comi...
Até que mudei o foco.
Levei a família ao cinema!!!
E fui eu, verde tal qual uma ogra, ver Shrek Terceiro.
Cheguei lá ainda mal. E começou o filme.
Não tive dúvidas. Peguei a mão de meu filho e segurei bem forte. Vi o filme e, quando dei por mim, gargalhava alto no cinema. Totalmente entregue aquela cena, ridícula que só eu, citando Roberto Carlos no melhor dele: "Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo!" (tomara que Ele não me processe).
Voltei prá casa curada. Parei de prestar atenção só no meu umbigo - literalmente - prá atinar prá troca de calores que eu vivi, cantarolando a música de BNegão e tomando como ensinamento sua máxima, que, a princípio, parece uma redundância, mas que aos olhos mais atentos, é um ensinamento e tanto: "Priorize a prioridade!"
Pois bem, achei de falar disso aqui por causa da dificuldade que a gente têm de se entregar às coisas boas. De se entregar a uns momentinhos que deixam a vida menos chata, menos pesada...
E fica uma ameaça pendente como se, ao se entregar, a gente perdesse um pouco de si mesmo.
E realmente perde, sim.
Perde o controle, perde a sisudez, perde até a hora da novela.
Mas ganha tanto em troca.
E é justamente aí que tá a graça.

Aceita essa contradança?
É só se deixar levar. Como naquela festinha em que vc ainda era criança, lembra? E pôde dançar com a menina que, para você, era a mais linda. E seus pés levitavam... e você nem sabia mais seu nome. Aliás, prá que nome?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

ASSIM É SE LHE PARECE


Que o Cupido é moleque safado, sacana que só ele, ruim de mira que só os diabos e ainda por cima bêbado, torto, debochado,..., disso todo mundo sabe.
Que o amor é cego, e que ele seja também meio obtuso, meio tapado, meio burro até, disso pouca gente duvida.
Que Santo Antônio, afogado em copo d´água de cabeça prá baixo, mostra na prática os fenômenos estudados nas aulinhas de física - aquelas que ninguém entendia nada - exemplificando o que seja a refração, isso também é fato.
Santo Antônio não consegue traçar uma reta naquelas condições, talvez por isso a gente veja por aí cada parzinho de arrepiar... Decerto que tem um pacto, mas daí a esse pacto ser de amor ou felicidade; isso já é outra história.
Ok, ok, a gente pode dar o nome que for, tentando justificar as escolhas amorosas, o mau gosto, a sina de se envolver sempre com gente muito parecida. E responsabilizar os santos ou deuses, a cachaça ou a miopia quando nos for conveniente.
Mas explicar prá quê?
Prá quem?
Afinal, a parte interessada no assunto é inequivocamente a nossa.
Será que não tem nada além dessas escolhas?
Na psicanálise, o nome que a gente dá a tudo isso que justifica nossas miras um tanto toscas é um só: Inconsciente.
Sim, é ele quem decide o que fazer quando a gente acha que se entregou à emoção e não pode mais decidir nada.
É essa escolha aparentemente sem escolha - dizem que a gente não escolhe por quem se apaixona - que questionamos quando o tema é o amor, é o alvo do Cupido, esse menino zombeteiro que faz das suas quando resolve atirar sua flechinha.
Por que será que aquele brilho nos olhos, que aquela frase exatamente naquela hora tornou-se tão decisiva a ponto de elegermos alguém prá ser o depositário do bem mais precioso que podemos doar?
Deixemos Freud quieto. Nada de explicações. Elas são racionais demais prá falar de sentimento. Não servem.
Mas a gente pode investigar o Inconsciente. E pesquisar que sentimentos são esses, que emoções são essas que se constróem justamente quando presenciamos um determinado acontecimento - e queremos participar da cena.
Vamos pesquisar juntos?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

TODO MUNDO VAI AO CIRCO... MENOS EU.


Day after de dia dos namorados!!!
Para uns, foi só uma terça feira como outra qualquer. Pra outros, vivência de propaganda de margarina. Para outros ainda, o pior dia do ano. Dia de crise séria. De achar que todo mundo tem. Menos eu.
Parece que o verbo pro Valentine´s day é esse. Ter. Como se um realmente tivesse o outro. Como se o possuísse. Como se o namoro fosse um contrato de posse de direito.
É tudo com pronome possessivo. O meu namorado. A minha namorada.
E quem não tem... É pobre.
Fica pedindo nos sinais um olharzinho que seja, prá poder se sentir menos miserável nesse mundo que ama.
Mas e o verbinho? O que ele tem a ver com amor, afinal?
Dia desses fui ao cinema relaxar e saí de lá tomando dorflex pra dor nos ombros. O filme? Baixio das bestas. Fortíssimo. Mostrando um Caio Blat nada mocinho da novela da tv, que tem na força bruta o seu instrumento.
Atinei pruma questão talvez interessante, que é como as pessoas lidam com aquilo que não conseguem dominar. Nesse balaio a gente encontra o amor, o tesão, o desejo, a amizade até... E esses sentimentos vão tomando conta, mostrando que somos nada, derrubando nossa prepotência de achar que podemos nos organizar e planejar tudo com muita antecedência, pois nós agora, diante desses sentimentos, lidamos obrigatoriamente com o outro.
E nesse não saber o que fazer para 'manter o controle', vem o descontrole total. A tentativa de dominar e apreender esse outro que é objeto de nossos impulsos até o momento da posse absoluta. E, não raro, da morte.
Fica meio como cegar os olhos mais bonitos, pra que eles não vejam mais ninguém.
Ao invés de admirar, obter, até talvez sua destruição.
Não mais contemplar o vôo dos pássaros. Nada de vôo duplo. Afinal, eles aqui na área de casa, em sua gaiolinha, são tão singelos...
Claro que há os casais que se amam. Que dão a mão e caminham juntos. Que são cúmplices e sócios e admiradores mútuos...
O tema aqui é outro. É a posse. É o ter confundido com o amar. É o apreender lido como troca.
Por que diabos o entrelace desses conceitos é tão fácil? Talvez pela própria linguagem do amor ser confusa em sua natureza. Afinal, quem consegue pronunciar uma frase com sentido, lúcida, sensata, quando se é tomado por essas coisas do outro mundo?

E viva Santo Antônio!!!

domingo, 10 de junho de 2007

ESCANINHO SÓ PROS MEUS


E vira e mexe chega um me pedindo um diagnóstico preciso. Pois, segundo ele, assim será mais fácil tratar. A comparação é como a de um dermatologista, um especialista em determinado assunto que, infelizmente, se especializa tanto em um que esquece todos os outros.
E essa comparação não é só pro médico, não.
O Freud dizia que usava as patologias como lente de aumento prá estudar as características humanas. A princípio parece estranho isso, como se tivéssemos características "anormais", insanas, o tempo todo. Mas um olhar mais detalhado pode nos oferecer até um certo alívio, afinal, ninguém precisa ser de um jeito só o tempo todo.
E era isso que o barbudo afirmava. Que o problema maior surgia quando congelávamos num só aspecto da personalidade, cristalizando-a, e esquecendo todo o resto, todas as outras possibilidades de estar no mundo.
O filósofo Gilles Deleuze, por sua vez, levantou a questão da saúde em termos de uma personalidade nômade. Isto quer dizer que para levarmos a vida de maneira saudável, ao invés de nos firmarmos em um diagnóstico preciso e muitas vezes aprisionante, melhor seria se encarássemos a personalidade de cada um - inclusive a nossa - como transitória.
A multiplicidade impera, nessa sugestão de bem viver, como única possibilidade de saúde.
Olhando assim de banda, rapidinho, só correndo os olhos, parece realmente fácil. Não fosse a simplicidade a meta mais complexa de se alcançar...
Mas o que chamo atenção aqui é para a possibilidade. É para o poder ser outro como um aspecto saudável do ser, fugindo ao que chamamos patologicamente de 'duas caras', de 'maria vai com as outras' ou de mera volubilidade, quando acenamos com a hipótese de se mudar de idéia. De se mudar de posição e estratégia quando a que teimamos em utilizar simplesmente não dá mais conta.
E então?
Você vai ficar aí parado?

quarta-feira, 6 de junho de 2007

MEIO ASSIM, ASSIM...

- Ele tinha um jeito assim, metade irresponsável, metade homem de negócios.
Metade baiano, metade novaiorkino,
Metade forte, metade ranzinza,
Metade bailarino, metade corsário,
Metade ladrão, metade justo,
Metade jazzman, metade muito brega,
Metade clássico, metade da moda,
Metade poeta, metade lenhador,
Metade Sílvio Santos, metade Burroughs,
Metade depressivo, metade chave do manicômio,
Metade febril, metade volta ao mundo,
Metade inconsequente, metade casadoiro,
Metade viril, metade flor de maio,
Metade herói, metade fujão,
Metade sonho bom, metade filme classe z,
Metade...
Metade...
Metade...

- Alto lá... Quantas metades têm esse ser afinal? Duas não formam um inteiro?
- E quem foi que disse que ele era UM SÓ?

sábado, 2 de junho de 2007

PREGUIIIIIIIIIIIIÇA...


O céu branco. A chuva caindo forte sem anúncio de estio. Tempo bom prá se fazer... NADA.
Amanhã eu vejo isso. Amanhã eu levanto. Amanhã eu dou um jeito nessa bagunça que virou a miha vida.
Mas hoje?
Com essa chuva?
Não é dia bom prá mudanças drásticas. Vai que os astros nem queiram que eu me mexa logo hoje... Afinal, se mandaram uma chuva dessas, devem ter um bom motivo prá isso.
E o tempo, de assunto de elevador, passa a ser a desculpa mais que aceita prá gente não mover nem um músculo além do estritamente necessário.
Mas esse fenômeno econômico não ocorre só aos sábados de chuva, não.
É curioso como na análise a gente se depara com essa obnubilação do dia, invisível a olho nu, que acontece mesmo no verão, mesmo com sol a pino.
Chove dentro d´alma. De janela aberta. Molha tudo.
E a desculpa do tempo é usada de novo.
"Não estava no clima".
Resolvi esperar passar o tempo, prá ver se nem preciso mexer nisso, prá ver se fujo do assunto que incomoda mais uns dias, prá ver se ele se resolve sozinho e eu nem tenha que sair do meu cantinho.
E a gente percebe que quanto mais as pessoas precisam da análise, quanto mais estão próximas a um passo fundamental em suas vidas, o único passo que conseguem dar é para trás. É o que mantém tudo aquilo com o que já estão acostumadas.
A fuga é anunciada. Esperada até.
Sem muita novidade, sem muito pôr do sol, mas sem ter que gastar muita energia remexendo em armários velhos. Escolhendo o que ainda é útil e o que nem serve mais.
O mofo às vezes impera. Toma conta de tudo.
Mas com essa chuva... ninguém há de reparar.
Você pensa daí:
Ninguém vai notar.
Só eu.
Só eu sei como ando correndo de qualquer aceno de possibilidade de eu mudar minhas queixas.
E não mais precisar delas...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

DITADO


E entrava tia Maricota na sala, anunciando o ditado.
Ela ditava, e a gente escrevia. Ai de quem partisse prá licença poética.
Passa o tempo, e a ditadura continua. Como se fosse incontestável. Como se fosse a mais pura verdade, incapaz de ser derrubada.
Acho que é o Millor que diz que tudo de importante está em Shakespeare ou na Bíblia. Se não for, me corrijam. Eu realmente esqueci essa informação. E acho mesmo que tenha um certo propósito em não citar nomes nesse texto. Fica mais real.
Mas o pobre do Shakespeare, coitado, depois que foi parar em Hollywood e se apaixonou, perdeu completamente a credibilidade. Tornou-se humano. Mortal.
Sobrou a Bíblia. Mas prá não dizer que ficou só uma fonte de verdades absolutas, a gente apela pros ditados também. Afinal, quem haveria de ser contra?
Se o ditado diz, é porque é. Ponto final.
Vez em quando ouço umas frases dessas "ditando" as vidas das pessoas, e sendo levadas a sério de tal maneira que fica difícil quebrar essas certezas.
E a impossibilidade de ser feliz toma conta dos seres mais afoitos, sempre esperando um osso prá roer depois de comer a carne.
Resultado: Com medo do tal osso, a carne fica lá, apodrecendo, intacta...
A ira divina é algo a se temer. E a vontade do povo é a vontade de Deus. Daí os ditos populares serem tão respeitados.
Parece samba do crioulo doido né?
Mas não. Só ressalto aqui as associações que acontecem sem a gente perceber. E com elas, a obediência e o respeito que temos a umas frases que de vez em quando não fazem o menor sentido, mas que a gente segue como se fosse A Lei, a norma mais seguida em termos de regras de como viver a própria vida.
Ninguém pula o muro. Ninguém compra o guarda. Ninguém foge do inspetor. Ninguém cerra a grade.
Ao contrário. Faz-se de tudo para que o ditado acerte, a profecia dê certo, a previsão vingue.
Pelo menos assim pode-se acreditar em alguma coisa.
Infalivelmente!!!

sábado, 26 de maio de 2007


Tudo bem...
Fico falando aqui sobre o silêncio, e sobre ficar sozinho consigo mesmo... Mas esqueci de mencionar como isso é difícil e trabalhoso - quiçá até doloroso.
Mas a gente pode ir prá teoria, e ficar mais racional, assim não dói tanto falar disso tudo.
Winnicott, o pediatra-psicanalista-inglês, escreveu um texto muito bom que falava da capacidade de estar só.
Segundo ele, essa capacidade era aprendida, e eram precisos alguns requisitos básicos que, a princípio, se mostram controversos.
Ele afirmava que, para que uma criança seja capaz de ficar sozinha, ela deve experimentá-lo na presença de alguém. Confuso né? A princípio sim. Mas não quando a gente pensa nas crianças brincando, e na presença de algum adulto que lhes seja importante ali, para lhe assegurar a existência, para lhe afirmar que ela não foi abandonada, que alguém a respeita em sua vontade de brincar, sem interferir na brincadeira, mas nem por isso sem deixá-la de lado, fica mais fácil entender.
O 'estar só' muitas vezes é tão difícil por essa associação com o abandono. Com o "ninguém me ama, ninguém me quer", e não faço falta prá ninguém. E talvez tenha sido assim que a maioria das pessoas tenha experienciado essa sensação de estar sozinho. Como se o resto do mundo representasse uma ameaça terrível, já que não há ninguém para dar a mão na hora que for preciso.
A imagem que me vem a cabeça prá falar disso e da criança perdida na praia, como se nunca mais fosse achar os seus, como se de agora em diante tivesse que mudar de vida, pois seus pais lhe fugiram da vista.
E ela tem que enfrentar a multidão fazendo muito barulho para ser novamente encontrada.
É isso...
Mas a solidão não precisa ser esse EU X resto do mundo, não.
Às vezes basta um aceno, basta um sorriso, basta um olhar, prá gente continuar a fazer os nossos castelinhos na areia.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

FALÁCIAS II - REVANCHE

Conheço um caso de uma pessoa que tinha tanto pavor de ficar sozinha, tanto medo do silêncio, tanto pânico de se encontrar consigo mesma, que ao acordar, já de cara, ligava som e TV ao mesmo tempo. E ainda fazia uma vitamina, só prá ter um barulhinho a mais, o do liquidificador, para lhe fazer companhia.
Exageros didáticos à parte, mas vocês nunca ouviram nada parecido?
É que o corte profundo do silêncio dói na carne, às vezes.
Fica meio um medo de redação tema livre. Lembram disso?
"Ué, folha em branco, professora? Mas eu mesmo que vou escolher o tema? Assim não vale."
E vem o pânico.
Mas o silêncio fala tão alto, tão alto, que chega a ser confuso lhe dar ouvidos. Tantas vozes... Tantas falas... Que o contato com o que se pensa chega a ser paralisante. Talvez daí venha a necessidade de fazer um barulhão. Prá preencher espaços. Prá encher logo a folha branca e não lidar nunca mais com o vazio. Prá fugir da solidão - palavra mais que associada ao silêncio. E que acaba, por isso mesmo, provocando uma ameaça de dor mais doída que a própria.
Mas preencher o silêncio com palavras tantas será realmente eficaz?
É que acaba ficando meio sem sentido fugir do silêncio e pôr no lugar um monte de coisas que nem sempre se pode aproveitar. Só prá não se sentir só.
Às vezes o grito é necessário. Noutras não.
Basta um olhar prá dentro. Sem medo. E descobrir tanta coisa que ainda pode vir a ser. Que ainda pode surgir.
Até prá poder mediar bem e prestar atenção em de quem é a voz.
Se nossa.
Se de alguém que a gente tomou emprestado só prá não dizer nada. Ou prá ter o que falar...

Não é que quando escrevia sobre o silêncio saiu tudo do ar... E fiquei muda. Maldição.
Assuntos ocultos dão nisso.
Mas quero ver quem escuta o grito do Munch agora. Parece grito de sonho. Não sai nada.

sábado, 19 de maio de 2007

FALÁCIAS


Tem gente por aí me perguntando se psicólogo pode sair falando o que pensa, o que acha, dando opinião, parecer, etc, de torto à direita como eu tenho feito.
antes de responder, talvez outra pergunta: Psicólogo pode ter dor de barriga, fumar, beber, dançar, brigar com o namorado ou dormir na praia?
A resposta é um sonoro SIMMMMMMMMMM!!! Desde que não perca a hora da sessão de seus pacientes.
Até porque, antes de escolher profissão, eu já era!
Já era alguém que pensava, achava, tinha opinião, parecer, dor de barriga, vontade de dançar, etc, de torto à direita.
O tempo passou, eu mudei de ideia inúmeras vezes. E hoje fico crente que sou colunista quando escrevo aqui.
Charles Bukowski, o velho safado, tem um livro maravilhoso publicado postumamente no qual ele afirma que ao chegar aos 70 anos de idade não precisa mais ler e reler seus textos, e corrigi-los de acordo com o que ele espere da recepção do público. Segundo o mesmo, quando se chega aos 70, pode-se dizer o que quer e pronto.

Mas eu é que não espero tudo isso.

Aquela trava toda de não conseguir dizer o que pensa, o que sente, depois que a gente entra em contato com os porquês de tanta censura, não tem mais motivos pra existir.

Claro que durante o trabalho clínico a gente não fica nesse "achismo" todo. Ou ouvir o outro seria absolutamente impraticável. Como escutar se não calo a boca?
Impossível.
Mas o tempo todo a gente tá dizendo alguma coisa. Nem que seja com o olhar. Com o copo que escorrega das mãos justo naquele instante. Com a piada. Com o silêncio...
Daí o outro perceber e entender já são outros 500.
E o outro nem precisa estar tão longe assim para haver o som inaudível das multidões, confundindo e misturando todos os ruídos. Às vezes o que sai da boca destoa tanto da atitude que fica realmente complicado entender qualquer coisa. Tanto pra quem ouve quanto pra quem diz.
De vez em quando escuto no consultório a seguinte frase: "Fiquei pensando no que você me disse e resolvi fazer assim - assado".
Confesso aqui que não tem frase que me gele mais do que essa.
Medo total.
O que será que essa pessoa aqui na minha frente está dizendo que eu disse? E o que será que ela entendeu do que eu disse? E qual palavra da oração ela julgou ser a mais importante?
É engraçado, pois na maioria das vezes não fui eu que afirmei qualquer coisa. E sim a própria pessoa que queria atribuir a alguém a autoria de suas falas.
E como a culpa é da mãe, e na análise ela se transfere pro analista, fico com a fama fácil, fácil.
E isso não acontece por mal, não. Cada um enfatiza o que quer na comunicação. E isso ocorre dentro e fora do consultório.
Mas ultimamente acho que estou falando demais aqui.
E se a gente trocasse um pouquinho?
E se você aí começasse a escrever aqui prá mim sobre o que te aflige? Sobre o seu problema maior?
Prometo que faço de tudo prá entender e dou um retorno logo, logo.
Feito?

O que as fotos têam a ver com o texto?
Cada um associa como quer...

quarta-feira, 16 de maio de 2007

ANÁLISE? PRÁ QUÊ?

Eu fico aqui enchendo vocês de textos e não cheguei ainda a um ponto que pode ser crucial. Afinal, prá que é que as pessoas fazem análise? Quem precisa disso realmente? E serve prá quê?
Não é raro eu receber telefonemas tentando marcar sessões prá uma outra pessoa. "Não é prá mim, não. Eu não preciso disso. É meu marido, sabe? (filha, cunhado, vizinho, sogra,...) É ele que não se adapta a mim, ao meu desejo. Ele é o maluco da história."
Sim, há o estigma de que análise é coisa prá maluco, prá doido varrido, prá quem precisa se adaptar ao mundo. Mas não é bem por aí.
O Freud tentou ser pragmático e foi por eliminatória, descrevendo logo quem não precisava de análise, afirmando que esta era prá quem não tem as capacidades para o amor e para o trabalho.
Bom, lendo assim rapidinho, tá fácil.
Mas vamos dissecar essa frase.
O Freud não falou, em momento algum, em casamento, ereção, frigidez ou qualquer coisa assim. Ele foi claríssimo. Falou da capacidade de amar. De se entregar e de aceitar a entrega do outro. Só isso.
Mas nesse caso, o simples é, de longe, o mais complexo.
E o trabalho?
Reparem que a palavra 'emprego' não foi utilizada. É 'trabalho' mesmo. Executar bem algo que dê prazer e ainda renda algum trocado pro sustento.
A princípio parece fácil também, não fosse a gincana freudiana realizada simultaneamente.
Nada de arrumar um emprego e deixar o amor prá daqui a 40 anos, quando alcançar a estabilidade. Nada de viver só pro amor e esquecer do resto. Isso é um passo prá obsessão.
Mas tem gente que até consegue fazer essas duas coisas muito bem, sim. E vem o Winnicott, discípulo de Freud, pediatra e psicanalista inglês, e traz um instrumento novo à nossas divagações.
Winnicott sempre foi visto como pediatra, mas sempre atendeu adultos também em sua carreira de psicanalista. Ele percebeu que os problemas trazidos pelos adultos não eram assim tão novos, tão atuais, e acabavam refletindo alguma coisa lá de trás, como se houvesse uma falha, um queimar etapas no desenvolvimento, e faltasse alguma coisa que não se sabe muito bem o que é.
Ele percebeu então a importância da infância na constituição do sujeito, e declarou com todas as letras o que, na sua opinião, seria a função da análise: restituir a capacidade de brincar.
E você aí, da sua cadeira, pensa que quem está brincando sou eu, quando eu tomo como verdadeira a assertiva winnicottiana. Mas eu logo exemplifico. Veja o número crescente de deprimidos no mundo. Já reparou como tem gente que não sabe sorrir?
Fica um "muito riso, pouco siso" introjetados de tal forma que é até ofensivo você demonstrar um pouquinho de leveza que seja. E parece que o único sentimento que se julga aceitável é a angústia. Esta sim, coisa de "gente séria", "responsável".
Mas já que estamos nessa discussão, acho justo chamar o Ferenczi de novo prá dar seu parecer.
O Ferenczi se destacava na clínica por se diferenciar da postura comumente adotada pelos analistas em relação aos seus analisandos. Ele acreditava na empatia, no que chamou de 'sentir com', possibilitando que seus pacientes experimentassem e dirigissem a ele todo tipo de afeto, inclusive os negativos. E percebeu que, como no amor e na amizade,no ódio e na raiva havia muita força produtiva também, fugindo assim de qualquer tentativa de moldar o paciente, percorrendo um caminho inverso, o da descoberta e invenção do paciente por ele mesmo.
O que Ferenczi valorizava era a capacidade de sentir, independente do que fosse.
Não quero dizer aqui que análise é para nos tornarmos humanos, como se fosse um cursinho prá virar gente que fazemos quando temos tempo.
Mas é nesse passeio de investigação do inconsciente que podemos alcançar muita coisa, e nos permitir atos tão simples como se deixar tocar pelo que está ao redor.

"'Vamos fazer de conta que somos reis e rainhas.' E a irmã, que gostava de ser exata, argumenta que não podia ser, pois elas eram somente duas. Alice foi então forçada a improvisar: -Bom, você pode ser um deles, então, e eu serei todos os outros".

sábado, 12 de maio de 2007

JUVENTUDE TRANSVIADA - e sua mãe também!!!


Dia das mães!
Pensei muito num tema que não esbarrasse nele. Mas acabei caindo aqui na armadilha, correndo risco de ficar piegas, apelativa, ou até agressiva.
Não há nada mais simbólico de mãe do que o seio. Um abraço de seios fartos felinianos, que tantas vezes pode acolher, noutras tantas sufocar.
Lembrei de que nem todo mundo é mãe. Mas, com certeza, todo mundo é filho. E mais, todo mundo é filho e, por mais velho que seja, sempre acaba sendo tratado como moleque irresponsável, que ainda tem muito o que aprender na vida, e esquece sempre casaco e guarda chuva só prá chatear.
E chegando o assunto 'filhos' prá pertinho, pros tempos atuais, a frase mais usada que se ouve por aí é a mesma: "Essa juventude está perdida!"
(Nada a ver com pastor evangélico, que chama todo mundo de jovem. Ou "meu jovem", já atribuindo uma possessividade aí quanto à ovelhinha. Mas o "jovem" aqui é pelo simples fato de que, para as mães, os filhos são sempre imaturos demais.)
Quanto a isso parece não haver sombra de dúvidas. Vamos lá às críticas mais comuns: O jovem hoje modifica o próprio corpo a seu bel prazer, fica horas na internet com joguinhos e bate-papos que, a princípio não levam ninguém a lugar nenhum, sai por aí querendo mudar o mundo, e como se não bastasse, não pede opinião a ninguém, e ouve uma música que sabe-se lá como ela ganhou esse status.
Mas aparece uma questão aqui, que não me sai da cabeça.
Afinal, quando é que a juventude foi achada???
Quando é que ela se encontrou e fez exatamente o que seus pais esperavam dela?
Se houve em algum dia um só lampejo dessa passagem, não me lembro. Acho que eu era jovem demais, e me perdia por aí, tentando me achar de vez.
Às vezes atendo uma ou outra mãe desesperada, quase citando Rita Lee cantando "esse tal de rock´n roll".
"Sabe doutora, minha filha enlouqueceu. Ela não quer mais fazer o que eu digo. Quer decidir tudo sozinha. Vê se pode..."
Mas o que leva O MUNDO a achar que o jovem está invariavelmente perdido?
Eu tenho alguns palpites prá arriscar aqui.
Talvez seja a dificuldade em ver que aquele ser que não podia querer - desça o mouse dois textos - comece agora a querer andar com suas próprias pernas.
Talvez seja a dor - sim, mãe se dói mesmo - de observar que a opinião importante agora não é mais a de quem era antes.
Talvez seja a dificuldade de lidar com as diferenças. De assumir que o outro não segue o mesmo caminho que nós por um motivo muito simples:
O caminho mudou!