segunda-feira, 31 de março de 2008

DEVOTOS DE SÃO PTOLOMENO


O Nietzsche lá se esgoelando até perder a voz, dizendo que Deus está morto.
Mas os intelectuais não levam o louco sifilítico à sério.
Já tá tarde prá falar do episódio envolvendo Marcelo Madureira e os fãs de Glauber Rocha.
Digo tarde pois o Arnaldo Bloch já falou quase tudo o que eu pensava na coluna do Globo de sábado. Parece até que ele - o Bloch - dormiu aqui em casa e me ouviu bravejando enquanto lia o jornal de manhã.
Mas fiquei com umas dúvidas que me corroem o estômago até agora.
Por que todo mundo tem que gostar de Glauber Rocha, Niemeyer ou do que quer que seja?
É engraçado que por mais que digam que Deus está morto, que o Superhomem está morto, ou até que Glauber está morto, o comportamento religioso de muita gente que diz que pensa por aí não passa de ato de carola, tomando como heresia qualquer ação iconoclasta que derrube alguns mitos ou simplesmente expressem um gosto crítico.
Por que?
Por que todo mundo tem que gostar da mesma coisa?
É engraçado - e patético - que os argumentos contra o Madureira ficaram no nível do 'vai você que tá mais acostumado'.
Tem um filme que passou já faz um tempinho no cinema chamado 'O gosto dos outros' no qual todo mundo tentava ensinar a um homem do que ele deveria gostar.
Achei que a discussão foi bem por aí, já que ninguém correu prá falar 'Ah, eu gosto de Glauber por tais motivos. Se ele não gosta é direito dele.'
É que fica parecendo uma guerrinha de direita contra esquerda, de mente contra corpo, de beatles contra stones, de vermelho contra azul que eu, sinceramente, não vejo porque adotar qualquer um dos lados. Como não vejo no outro lado uma antítese a ser atacada.
E por que será que tem gente que se vê obrigada a fazer esse tipo de escolhas?
Tá. Você pode dizer que fico em cima do muro (não é minha intenção). E eu posso responder que essa guerra não é minha.

sexta-feira, 14 de março de 2008

PRÁ QUE SERVE ISSO?


A gente vai encontrando uns medos pela frente que nem sabia que tinha. E quando se dá conta, a fuga é uma bandeira só.
Mas foges de quê? Prá quê? por quê?
Eu fico aqui te perguntando, ao ver você se mexer desconfortável na cadeira aí bem em frente ao seu computador nessa tarde de chuva.
Volto à pergunta, só prá provocar: Por que tanto medo de análise?
Talvez sejam um monte de estereótipos que a gente vai montando e formando conceitos bizarros quanto ao que seja uma análise.
'Será que o cara que me escuta não escuta nada e só faz lista de compras que nem eu vi num filme?'
'Será que fazendo análise eu serei mero soldadinho de chumbo ou bonequinha de porcelana na mão do analista fazendo tudo o que ele quer?'
'Será que me curando da minha loucura, me livro também de minha criatividade, de meus devaneios, de minhas fantasias e sonhos prá ficar preso nessa realidade cruel que me soca o estômago o dia todo?'
'Será que na análise me descubro tão doente que só nascendo de novo prá ver se da próxima vez meu defeito tem conserto?'
O que é curioso é que tem um monte de gente por aí sem medo nenhum de se entupir de bolinhas e gotinhas, afirmando peremptoriamente - eu sabia que um dia usaria essa palavra - que se não usar essas coisas faz uma loucura.
O inferno é que, às vezes, tudo o que elas precisam realmente é de cometer a tal loucura.
Um virar a mesa, um quebrar os copos, uns gritos soltos ecoando pelo corredor e acordando os vizinhos, um tapa, um beijo, um strip tease,...
Análise não cura ninguém de si mesmo, nem molda os analisandos quanto à vontade de um pseudo-analista-todo-poderoso, muito menos amordaça as vontades mais íntimas trancando-as no mais fundo do mar profundo.
Ao contrário: De tanto a gente falar no analista, começa a prestar atenção em tudo o que tem prá dizer, só que sem aquelas chibatas terríveis que fazem a gente achar que o mundo só tá errado por nossa causa.
O que ela traz de bom é a possibilidade de usarmos nossa loucura - todo mundo tem, nem adianta negar - de um modo diferente: dessa vez A NOSSO FAVOR.

Fotos de Vinícius Guarilha