quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

INDUMENTÁRIA


Ela queria uma dessas paixões. Dessas que só se tem aos 15 anos.
Dessas que quando chega ao fim, a certeza de que perdeu a última chance de ser feliz é a única que resta, mal sabendo que depois desta, puro treino, o jogo começará de verdade.
E todos os especialistas no assunto darão conselhos sábios, esquecendo-se de olhar para o próprio umbigo, e perceber que conselho sábio, no amor, é a coisa mais imprestável que se pode dar. Absolutamente supérfluo, posto que a sabedoria é coisa de quem não sente. Ou de quem morre de inveja e de pavor.
Ela queria e encontrou. Avisou antes:
"Olha, já estou fora de linha, não tenho tanta peça pra reposição assim. Funciono meio na gambiarra, meio na fita isolante.
Protejo o mindinho do pé só de ver uma mesinha de centro. Por favor, não se mova bruscamente."
A nudez e entrega escondiam, no entanto, tanta ferida aberta, tanta mágoa de outras vidas, tantos romances mortos precocemente - e a morte sempre é precoce - que por baixo daquela nudez havia uma veste toda especial fabricada para o que chamava de amor.
Mas o amor precisa de legenda explicativa pra ser diferenciado de orgulho, posse, vaidade... Ou qualquer outra coisa do gênero que se queira nomear de amor, só pra ter história pra contar.
Afinal, se amar fosse fácil, não precisaria ser mandamento bíblico.
Ele, bravo guerreiro, Herói de outro planeta, já que o amor não é pra qualquer um, estendeu a mão e disse:
"Não se preocupe, linda dama. Lutarei por isto". E se preparou para o encontro, contrariando especialistas no assunto e expectativas pessimistas. Ora bolas. Amor numa hora dessas?
Vestiu sua melhor armadura e jurou que dessa vez era pra valer.
Lutou, lutou e lutou. Lutou com tanta gente, e por tanta coisa, que ao chegar em casa e reparar direitinho, a moça estava lá, sangrando.
Nem reparou que as feridas acumuladas teimavam em abrir na hora errada.
Que o passado putrefato de outros heróis era mexido e remexido até ganharem vida novamente.
Que a proteção contra arranhão estava tão forte que a blindagem não deixava que as peles roçassem mais.
E daí se morreu de novo. Como aos 15 anos.
Os especialistas estão lendo a respeito e inventando um milhão de teses sobre. Preparam-se para quando o amor chegar.


4 comentários:

Unknown disse...

Forte. Muito forte.

Rogério Silva disse...

Soraya

Cresce em meu coração a afeição que seu encanto provoca.
O texto traduz uma experiência visceral do amor. Esse sentimento que nós humanos deparamos e via de regra não damos conta em sua plenitude.
O poema que se segue foi provocado por essa desdita.

amor conspurcado

o que a veste veste?
a veste, veste, investe, reveste
protege do sol com filó
o que há de mais maculado.
o amor.
quebranto conspurcado
de sangue e lágrima
transpassado no tempo,
vísceras expostas,
olhos ardidos.
pede proteção
de deuses e sábios
para que renove
ousados ais
de outros amores.

Beijos Rogério

thie disse...

Linda moça , nua pele, flechada no coração e sorridente, tão frágil, e a coragem do guerreiro tão forte, de armadura brilhante,empunhando a espada, onde se sente tão frágil, diante de sorriso tão libertador.
Tem que tirar armadura que só o deixa enxergar a vista de um feixe a nua pele de uma mulher, igual a beleza de uma Flor ao qual só os olhos a enxergam, e assim ficando desprotegido ao desejo do amor limpo, e tira-la para o encontro de tanto amor?.
Sim e simples, tirem todas as peças e sintam...., joguem
as espadas e quebrem as armaduras.

Lindo seu texto é perfeito que sobrou criatividade para o completo das fotos para os fatos.

António Je. Batalha disse...

Seu blog é óptimo,gostei dou-lhe meus parabéns.
Com votos de grandes vitórias.
PS. Se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, faça-o de forma a que possa encontrar seu blog para segui-lo também.
Sou António Batalha.