terça-feira, 25 de novembro de 2008

PSICOSE ou O OUTRO LADO


Ontem saiu no Globo a coluna do Jabor falando da psicose como marca de uma nova era. De como ultimamente - detesto esse termo, parece que no princípio tudo eram flores, embora eu já tenha lido por aí que era o caos.
Mas voltando aqui, parece que nos últimos tempos o perfil da gente mudou. Que não torcemos mais pelo mocinho da boca mole e sim pelo bandido-sedutor-psicopata e fatiador dos mais fracos. Segundo o Jabor, estamos virando todos psicopatas.
Eu, sinceramente, não consigo acreditar tanto nisso. E me explico
aqui rapidinho, antes que o Jabor me pique em pedacinhos me chamando de qualquer coisa.
(Pensando bem, até parece que ele se daria ao trabalho de fazer isso com mera mortal como eu. Mas essa pretensão minha vem a calhar, afinal, não é isso o que a vítima acaba buscando? Um lugar importante no filme, nem que seja o de estrogonofe?)
O psicopata da ficção acaba tendo um papel social muito mais importante que o do mocinho, e não só por suas falas serem muito mais elaboradas e interessantes.
É que assim a gente pode identificar um inimigo , uma ameaça, só que do outro lado - do lado de fora. Fora de nós. Preso na tv.
O Judas é linchado, a bruxa morta, e o psicopata sempre acaba seus dias preso - louco ou não.
Mas até lá, todas as energias estão voltadas para o momento de desmascarar o vilão.
Assim, o vilão que mora aqui dentro, que empaca e não gosta de brincadeiras, que acha tudo uma bobagem infantil e desvaloriza cada idéia ou prazer que temos tem um descanso e pode deixar a gente em paz uns minutinhos, nem que tenhamos que usar a ficção como forma de anestesiar um superego sempre alerta.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

FIGURINHA FÁCIL


Se tem uma palavra que de tão usada, mas tão usada, já tá até gasta e poída, e comida de traça e mofo é a palavra "liberdade"!
Impressionante como prá qualquer coisa vem sempre um gritar aos quatro ventos sua liberdade de fazer e acontecer e encher o saco de quem tá quieto.
Quem for contra é reacionário e pronto. Assim, sem pestanejar, sem pensar muito.
Fica até meio esquisito a facilidade que os ditos 'libertários' têm de encontrar um inimigo comum por este simplesmente usar da liberdade de escolha para não concordar com o que fala mais alto na tribo.
Outra palavrinha fácil, encontrada em qualquer balcão de lanchonete pela atendente sempre muito simpática, é "amor".
Nunca antes na história desse país foi tão simples encontrar o amor em qualquer esquina ou elevador. (amor tem que ter rima, coitado! Por mais pobre que ela seja)
A gente tropeça no amor, atropela o amor, dá carona, faz cerquinha prá ele fazer xixi na rua de madrugada, doa moedinhas prá caixinha do Natal,... Ninguém pode ser acusado de não ter dado tudo de si prá esse amor sobreviver.
...E complementando o rol de palavras usadas demais, lembrei aqui de um nome fundamental: "Freud".
Tive um professor genial que dizia que o Freud era como os tribalistas, naquele refrãozinho
puro amor daquele trio que ninguém aguenta mais.
A leitura que se faz do Freud é promiscuidade pura. É amor livre apreendido. E TODO MUNDO "cita" com propriedade alguma coisa interessante que leu do pobre coitado que faz mortal duplo carpado no túmulo.
"Eu sou de ninguém/
eu sou de todo mundo/
e todo mundo me quer bem..."
Acho que é por isso que quando digo que trabalho com psicanálise vem sempre mais umas 4 ou 9 perguntas me pedindo prá especificar mais um pouco.
Me perguntam se eu expulso paciente depois de 5 minutos de sessão, se faço hipnose, regressão a vidas passadas, se mando tirar a roupa, se mando deitar...
Parece até que sou - somos - muitas madres superioras
educando pacientes.
Confesso que dessa psicanálise normativa eu não entendo nada. E nem quero. Mas como o Freud é 'facinho' de ser amor de tanta gente, tem sempre um viés mais acolhedor prá gente experimentar.