
O Nietzsche lá se esgoelando até perder a voz, dizendo que Deus está morto.
Mas os intelectuais não levam o louco sifilítico à sério.
Já tá tarde prá falar do episódio envolvendo Marcelo Madureira e os fãs de Glauber Rocha.
Digo tarde pois o Arnaldo Bloch já falou quase tudo o que eu pensava na coluna do Globo de sábado. Parece até que ele - o Bloch - dormiu aqui em casa e me ouviu bravejando enquanto lia o jornal de manhã.
Mas fiquei com umas dúvidas que me corroem o estômago até agora.
Por que todo mundo tem que gostar de Glauber Rocha, Niemeyer ou do que quer que seja?
É engraçado que por mais que digam que Deus está morto, que o Superhomem está morto, ou até que Glauber está morto, o comportamento religioso de muita gente que diz que pensa por aí não passa de ato de carola, tomando como heresia qualquer ação iconoclasta que derrube alguns mitos ou simplesmente expressem um gosto crítico.
Por que?
Por que todo mundo tem que gostar da mesma coisa?
É engraçado - e patético - que os argumentos contra o Madureira ficaram no nível do 'vai você que tá mais acostumado'.
Tem um filme que passou já faz um tempinho no cinema chamado 'O gosto dos outros' no qual todo mundo tentava ensinar a um homem do que ele deveria gostar.
Achei que a discussão foi bem por aí, já que ninguém correu prá falar 'Ah, eu gosto de Glauber por tais motivos. Se ele não gosta é direito dele.'
É que fica parecendo uma guerrinha de direita contra esquerda, de mente contra corpo, de beatles contra stones, de vermelho contra azul que eu, sinceramente, não vejo porque adotar qualquer um dos lados. Como não vejo no outro lado uma antítese a ser atacada.
E por que será que tem gente que se vê obrigada a fazer esse tipo de escolhas?
Tá. Você pode dizer que fico em cima do muro (não é minha intenção). E eu posso responder que essa guerra não é minha.