segunda-feira, 13 de agosto de 2007

CRÉDITOS


Faz pouco tempo postei um poema aqui no blog supostamente roubado de um amigo.
Claro que prá roubar de amigos a coisa é muito outra. A gente avisa, pede com jeitinho, diz que se apropriou e promete um chocolate em troca.
Acabou que nesse ato ganhei 100 anos de perdão - ladrão que rouba ladrão...
O poema já tinha sido roubado há tempos.
Mas essa não é a questão primordial aqui não.
O que me gritou aos ouvidos foi o modo como a gente lê um autor, e o modo como lê outro. A diferença está toda na assinatura.
Quando o poema era ainda de meu amigo eu o achei brilhante, sereno, simples. Quase li com o sotaque e a entonação de quem eu já conhecia.
Parece que já tem um preparo nosso, meio que abrindo espaço no peito prá poder caber, prá absorver aquilo tudo que ainda vai ser lido.
No entanto, - e eis aí nossa questão - ao descobrir o verddeiro autor daquelas linhas, minha interpretação foi completamente diferente.
Fiquei perplexa em como aquilo tinha me chamado a atenção.
Mas isso não se dá só na arte, não.
Um filme bom que ainda passa por aqui é o brasileiro "Proibido proibir" que levanta uma questão mais ou menos parecida.
Ele faz uma denúncia fortíssima a respeito da manipulação de informações. Ou seja, se o cara é preto, pobre, favelado, e vê o que não devia, fatalmente se algo lhe acontecer ele será colocado como o vilão da história, como o traficante ameaçador, como quem atirou primeiro.
Não importa muito o que ele diga, pouca gente lhe dará ouvidos.
Sua assinatura não cola. Não tem crachá ou instituição que o banque.
Tem que ter uns pré requisitos prá poder ter direito à credibilidade. E essa acaba dependendo de quem é a outra parte envolvida.
Mas como fui da poesia ao grupo de extermínio?
É que a estrutura é a mesma. Não importa a lógica, o argumento, a 'justiça',... Nossa escuta já está meio contaminada.
E se a gente só abrir os ouvidos e olhos prás assinaturas já conhecidas, prás idéias já pré concebidas, prás teorias já adotadas e comprovadas...
Vai sobrar realmente MUITO POUCO.

3 comentários:

Anônimo disse...

Amigo que é amigo avisa que o poema já é roubado. E sabe o que mais? Adivinha a quem foi roubado este poema:

MOÇA BEBENDO ÁGUA

Num certo Café Paris
a linda moça, de olhar gris,
bebe água.
Moça feliz.

Mas a moça não sabe, ela que não usa anágua,
que há um longo cano antes do seu copo d’água;
e que há um reservatório antes do longo cano...
E antes do reservatório há uma adutora;
e antes da adutora uma estação, em contínuo produzir,
com filtro limpando a água de ir e vir
e botando água pra moça e moço beber...
E antes do filtro uma motobomba madrugadora
no sobe-que-sobe da água, sem parar,
pelo encanamento que não reclama de dor...
E antes da bomba está o inquieto manancial...
Todo ofegante, o manancial, e palpitante assim.
E antes desse manancial se estende o rio.
E antes do rio está o manancial subterrâneo, por fim,
que se formou com as nuvens de forma natural.
A chuva que cai limpa das nuvens
que subiram de outros reservatórios e do mar,
para acordar debaixo da terra... (não faz mal)
e seguir viagem até a fonte do rio caudal.

A fonte é um dom, que fazer?
que forma o rio que se polui sem querer...
Chega o rio ao manancial, enfeitado de podre,
noite e dia, dia e noite – é seu dever –
e vem o sol e crescem algas
que, junto com a água, vão para o filtro
que bota água pra moça e moço beber.

Quedê a água limpa daqui?
homem sujou.
Quedê o homem?
está tratando a água.
Quedê a água?
Moça bebeu.
Mas a moça, onde está?
está no Café Paris.
Moça feliz.

Paulo Nideck disse...

Já dizia um professor meu:
A sociedade trata bem quem fala bem e quem se veste bem.

Por isso é mais fácil o cara te roubar de terno do que vestido de trapo.

Maristela Trin disse...

BINGO!
COMO É MEU NOME MESMO?