quarta-feira, 30 de maio de 2007

DITADO


E entrava tia Maricota na sala, anunciando o ditado.
Ela ditava, e a gente escrevia. Ai de quem partisse prá licença poética.
Passa o tempo, e a ditadura continua. Como se fosse incontestável. Como se fosse a mais pura verdade, incapaz de ser derrubada.
Acho que é o Millor que diz que tudo de importante está em Shakespeare ou na Bíblia. Se não for, me corrijam. Eu realmente esqueci essa informação. E acho mesmo que tenha um certo propósito em não citar nomes nesse texto. Fica mais real.
Mas o pobre do Shakespeare, coitado, depois que foi parar em Hollywood e se apaixonou, perdeu completamente a credibilidade. Tornou-se humano. Mortal.
Sobrou a Bíblia. Mas prá não dizer que ficou só uma fonte de verdades absolutas, a gente apela pros ditados também. Afinal, quem haveria de ser contra?
Se o ditado diz, é porque é. Ponto final.
Vez em quando ouço umas frases dessas "ditando" as vidas das pessoas, e sendo levadas a sério de tal maneira que fica difícil quebrar essas certezas.
E a impossibilidade de ser feliz toma conta dos seres mais afoitos, sempre esperando um osso prá roer depois de comer a carne.
Resultado: Com medo do tal osso, a carne fica lá, apodrecendo, intacta...
A ira divina é algo a se temer. E a vontade do povo é a vontade de Deus. Daí os ditos populares serem tão respeitados.
Parece samba do crioulo doido né?
Mas não. Só ressalto aqui as associações que acontecem sem a gente perceber. E com elas, a obediência e o respeito que temos a umas frases que de vez em quando não fazem o menor sentido, mas que a gente segue como se fosse A Lei, a norma mais seguida em termos de regras de como viver a própria vida.
Ninguém pula o muro. Ninguém compra o guarda. Ninguém foge do inspetor. Ninguém cerra a grade.
Ao contrário. Faz-se de tudo para que o ditado acerte, a profecia dê certo, a previsão vingue.
Pelo menos assim pode-se acreditar em alguma coisa.
Infalivelmente!!!

sábado, 26 de maio de 2007


Tudo bem...
Fico falando aqui sobre o silêncio, e sobre ficar sozinho consigo mesmo... Mas esqueci de mencionar como isso é difícil e trabalhoso - quiçá até doloroso.
Mas a gente pode ir prá teoria, e ficar mais racional, assim não dói tanto falar disso tudo.
Winnicott, o pediatra-psicanalista-inglês, escreveu um texto muito bom que falava da capacidade de estar só.
Segundo ele, essa capacidade era aprendida, e eram precisos alguns requisitos básicos que, a princípio, se mostram controversos.
Ele afirmava que, para que uma criança seja capaz de ficar sozinha, ela deve experimentá-lo na presença de alguém. Confuso né? A princípio sim. Mas não quando a gente pensa nas crianças brincando, e na presença de algum adulto que lhes seja importante ali, para lhe assegurar a existência, para lhe afirmar que ela não foi abandonada, que alguém a respeita em sua vontade de brincar, sem interferir na brincadeira, mas nem por isso sem deixá-la de lado, fica mais fácil entender.
O 'estar só' muitas vezes é tão difícil por essa associação com o abandono. Com o "ninguém me ama, ninguém me quer", e não faço falta prá ninguém. E talvez tenha sido assim que a maioria das pessoas tenha experienciado essa sensação de estar sozinho. Como se o resto do mundo representasse uma ameaça terrível, já que não há ninguém para dar a mão na hora que for preciso.
A imagem que me vem a cabeça prá falar disso e da criança perdida na praia, como se nunca mais fosse achar os seus, como se de agora em diante tivesse que mudar de vida, pois seus pais lhe fugiram da vista.
E ela tem que enfrentar a multidão fazendo muito barulho para ser novamente encontrada.
É isso...
Mas a solidão não precisa ser esse EU X resto do mundo, não.
Às vezes basta um aceno, basta um sorriso, basta um olhar, prá gente continuar a fazer os nossos castelinhos na areia.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

FALÁCIAS II - REVANCHE

Conheço um caso de uma pessoa que tinha tanto pavor de ficar sozinha, tanto medo do silêncio, tanto pânico de se encontrar consigo mesma, que ao acordar, já de cara, ligava som e TV ao mesmo tempo. E ainda fazia uma vitamina, só prá ter um barulhinho a mais, o do liquidificador, para lhe fazer companhia.
Exageros didáticos à parte, mas vocês nunca ouviram nada parecido?
É que o corte profundo do silêncio dói na carne, às vezes.
Fica meio um medo de redação tema livre. Lembram disso?
"Ué, folha em branco, professora? Mas eu mesmo que vou escolher o tema? Assim não vale."
E vem o pânico.
Mas o silêncio fala tão alto, tão alto, que chega a ser confuso lhe dar ouvidos. Tantas vozes... Tantas falas... Que o contato com o que se pensa chega a ser paralisante. Talvez daí venha a necessidade de fazer um barulhão. Prá preencher espaços. Prá encher logo a folha branca e não lidar nunca mais com o vazio. Prá fugir da solidão - palavra mais que associada ao silêncio. E que acaba, por isso mesmo, provocando uma ameaça de dor mais doída que a própria.
Mas preencher o silêncio com palavras tantas será realmente eficaz?
É que acaba ficando meio sem sentido fugir do silêncio e pôr no lugar um monte de coisas que nem sempre se pode aproveitar. Só prá não se sentir só.
Às vezes o grito é necessário. Noutras não.
Basta um olhar prá dentro. Sem medo. E descobrir tanta coisa que ainda pode vir a ser. Que ainda pode surgir.
Até prá poder mediar bem e prestar atenção em de quem é a voz.
Se nossa.
Se de alguém que a gente tomou emprestado só prá não dizer nada. Ou prá ter o que falar...

Não é que quando escrevia sobre o silêncio saiu tudo do ar... E fiquei muda. Maldição.
Assuntos ocultos dão nisso.
Mas quero ver quem escuta o grito do Munch agora. Parece grito de sonho. Não sai nada.

sábado, 19 de maio de 2007

FALÁCIAS


Tem gente por aí me perguntando se psicólogo pode sair falando o que pensa, o que acha, dando opinião, parecer, etc, de torto à direita como eu tenho feito.
antes de responder, talvez outra pergunta: Psicólogo pode ter dor de barriga, fumar, beber, dançar, brigar com o namorado ou dormir na praia?
A resposta é um sonoro SIMMMMMMMMMM!!! Desde que não perca a hora da sessão de seus pacientes.
Até porque, antes de escolher profissão, eu já era!
Já era alguém que pensava, achava, tinha opinião, parecer, dor de barriga, vontade de dançar, etc, de torto à direita.
O tempo passou, eu mudei de ideia inúmeras vezes. E hoje fico crente que sou colunista quando escrevo aqui.
Charles Bukowski, o velho safado, tem um livro maravilhoso publicado postumamente no qual ele afirma que ao chegar aos 70 anos de idade não precisa mais ler e reler seus textos, e corrigi-los de acordo com o que ele espere da recepção do público. Segundo o mesmo, quando se chega aos 70, pode-se dizer o que quer e pronto.

Mas eu é que não espero tudo isso.

Aquela trava toda de não conseguir dizer o que pensa, o que sente, depois que a gente entra em contato com os porquês de tanta censura, não tem mais motivos pra existir.

Claro que durante o trabalho clínico a gente não fica nesse "achismo" todo. Ou ouvir o outro seria absolutamente impraticável. Como escutar se não calo a boca?
Impossível.
Mas o tempo todo a gente tá dizendo alguma coisa. Nem que seja com o olhar. Com o copo que escorrega das mãos justo naquele instante. Com a piada. Com o silêncio...
Daí o outro perceber e entender já são outros 500.
E o outro nem precisa estar tão longe assim para haver o som inaudível das multidões, confundindo e misturando todos os ruídos. Às vezes o que sai da boca destoa tanto da atitude que fica realmente complicado entender qualquer coisa. Tanto pra quem ouve quanto pra quem diz.
De vez em quando escuto no consultório a seguinte frase: "Fiquei pensando no que você me disse e resolvi fazer assim - assado".
Confesso aqui que não tem frase que me gele mais do que essa.
Medo total.
O que será que essa pessoa aqui na minha frente está dizendo que eu disse? E o que será que ela entendeu do que eu disse? E qual palavra da oração ela julgou ser a mais importante?
É engraçado, pois na maioria das vezes não fui eu que afirmei qualquer coisa. E sim a própria pessoa que queria atribuir a alguém a autoria de suas falas.
E como a culpa é da mãe, e na análise ela se transfere pro analista, fico com a fama fácil, fácil.
E isso não acontece por mal, não. Cada um enfatiza o que quer na comunicação. E isso ocorre dentro e fora do consultório.
Mas ultimamente acho que estou falando demais aqui.
E se a gente trocasse um pouquinho?
E se você aí começasse a escrever aqui prá mim sobre o que te aflige? Sobre o seu problema maior?
Prometo que faço de tudo prá entender e dou um retorno logo, logo.
Feito?

O que as fotos têam a ver com o texto?
Cada um associa como quer...

quarta-feira, 16 de maio de 2007

ANÁLISE? PRÁ QUÊ?

Eu fico aqui enchendo vocês de textos e não cheguei ainda a um ponto que pode ser crucial. Afinal, prá que é que as pessoas fazem análise? Quem precisa disso realmente? E serve prá quê?
Não é raro eu receber telefonemas tentando marcar sessões prá uma outra pessoa. "Não é prá mim, não. Eu não preciso disso. É meu marido, sabe? (filha, cunhado, vizinho, sogra,...) É ele que não se adapta a mim, ao meu desejo. Ele é o maluco da história."
Sim, há o estigma de que análise é coisa prá maluco, prá doido varrido, prá quem precisa se adaptar ao mundo. Mas não é bem por aí.
O Freud tentou ser pragmático e foi por eliminatória, descrevendo logo quem não precisava de análise, afirmando que esta era prá quem não tem as capacidades para o amor e para o trabalho.
Bom, lendo assim rapidinho, tá fácil.
Mas vamos dissecar essa frase.
O Freud não falou, em momento algum, em casamento, ereção, frigidez ou qualquer coisa assim. Ele foi claríssimo. Falou da capacidade de amar. De se entregar e de aceitar a entrega do outro. Só isso.
Mas nesse caso, o simples é, de longe, o mais complexo.
E o trabalho?
Reparem que a palavra 'emprego' não foi utilizada. É 'trabalho' mesmo. Executar bem algo que dê prazer e ainda renda algum trocado pro sustento.
A princípio parece fácil também, não fosse a gincana freudiana realizada simultaneamente.
Nada de arrumar um emprego e deixar o amor prá daqui a 40 anos, quando alcançar a estabilidade. Nada de viver só pro amor e esquecer do resto. Isso é um passo prá obsessão.
Mas tem gente que até consegue fazer essas duas coisas muito bem, sim. E vem o Winnicott, discípulo de Freud, pediatra e psicanalista inglês, e traz um instrumento novo à nossas divagações.
Winnicott sempre foi visto como pediatra, mas sempre atendeu adultos também em sua carreira de psicanalista. Ele percebeu que os problemas trazidos pelos adultos não eram assim tão novos, tão atuais, e acabavam refletindo alguma coisa lá de trás, como se houvesse uma falha, um queimar etapas no desenvolvimento, e faltasse alguma coisa que não se sabe muito bem o que é.
Ele percebeu então a importância da infância na constituição do sujeito, e declarou com todas as letras o que, na sua opinião, seria a função da análise: restituir a capacidade de brincar.
E você aí, da sua cadeira, pensa que quem está brincando sou eu, quando eu tomo como verdadeira a assertiva winnicottiana. Mas eu logo exemplifico. Veja o número crescente de deprimidos no mundo. Já reparou como tem gente que não sabe sorrir?
Fica um "muito riso, pouco siso" introjetados de tal forma que é até ofensivo você demonstrar um pouquinho de leveza que seja. E parece que o único sentimento que se julga aceitável é a angústia. Esta sim, coisa de "gente séria", "responsável".
Mas já que estamos nessa discussão, acho justo chamar o Ferenczi de novo prá dar seu parecer.
O Ferenczi se destacava na clínica por se diferenciar da postura comumente adotada pelos analistas em relação aos seus analisandos. Ele acreditava na empatia, no que chamou de 'sentir com', possibilitando que seus pacientes experimentassem e dirigissem a ele todo tipo de afeto, inclusive os negativos. E percebeu que, como no amor e na amizade,no ódio e na raiva havia muita força produtiva também, fugindo assim de qualquer tentativa de moldar o paciente, percorrendo um caminho inverso, o da descoberta e invenção do paciente por ele mesmo.
O que Ferenczi valorizava era a capacidade de sentir, independente do que fosse.
Não quero dizer aqui que análise é para nos tornarmos humanos, como se fosse um cursinho prá virar gente que fazemos quando temos tempo.
Mas é nesse passeio de investigação do inconsciente que podemos alcançar muita coisa, e nos permitir atos tão simples como se deixar tocar pelo que está ao redor.

"'Vamos fazer de conta que somos reis e rainhas.' E a irmã, que gostava de ser exata, argumenta que não podia ser, pois elas eram somente duas. Alice foi então forçada a improvisar: -Bom, você pode ser um deles, então, e eu serei todos os outros".

sábado, 12 de maio de 2007

JUVENTUDE TRANSVIADA - e sua mãe também!!!


Dia das mães!
Pensei muito num tema que não esbarrasse nele. Mas acabei caindo aqui na armadilha, correndo risco de ficar piegas, apelativa, ou até agressiva.
Não há nada mais simbólico de mãe do que o seio. Um abraço de seios fartos felinianos, que tantas vezes pode acolher, noutras tantas sufocar.
Lembrei de que nem todo mundo é mãe. Mas, com certeza, todo mundo é filho. E mais, todo mundo é filho e, por mais velho que seja, sempre acaba sendo tratado como moleque irresponsável, que ainda tem muito o que aprender na vida, e esquece sempre casaco e guarda chuva só prá chatear.
E chegando o assunto 'filhos' prá pertinho, pros tempos atuais, a frase mais usada que se ouve por aí é a mesma: "Essa juventude está perdida!"
(Nada a ver com pastor evangélico, que chama todo mundo de jovem. Ou "meu jovem", já atribuindo uma possessividade aí quanto à ovelhinha. Mas o "jovem" aqui é pelo simples fato de que, para as mães, os filhos são sempre imaturos demais.)
Quanto a isso parece não haver sombra de dúvidas. Vamos lá às críticas mais comuns: O jovem hoje modifica o próprio corpo a seu bel prazer, fica horas na internet com joguinhos e bate-papos que, a princípio não levam ninguém a lugar nenhum, sai por aí querendo mudar o mundo, e como se não bastasse, não pede opinião a ninguém, e ouve uma música que sabe-se lá como ela ganhou esse status.
Mas aparece uma questão aqui, que não me sai da cabeça.
Afinal, quando é que a juventude foi achada???
Quando é que ela se encontrou e fez exatamente o que seus pais esperavam dela?
Se houve em algum dia um só lampejo dessa passagem, não me lembro. Acho que eu era jovem demais, e me perdia por aí, tentando me achar de vez.
Às vezes atendo uma ou outra mãe desesperada, quase citando Rita Lee cantando "esse tal de rock´n roll".
"Sabe doutora, minha filha enlouqueceu. Ela não quer mais fazer o que eu digo. Quer decidir tudo sozinha. Vê se pode..."
Mas o que leva O MUNDO a achar que o jovem está invariavelmente perdido?
Eu tenho alguns palpites prá arriscar aqui.
Talvez seja a dificuldade em ver que aquele ser que não podia querer - desça o mouse dois textos - comece agora a querer andar com suas próprias pernas.
Talvez seja a dor - sim, mãe se dói mesmo - de observar que a opinião importante agora não é mais a de quem era antes.
Talvez seja a dificuldade de lidar com as diferenças. De assumir que o outro não segue o mesmo caminho que nós por um motivo muito simples:
O caminho mudou!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

BABEL - ainda as crianças

Falar do querer das crianças causou um frisson danado, e uma confusão maior ainda. Mas não dava prá ser diferente quando o próprio tema é confuso, quando mexe justamente com a linguagem. Com a expressão e compreensão do que se quer.
Confesso que quando escrevi sobre o desejo das crianças, tive medo de ser interpretada como perversa - vai saber como as pessoas lêem. E por isso mesmo senti necessidade de esclarecer e expor aqui algumas teorias à respeito.
Meu temor era o de que alguma mente doente lesse sobre o desejo das crianças e se apressasse em levantar bandeiras do tipo "Liberou a pedofilia!"
Essa falha de comunicação já foi explicitada há muito tempo por um amigo, seguidor e colaborador do Freud, chamado Sándor Ferenczi, conhecido não só por ousar e experimentar sempre novas técnicas com seus analisandos, como por ser o endereço certo dos casos difíceis da Europa, no período entre guerras. Ou seja, todos os casos mais escabrosos eram encaminhados a ele. Se Ferenczi não resolver... não tem jeito.
Era mais ou menos isso.
O tal do Ferenczi, em 1932, escreveu um texto lindíssimo em que ele afirmava haver uma confusão de línguas entre adultos e crianças.
O Freud já defendera a sexualidade das crianças e seu desenvolvimento, mas esqueceu desse detalhe: como os adultos encaram isso.
E veio o Ferenczi dizendo o seguinte: enquanto a linguagem da criança é a da ternura, a do adulto é a sedução.
Em suma, precisou o Ferenczi dar uma de intérprete e tradutor pra levantar a questão da pedofilia. Afinal, as crianças cresciam - sim, elas crescem - achando-se culpadas, responsáveis, por atos cometidos CONTRA elas mesmas. São elas as sedutoras, as perversas, as pervertidas. Até porque os autores desses atos, "criaturas respeitosas e de bem", eram geralemente pessoas de sua inteira confiança, e que, a princípio, estariam ali para protegê-las
É. O tema é pesado mesmo.
Mas nem sempre precisa ser, não.
Há outros meios de interpretação do desejo infantil. E outras confusões também.
Uma delas é confundir o querer infantil com mera pirraça, capricho, manha, chatice enfim.
Mas fazer pirraça não é prerrogativa da criança. Não tem coisa mais chata do que um adulto se destruindo, se "jogando no chão e se debatendo" só prá chamar a atenção; crente, desde criancinha, que esse é o único modo de alguém prestar atenção às suas queixas.
O querer infantil nada tem de chato. Nada tem de pirracento. Nada tem de responsável por estupros.
Ele é, pura e simplesmente, desejo de experimentar. Com o respeito que lhe é devido. É claro.

Quem se lembra dos filmes do Truffaut e das vivências de Antoine? ô menino que sofre né? Outro dia ouvi uma mulher aconselhando outra a levar seu filho numa coleira, assim ele não correria e não se arriscaria a ser atropelado.
Acho que ensinar o mesmo a olhar pros 2 lados pode ser útil. Imagina o gajo com 30 anos, esperando no sinal alguém lhe puxar ou prender a cordinha...

sábado, 5 de maio de 2007

VINDE A MIM AS CRIANCINHAS


Amanhã, 06/05, é aniversário do Freud, nosso charuteiro mor. Pensei no que falar a respeito do pai da psicanálise e suas teorias, e só me veio à cabeça essa frase que vez em quando ouço por aí.
"Criança não tem que querer!"
Não é raro ouvir a respeito das crianças como se elas fossem de outra espécie que não a humana. Algo assim como cachorro, gato, passarinho. Um ser desses que não muda nunca, independente da idade; desses que jamais entram na adolescência e discordam dos pais; desses que supostamente não entram em conflito, pelo simples fato de não pagarem a conta de luz.
A gente alimenta, põe prá dormir, cuida da higiene, e não leva muito em consideração o que eles dizem ou pensam. Afinal, são só crianças.
Por isso mesmo, já comecei o texto com título de Jesus Cristo que é prá provocar logo. Assim, minha idéia fica incontestável. E logo depois falo do Freud, o judeu fugitivo da guerra, que é prá por tudo no mesmo saco e me encher de autoridade prá falar sobre o assunto.
Pois bem. Vem do Freud a teoria de que a infância não é dotada só de obediências e brincadeiras inocentes e singelas. Isso é que não. Nosso teórico, inventor da técnica psicanalítica, foi rechaçado de maneira vil quando afirmou que as crianças possuíam sexualidade - o que por si só já implica em desejo - e que essa influenciará de maneira inequívoca a vida psíquica no futuro.
Essa sexualidade infantil foge, e muito, da vivenciada pelos adultos. Ela vem muito mais como experimentação, desde a primeira vez que o bebê mama, desde o primeiro olhar, a primeira voz ouvida...
Na época, as palavras de Freud não foram aceitas de modo algum. E ele chegou a ser ridicularizado em público por considerar, mais uma vez, o que ninguém considerava quando o tema era ciência.
E não é que até hoje a gente se depara por aí com uma negação estarrecedora de como essa fase é fundamental para a formação de adultos perspicazes e independentes?!?
Fica algo assim como se fossemos semelhantes a estágios de vídeo game. Passa-se de uma fase a outra sem muita ligação entre elas.
É que muitas vezes é difícil prá nós mesmos aceitarmos que nossa infância NÃO FOI esse mar de rosas cheio de inocência e tranquilidade. Daí acolher a infância alheia se mostra tão trabalhoso. E reconhecer que a infância, que seria a base de tudo, possa não ter sido muito sólida, mas sim meio bamba, meio instável, acaba provocando uns sentimentos desconfortáveis, que desestruturam certezas que a gente segura com tanta convicção.
O conflito então se instala. E a maneira dita mais "fácil" de lidar com ele é negá-lo.
Mas negar o conflito não implica também em negar o desejo?
Aquele desejo da infância. Aquele reconhecimento de que as crianças, também elas, podem e querem, mesmo que isso seja um mero exercício para o futuro.
DESEJEMOS TODOS, então!!!
E VIVA FREUD!!!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER?

Acordei hoje e já levei um susto prá levantar de vez.
Folheava o jornal, mais prá ver figura e começar a ajustar a visão do que prá saber o que tinha acontecido ontem, quando fui pega, assim, desavisada, desarmada, com a notícia de que Ivete Sangalo faz xixi de pé em trio elétrico.
Não. O que me chocou não foi o fato de alguém ter que fazer xixi em trio elétrico nessas condições, não. O que me chocou foi ela ser criticada por dizer isso. Onde já se viu, ídolo fazer xixi? Perguntava Artur Xexéo, indignadíssimo, no Globo.
Tem umas imagens meio inconcebíveis prá gente aceitar mesmo. Como ídolos, outra categoria que tem uso restrito no banheiro - só penteia os cabelos e se perfuma - e merece ser lembrada aqui no seu mês é a sua mãe. Ou sua MÃE, se preferir.
Esse negócio de fisiologia é pros mortais. Pros que sentem inveja, ciúme, mal humor, tpm, dor, tesão, amor 'doentio' ou não correspondido, e outras tantas mazelas que são só para meros seres humanos, feitos à imagem e semelhança de Deus- mas também nem tanto assim...
Xexéo afirma que o tempo dos ídolos está cada vez menor não é a toa; mesmo contrariando a estatística do crescente número de louras atualmente, as quais passavam as manhãs da infância inteirinhas acompanhadas da Xuxa na tv, e somavam ao slogan da Barbie sua verdade mais absoluta: "Tudo o que você quer ser quando crescer".
Admirar ídolos, querer ser como eles, imitá-los e se deixar influenciar não é pecado algum. Que fique bem claro. Mas é que às vezes a gente exige tanto deles...
Reconhecer que o pai não é o Super-homem, e que a mãe não é a Virgem Maria não é mesmo prá qualquer um, não. Aceitar que o objeto do nosso amor não é um ser perfeito, sempre à mão, imaculado, é tarefa para poucos no mundo.
Talvez isso explique a decepção de Xexéo, em ver que alguém tido como exemplo faz essas coisas extravagantes que só os humandos podem.
Fica uma dúvida aqui quanto às formas de amar. Afinal, ama-se o que o outro é? Ou ama-se o que eu espero que ele seja?
Claro que todo mundo quer ser amado. Mas vai dar um trabalho danado agradar tanto prá conseguir essa proeza, se nós não aceitarmos essas qualidades "muito gente", muito "pessoa humana" que todos carregamos.


Essa é meu ídolo.
Tomava pico na veia e apanhava do seu amado. Mas não tinha prá ninguém quando ela abria a boca e soltava a alma na voz.