terça-feira, 20 de novembro de 2007

E AGORA? O QUE FAZER NESSAS HORAS?


Ele devia ter uns 8 anos e estava apaixonado. Voltava rindo de orelha à orelha da escola, e sempre respondia 'sim' quando lhe perguntavam se tinha namorada.
Mas era um namoro diferente.
Ele e sua escolhida voltavam roxos prá casa, de tanta briga na hora do recreio. Falei briga, e não espancamento. Que isso fique bem claro. É algo como uma coreografia não ensaiada. Muito diferente de demonstração de poder por só uma das partes.
O raciocínio nunca exposto era mais ou menos o seguinte:
"Não sei o que fazer quando estou apaixonado. Então o contato mais próximo que posso ter é rolando pelo chão."
Ele não tinha a menor dúvida. Saía no tapa com ela.
Se não sabe o que fazer, brigue. Pelo menos faça alguma coisa, era o lema.
Nem preciso dizer que essa elaboração toda sobre o toque só foi alcançada mais de uma década depois, talvez 2 ou 3...
Muitas vezes a lógica aí de cima sequer é mencionada. Mas não por omissão. É falta de dados mesmo.
Como é que uma criança vai saber como reagir ao que sente, como agir de acordo com seus desejos, se ela não conhece nada daquilo? Se ela não tem a menor intimidade com aquelas confusões sentidas que estampam um riso idiota no canto dos lábios.
Ela, definitivamente, não tem dados prá lidar com isso tudo. Até porque umas das características do amor - ah, o amor - é a total falta de dados, de planejamento, de inteligência prática.
O gaguejar é constante, as frases atrapalhadas, o desastre está consumado e derruba porcelanas com rabadas de elefante.
Só que infância passa. E essa ignorância toda é combatida com a máxima racionalidade possível. Assim, fica muito mais fácil controlar o que se sente, fazendo um esforço danado prá nada sentir.
E assim se vai morrendo aos poucos por falta de sangue que corem as faces, por falta de confusão, por falta de 'burrice'.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

TODO MUNDO QUER SER...


O Senso Comum (assim, com maiúscula) diz que todo mundo quer ser amado. E a pergunta que não cala é: "Quem é esse tal de Senso Comum?"
Tem umas coisas que a gente associa ao ser humano como se fossem inquestionáveis, como se fossem verdades incontestáveis mais que absolutas. E esse tópico da vontade de ser amado ser universal vem logo à tona.
Todo mundo, quem?
Eu mesma conheço umas 4 ou 9 pessoas que fazem um esforço medonho para serem odiadas. Elas teimam em fazer tudo para irritar o outro, para merecerem o desprezo, o xingamento, a raiva mais que cruel vinda dos outros.
Você mesmo, aí do seu lado, já deve ter se lembrado de alguém com essas características. É algo mais ou menos como "Não me ame. Eu não valho à pena." que fica no ar. E quem transgride essa regra acaba sendo visto com um olhar profundamente desconfiado, como burro, tonto, tolo. E merecedor de um desprezo muito maior. Afinal, foi gostar logo da pessoa errada.
E a gente, que cantava aquelas coisas bregas e adoráveis tipo "você não soube me amar", que responsabilizavam o outro pela incompetência em realizar essa tarefa tida como tão simples, acaba nem percebendo como é difícil ser amado.
Como é difícil aceitar o afeto dos outros, principalmente se o afeto for do tipo positivo.
E se corta profundamente com a desculpa de não querer machucar ninguém. Mas acaba respingando sangue e farpa prá quem estiver por perto.
Mas por que uma coisa tão boa como o amor tem que doer?
Ai o Freud, que já falava dessa inaptidão para o amor como um sintoma de que a análise é necessária e até urgente...
O cara sabia das coisas!!!