sábado, 28 de julho de 2007

LIGA NÃO. É SÓ PSICOLÓGICO


Lembro até hoje de umas frases que a gente escuta, e sai repetindo por aí, como se fossem a mais pura verdade.
Uma delas que me faz até rir é a seguinte:
"Frio é psicológico!"
Fico imaginando o fim da primeira guerra mundial, com os soldados congelando na Rússia, e fazendo ohnnnnnnnnnnn prá pensarem em outra coisa. Afinal, frio é só psicológico.
E o psíquico acaba ficando com o mesmo status de mentira. Espécie de Bicho-papão, Saci, monstro do armário. Se você não acreditar, ele desaparecerá.
A parte engraçada dessa história é a contradição em que cai esse conceito. Afinal, passa-se a vida valorizando o racional, em detrimento do emocional - como se fossem antagônicos -; mas na hora de dizer que alguma coisa é psicológica, ou meramente psicológica, o mental tem sua total desvalorização.
Isso não se dá só com o frio.
Hoje a gente sabe que a maioria das doenças tem uma ligação profunda com o estado emocional das pessoas. Mas a simples palavra "psicológico" remete a uma temática tão fabulosa, tão fantasiosa, que fica parecendo invenção de quem sente.
Tá aí o tal do sistema que fica nervoso que não me deixa mentir.
E o que mais está nesse mundo da psiquê que é tão deixado de lado? Que é tão desacreditado? Que não é levado à sério?
Arrisco aqui que nesse mundo coexistam, juntinhos, o frio, o medo, a fome... e os fantasmas, os sonhos, os desejos,...
Ah... Os desejos!!! Esses sim, dão um trabalho danado! Melhor nem olhar direito. Melhor virar a cara. Tapar os olhos, como crianças diante de cenas proibidas na tv.
será?
Será mesmo eficaz? afinal, até a dita louca da Estamira, a homem par (quem não viu o filme, corra), afirma com todas as letras:
"Tudo o que é imaginário existe, é, tem!"

segunda-feira, 23 de julho de 2007

ONNNNNNNNNNNNNNNNNN

Vez em quando um e outro me chama de louca por aí, dizendo que estou profanando a psicanálise, ou que o Freud ficará muito revoltado onde quer que ele esteja, ou ainda que virtualmente não saberei quando o paciente vai mentir e coisa e tal.
Me defendo fácil. Afinal, o que, hoje em dia, a gente não pode fazer usando o computador?
O próprio Freud fez umas análises um tanto não convencionais, usando cartas como instrumento, e analisando criança através do que o pai dizia dela, então pergunto aqui, qual a diferença?
O que ele ficava sabendo dos pacientes era só a parte que lhe chegava. Não importava muito se era mentira, verdade, fantasia ou distorção.
Se era o enfoque "X" que lhe era narrado, como sendo a verdade adotada pelo paciente, este então devia ter uma importância considerável.
Quanto a ser chamada de louca, confesso que nem me importo. Acho que até gosto.
Ser sã o tempo todo cansa. além de ser demasiadamente chato.
Fico pensando no próprio Freud sendo vaiado em suas convenções, xingado de lunático, pois ousava dizer tudo o que disse,inventando teorias 'descabidas' e revolucionárias.
Claro que não faço odes à loucura aqui, mas chamo atenção pro ousado, pro diferente, pro fora dos padrões, e de como ele pode mudar o mundo, movimentar, causar reboliço e vontades.
E tem um monte de críticas sobre a análise on line, se ela é válida ou não. Se 'dá resultados' ou não.
Mas não serão essas críticas relativas a análise em si? Seja ela on ou off line?
Parece que há uma força tremenda contrária a esse movimento causado por mexer nas forças ocultas do inconsciente. Como se ele tomasse de conta e deixasse o ruim aparecer.
Só que tem um detalhe fundamental: o que é bom também vem à tona.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

BALA PERDIDA


eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesmo

Cantava o Cazuza pela madrugada afora, tentando convencer todo mundo que aqueles cortes na carne, aquelas doses a mais, aqueles beijos sem destinatário só feriam a ele mesmo.
E tá institucionalizada a bala perdida.
Não começou com Cazuza. Claro que não.
Isso é veeeeeeeeeeeeelho!!!
Talvez venha até da Bíblia. Por que não?
Afinal, quem foi que acreditou que era prá amar não só os amigos, como os inimigos também? Quem segue a risca eu já não sei.
Mas que a confusão está formada, isso está.
Achei interessante ressaltar o contrário aqui. O ódio aos amigos, a porrada no ser amado, a agressão à família - não a que cola com tradição e propriedade, mas aquela que a gente tem afinidade mesmo.
Inimigo não aguenta tapa. Ele revida. E feio. Já os eleitos... Tadinhos. Eles têm que aturar cada coisa.
Ôpa. Será que é por aí? Prá não bater em todo mundo na rua, prá não dirigir a agressividade prá quem incomoda, prá não sair bicando os outros de torto à direita, a gente acaba "porrando" quem tá perto e nos mostra algum afeto?
Então não é só o Cupido que é ruim de mira. Nós também.
Mas é complicado mesmo esse negócio de atirar no alvo. Até em discussão de rua fica sempre uma frase que poderia ser dita, mas que na hora a gente nem pensou. Prá não perder a frase, ela acaba saindo na hora errada. Com a pessoa errada. Com a consequencia errada.
E pensando aqui em justiça divina, não será uma grande injustiça tratar todo mundo igual?
Amar inimigo, odiar amigo, convidar chato prá festa - TEM que amar o próximo -, aturar quem a gente não suporta, machucar filho prá atingir ex... Prá que?
Ah é... Mandamento né?
Mas pensando assim só dá prá chamar o Nietzsche. Prá distribuir bananas por aí.
Será que uma mira melhor ajuda?
Um dia eu te conto...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

"NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA"


Essa é a frase mais famosa de Drummond. Apesar de tudo o que ele já fez, todo mundo sempre pára na pedra do meio do caminho.
E fica ali, estático, sem pular a pedra, sem tirá-la do caminho, sem desviar dela, ou mesmo sem continuar o percurso olhando pro céu, nem aí prá pedra alguma.
A pedra estava lá. e estagnou o percurso. Virou obstáculo consideravelmente enorme, já que impediu todo mundo de continuar.
Contra a pedra não tenho nada. Como a pedra há a árvore, o córrego, o prédio, o sinal de trânsito, a moça bonita, o pivete,..., tudo no meio da estrada. Enchendo de novidade o dia.
Mas por que parar por causa da pedra? E deixar de aproveitar todo o resto?
É uma pergunta importante, que talvez nem todo mundo se faça.
Afinal, a gente empaca o tempo todo...
Essa paralisação rochosa não é feita assim tão de caso pensado, não.
Ela tem vários nomes, e o mais usado pode ser "resistência", o que em psicanálise é a força teoricamente contrária à do analista. Aquela que o sujeito faz prá continuar recalcando, prá deixar longe dos olhos e da percepção o que possa vir à tona causando reboliço.
Em suma, enquanto a análise faz um esforço danado para trazer à consciência o que ficou inconsciente, a resistência, ou a pedra no caminho, faz o esforço contrário prá fechar no baú, no fundo do mar mais fundo, o que foi recalcado.
É como espécie de placa de trânsito dizendo prá gente parar.
Não avance! Se mexer, pode doer.
E nem chegar a um texto até o final a gente consegue. Pára numas coisinhas às vezes tolas, às vezes sem importância nenhuma, só prá não ter que falar ou ouvir sobre um assunto.
Tá lá a pedra estendida no chão (que me perdoe João Bosco). Prá evitar sentir ou lembrar; para, a princípio, proteger o homem, acaba empacando-o, paralizando-o, só prá ele continuar ali, parado, estático, diante da pedra.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

SOU TODA OUVIDOS



Tem uma frase importantíssima do Winnicott, aquele pediatra-psicanalista-inglês que já comentei, que diz o seguinte:
"O bebê não existe!"
A princípio ela choca um pouco, pois para alguns já remete à imposição de força, como se ele, o bebê, fosse mero joguete na mão de adulto.
Até parece né?!? A gente sabe muito bem que um bebê se esgoela e berra mesmo, de verdade, "dicumforça", quando alguma coisa não agrada.
Então voltemos à frase.
Winnicott dizia que um bebê só pode existir, e saber disso, se tem os cuidados adequados. Senão, ele só reage, ele só sobrevive, ele só... é só. Ele nem é.
Lembrando disso, me vem à mente uma crítica de um palestrante muito prático, que de tão prático chegava a ser... deixa prá lá.
Dizia ele que psicanálise - e no mesmo saco a psicologia, a religião, o aconselhamento da vizinha,etc, - não serve prá nada, pois a resposta a gente tem que achar sozinho.
Eu só fico imaginando que pensamentos, que respostas são essas que a gente supostamente acha sozinho. Já que sozinho, como o bebê aí de cima, a gente pouco sai dos coeiros. Não há relação, conversa, riso, choro, vela, quiçá fita amarela. Não há caminhos outros. Há só a repetição. O mantra de um si mesmo um tanto pobre, pois não sabe trocar.
A gente faz de conta que dá conta de tudo sozinho, e vai seguindo o caminho, andando pela rua, assobiando, mão no bolso, dizendo "Eu me basto! Eu me basto!"
E pára na banca de jornal e dá de cara com um monte de revistas ensinando a viver, a discutir relacionamento, a tratar pais, filhos, cachorro, papagaio... E nem se dá conta de que aquelas técnicas só servem pros últimos, os que não vão contra o que a gente fala, pois a única coisa que são capazes de fazer é repetir.
Mas tem uma coisa que escapa à nossa percepção. Todos esses "vida, modo de usar", sem exceção, falam de diálogo. Numa tradução grosseira, é uma lógica prá dois. Não a lógica do maior, do mais forte, do mais chato, do que fala mais, do que chora, do que bate,... Mas uma conversinha que conte com pelo menos dois pontos de vista.
O que implica em, no popular, seguir à risca o ditado do "quando um burro fala, o outro abaixa a orelha."
E isso, definitivamente, não é prá qualquer um - ou qualquer dois.
Geralmente, quem propõe o tal diálogo pensa algo como "vou expôr meu ponto de vista e ele, o outro, vai entender e mudar." Mas aí vem a resposta, que estraga tudo. O outro também quer mudanças, também quer falar, também quer ser ouvido.
E eu daqui pergunto o porque de ser tão difícil ouvir e ser ouvido?
Bom, acho que já falei demais...
Tô esperando sua vez. Afinal, o sem orelha aqui é só o Van Gogh.
Eu?
Sou toda ouvidos.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

JOGÃO DECISIVO


Prá "aprender" fácil, fácil pro vestibular, a gente decorou os movimentos literários como espécie de choque de gerações. Se um é racional, o seguinte só pode ser emocional, e o conseguinte racional de novo. E ficou uma espécie de contradição entre essas duas maneiras, como se elas jamais se coadunassem. Como se a existência de um fosse o pressuposto prá ausência do outro.
O emocional acabou sendo pejorativamente chamado de irracional. E toma-lhe ataque.
Ficou no inconsciente uma espécie de vale tudo. De guerra entre torcidas, a qual só se pode pertencer a uma delas.
Se é flamengo, odeia o vasco. Se é palmeiras, odeia o corinthias. Se é grêmio, odeia o colorado... e a recíproca é certeira, só muda o estado e o time.
Uma relação entre os dois é impensada, já que em sua "natureza" eles são opostos.
Mas desde quando começou essa guerra entre mente e corpo? Entre o racional e o emocional?
E ela serve prá que, afinal?
Na época do Descartes, aquele que nos dividiu em 2, dava prá entender.
Ele jamais poderia dissecar bichinhos vivos se dissesse que eles têm alma. a Igreja não permitiria. O Estado não permitiria. Tinha um propósito. Alma é só pros humanos. O resto é instinto. É irracional. Deve ser suprimido, abafado, ou pode causar sérios problemas.
Mas e hoje?
Por que a briga continua? Por que o que não é consenso é louco?
OU será que louco é tudo aquilo que discorda de mim?
E quem é o Napoleão nessa hsitória?


A foto acima é uma provocação deliciosa. Afinal, os instrumentos do racional suspendem o irracional e o deixam de pernas pro ar. Sem uso. Sem ter como fazer nada.

domingo, 1 de julho de 2007

O FOGO DE PROMETEU


"A gente pode
morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos´
e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode
dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode
olhar em volta e sentir que tudo está
mais ou menos.
Tudo bem.
O que a gente não pode
mesmo, nunca, de jeito nenhum,
é amar mais ou menos,
é sonhar mais ou menos,
é ser amigo mais ou menos
e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar
uma pessoa mais ou menos..."

Chico Xavier

Esse poema me lembrou a história de Prometeu. Aquele que moldou os seres humanos com argila, e roubou o fogo do Olimpo para dar vida aos vivente. Gustav Schwab narra o mito assim
"Foi assim que surgiram os primeiros seres humanos, que logo povoaram a terra. Mas por muito tempo eles não souberam como fazer uso de seus membros, nem da centelha divina que tinham recebido. Embora fossem capazes de enxergar, nada viam; ainda que escutassem, não sabiam ouvir. Vagavam como vultos de sonhos, e não sabiam utilizar-se da criação... Rastejavam como formigas em cavernas que a luz do sol não iluminava, sem saber se era inverno, primavera ou verão."

É mais ou menos assim que anda boa parte da humanidade. Aquela que se protege de sentir. Com medo do incêncdio, acabam não acendendo nem um fósforo que lhes ilumine ou aqueça o peito.
E fica realmente difícil achar algum sentido pros dias, quando a mediocridade impera. Quando a ausência de vitalidade preenche mal e porcamente os espaços vazios, e a hipocrisia começa a tomar lugar como se fosse "o natural".
Falta fogo.
Falta vida.
Falta afeto.

Mas dá prá mudar isso. É só promover um atrito com pedrinhas. Um encontro de faíscas vira um incêndio digno de ser muso de Nero.