segunda-feira, 16 de julho de 2007

"NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA"


Essa é a frase mais famosa de Drummond. Apesar de tudo o que ele já fez, todo mundo sempre pára na pedra do meio do caminho.
E fica ali, estático, sem pular a pedra, sem tirá-la do caminho, sem desviar dela, ou mesmo sem continuar o percurso olhando pro céu, nem aí prá pedra alguma.
A pedra estava lá. e estagnou o percurso. Virou obstáculo consideravelmente enorme, já que impediu todo mundo de continuar.
Contra a pedra não tenho nada. Como a pedra há a árvore, o córrego, o prédio, o sinal de trânsito, a moça bonita, o pivete,..., tudo no meio da estrada. Enchendo de novidade o dia.
Mas por que parar por causa da pedra? E deixar de aproveitar todo o resto?
É uma pergunta importante, que talvez nem todo mundo se faça.
Afinal, a gente empaca o tempo todo...
Essa paralisação rochosa não é feita assim tão de caso pensado, não.
Ela tem vários nomes, e o mais usado pode ser "resistência", o que em psicanálise é a força teoricamente contrária à do analista. Aquela que o sujeito faz prá continuar recalcando, prá deixar longe dos olhos e da percepção o que possa vir à tona causando reboliço.
Em suma, enquanto a análise faz um esforço danado para trazer à consciência o que ficou inconsciente, a resistência, ou a pedra no caminho, faz o esforço contrário prá fechar no baú, no fundo do mar mais fundo, o que foi recalcado.
É como espécie de placa de trânsito dizendo prá gente parar.
Não avance! Se mexer, pode doer.
E nem chegar a um texto até o final a gente consegue. Pára numas coisinhas às vezes tolas, às vezes sem importância nenhuma, só prá não ter que falar ou ouvir sobre um assunto.
Tá lá a pedra estendida no chão (que me perdoe João Bosco). Prá evitar sentir ou lembrar; para, a princípio, proteger o homem, acaba empacando-o, paralizando-o, só prá ele continuar ali, parado, estático, diante da pedra.

8 comentários:

Paulo Nideck disse...

Adoro seus textos.
Eu nunca tinha visto o obstáculo com essa percepção, essa de não querer mudar.
É mesmo incrível como nós fazemos força para não mudar, como o medo de mudar paralisa completamente. Temos sempre de enfrentá-lo.

Obrigado por iluminar minhas idéias, sempre.

Beijos.

Anônimo disse...

Mas temos também

A EDUCAÇÃO PELA PEDRA

de Joãop Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

não entendi o que uma pedra tem a ver com a outra.
será que vc está querendo me dizer alguma outra coisa?
faça contato, Romane.
soraya.magalhaes@gmail.com

Anônimo disse...

O que uma pedra tem com a outra? Ora, o que tem o golfinho a ver com o anjo? Tudo, uai!

Anônimo disse...

Explico, se necessário:
“Um homem que se apega às harmonias, que associa as estrelas apenas aos anjos, ou os cordeiros com as flores primaveris, corre o risco da frivolidade porque adota somente um modo num determinado momento – e depois, passado esse momento, ele pode esquecer o modo em questão. Mas um homem que busca aproximar os anjos e os cachalotes, deve ter uma visão bastante séria do universo”.
Foi o que escreveu Chesterton, de acordo com Simon Leys, “L’ange e lw cachalot”, 1998. Traduçãozinha complicada esta!

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Romane, Romane...
Quero só ver uma frase toda sua.
sem citação.
fiz o desafio. topas?

Lucky Leminski disse...

O pior é quando as pedras caem do céu, feito chuva de meteoros, perseguem e soterram a ponto de nem mais reconhecermos o caminho!! He,he,he, isso dá até música... valeu pela inspiração!!
Bjs

Anônimo disse...

Ah, não seja por isso. Vão aí logo três:

-- Adeus, estatísticas! Serei eternamente o último dos mortos.

-- A nuvem não sabe, mas chove.

-- A ilosofia é realmente fútil na busca de felicidade?