sexta-feira, 21 de setembro de 2007

EU NÃO VI, mas...


Como já dizia Sílvio Santos: "O filme é muio bom. O filme é ótimo. Eu não vi, pois o filme é inédito. Mas minha mulher viu, minha filha viu, meu síndico viu,..."
Agora que 'Tropa de Elite' já teve sua primeira sessão no cinema, todo mundo pode dizer sem medo ou hipocrisia que viu, sim, e daí?
Claro que a qualidade do filme é excelente, e que a gente sai do cinema (?) meio como saía de 'assassinos por natureza', doido prá alguém mexer ou olhar estranho e a gente poder exercitar nossa inteligência transbordando pela mão em soco.
Claro que é um retrato corajoso de como o sistema faz tudo pro próprio sistema não funcionar. Mas confesso que me preocupa a polêmica em torno do filme ser focada só na pirataria. Que por mais que ele retrate uma realidade, a realidade retratada não foi questionada nem um pouco. Pelo contrário. Fica só uma afirmação: A REALIDADE É ASSIM. E PRONTO. Quem não sabe disso é alienado. Mas o problema aí não está em saber ou não saber. Está na aceitação disso tudo sem o mínimo questionamento, sem a menor perturbação das almas.
Então o filme, que era prá ser polêmico - pois descreve os tipos mais medonhos que a gente convive, pois coloca a tortura como instrumento plausível de ser usada, amplamente aceitável dentro do contexto, pois levanta que o uso da força é o que vale - acaba sendo um filme descritivo.
Eu me choco quando vejo que a tortura ainda é usada. E muito. Mas me choco mais ainda quando ela é aceita sem pestanejar como mero fator da realidade. Imutável. Certa. Cristalizada.
E você? Qual a cor da sua farda?

7 comentários:

Anônimo disse...

Com certeza esse filme faz com que nosso lado mais perverso aflore, a ponto de falarmos "pede pra desistir, pde pra desistir!!!!" caso alguém pise no nosso pé na saída do filme.
Quanto à crítica, acho que as pessoas, além do gostarem de sangue e porrada, viram que a tortura foi usada para o "bem" (prender bandido e lutar contra as drogas). Existe a sensação de vingança contra tudo de ruim na nossa sociedade. Quem está contra ela, é inimigo, então tudo é válido para eliminá-lo.
Essa é minha opinião.
Eu gostei do filme, da filmagem, da narração. Acredito muito no cinema brasileiro, na capacidade de se fazer bons filmes.

Beijos, Soraya!

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Eu também gostei do filme. Claro que ele é muito bem feito. Só que o achei extremamente perigoso justamente pela sensação de 'justiça' que o acompanha.
Essa justiça é questionável por alguns aspectos. Não defendo traficante ou usuário. Não é isso. Mas o fato de mostrar a polícia corrupta e ter como 'única' saída a tortura, e ainda se omitir de qualquer responsabilidade por isso - quem mata não é quem atira, mas quem fuma maconha - é um perigo, sim.

E viva o cinema nacional. Sempre.
só achei curioso esse filme ser pirateado quando sofria ameaça de proibição.
Mas por que não consigo comprar o filme do Betinho no camelô?

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Tamires, reli seu comentário. e vi a palavra 'perverso' lá.
É isso o que critico.
o lado perverso levado numa boa. aceito sem pestanejar. não é crítica ao filme. é crítica à falta de crítica.
quando a gente compra alguma coisa na loja de 1,99 a gente sabe que foi feitona China, com mão de obra escravo. então é um pouco responsável por isso, sim. mas se o produto custasse 2,99 e o trabalhador fosse bem pago não seria bem melhor? nós ainda compraríamos e não haveria escravidão. e aposto que ninguém deixaria de consumir. mas a culpa é nossa também. nossa e de quem escraviza. claro. e é isso o que não pode ser esquecido. culpar só o usuário, o consumidor, os pais, não resolve. quem atira, quem escraviza, quem mata, quem bate em prostituta - ou suposta prostituta - deve ser responsabilizado sim. não dá prá ser diferente.

Anônimo disse...

Assiti pela segunda vez o filme com um pessoalzinho que ainda não tinha visto. O comentário foi: "Pensei que fosse mais violento". As pessoas esperavam mais violência!
Aonde estamos? O Rio está muito ruim mesmo pra o que foi mostrado no filme ser considerado normal.
Converso com o pessoal do trabalho que mora em favela ou perto de alguma e eles falam com a maior naturalidade sobre bandidos na porta de casa, tiros.
Eu não me acostumo, nem um pouco!

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

É exatamente isso. Não dá prá se acostumar ao risco iminente de tiro na cabeça.
E não é com outra ameaça de tiro, tipo, vamos ver quem atira primeiro, que se resolve nada.

Anônimo disse...

Vamos fazer uma camiseta com o seguinte slogam:NÃO QUERO UMA TROPA DE ELITE. QUERO UMA TROCA DE ELITE

Anônimo disse...

Como cinema, é um ótimo filme para entretenimento. Mas só isso.
O Filme é apenas 1 ponto de vista de todo um contexto.. e ai que tá o problema, o facismo Coletivista e o maniqueismo pelo qual se intera.
è muito preocupante assistir a reação da massa e se for de todo trágico é Melhor ve-los aplaudir o Bope do que aplaudir o Zé pequeno. Não esquecendo nunca que os dois tipos são vitimas de uma sociedade sem educação, coletivismo e cultura.