quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Pra quê?

 


Quando eu era criança, às vezes, minha mãe me levava ao teatro. Geralmente eu odiava. E questionava:

- Mas eu fiz dever de casa, não baguncei a casa, deixei você dormir até mais tarde e nem bati nos meus irmãos dessa vez. Por quê?

Eu odiava devido a um padrão que hoje julgo desrespeitoso em relação às crianças, que é tratá-las com tatibitati, como se incapazes fossem.

Até que fui a um teatro realmente bom, e quis voltar no dia seguinte, e ainda levar os amigos. O nome da peça era "Super Zé", do saudoso diretor Dácio Lima.

Havia uma personagem enorme que se chamava Burocrata, acho... e o herói, Super Zé, lhe perguntava o que ele estava fazendo.

- Estou carimbando. - ele respondia.

- E pra quê?

- Pra ficar carimbado, ora bolas.

Eu, criança, morria de rir do ridículo do burocrata. 

Décadas depois, eu trabalhava em uma creche como voluntária e participava da adaptação das crianças ao local. Uma delas esperneava e chorava, enquanto perguntava à mãe.

- Por que você tem que ir embora?

- A mamãe precisa trabalhar pra ganhar dinheiro.

- Pra quê?

- Pra comprar presentes pra você.

- Mas eu não quero presentes. Eu quero você.

Será que só as crianças entendem essas questões?

Ou seria muito perigoso para o mercado* perguntar?


FELIZ ANO NOVO BEM NOVO PRA VOCÊS. 

Novo como criança.


"Mas o que salva/ a humanidade/

É que não há quem cure/ a curiosidade"             

                                    TOM ZÉ