terça-feira, 3 de maio de 2016

DIVISÃO DE BENS/ DIVISÃO DE MAUS/ DIVISÃO DE MALES


"Eu sinto muito!"
Ela falou com empatia sincera, tentando aliviar a dor que não era sua. Roubar um pouquinho pra si. Dividir o peso. Ajudar na faxina, sei lá...
Qualquer coisa que pudesse ajudar.
Chegou mesmo a se jogar no chão e chorar, como se a úlcera corroesse seu estômago, e não o dele.
Quase desmaiou.
Quase. Teve até taquicardia e fez escândalo com os médicos, dividindo a atenção. 
Mas de pouco serviu.
Acontece que entre ela e ele existem as peles. Armaduras que não se fundem. Divisões rigorosas dos seres. E, por mais que se reze pedindo ao além. Por mais que se queira estar junto e se responsabilize, por mais que se tente delirantemente a simbiose, cada um só pode cuidar de sua própria dor do existir.
Por mais que se queira, por mais que se tente, jamais, nunca, ninguém conseguirá dividir, por exemplo, uma dor de dente.
Mesmo que o ser mais condoído e sensível esteja ao lado. Mesmo que ele se jogue no chão e urre. Mesmo que desmaie. A dor de dente não será dividida, diminuída, ou parcelada pelos solidários ou pelos solitários.
Infelizmente é assim.
Não dá pra ser diferente.
A não ser que... Mas o casal mais famoso da literatura já mostrou não ser tão saudável dividir tudo assim. Tá aí o Romeu que não me deixa mentir. 
Romeu? 
Romeu????

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