quarta-feira, 11 de julho de 2007

SOU TODA OUVIDOS



Tem uma frase importantíssima do Winnicott, aquele pediatra-psicanalista-inglês que já comentei, que diz o seguinte:
"O bebê não existe!"
A princípio ela choca um pouco, pois para alguns já remete à imposição de força, como se ele, o bebê, fosse mero joguete na mão de adulto.
Até parece né?!? A gente sabe muito bem que um bebê se esgoela e berra mesmo, de verdade, "dicumforça", quando alguma coisa não agrada.
Então voltemos à frase.
Winnicott dizia que um bebê só pode existir, e saber disso, se tem os cuidados adequados. Senão, ele só reage, ele só sobrevive, ele só... é só. Ele nem é.
Lembrando disso, me vem à mente uma crítica de um palestrante muito prático, que de tão prático chegava a ser... deixa prá lá.
Dizia ele que psicanálise - e no mesmo saco a psicologia, a religião, o aconselhamento da vizinha,etc, - não serve prá nada, pois a resposta a gente tem que achar sozinho.
Eu só fico imaginando que pensamentos, que respostas são essas que a gente supostamente acha sozinho. Já que sozinho, como o bebê aí de cima, a gente pouco sai dos coeiros. Não há relação, conversa, riso, choro, vela, quiçá fita amarela. Não há caminhos outros. Há só a repetição. O mantra de um si mesmo um tanto pobre, pois não sabe trocar.
A gente faz de conta que dá conta de tudo sozinho, e vai seguindo o caminho, andando pela rua, assobiando, mão no bolso, dizendo "Eu me basto! Eu me basto!"
E pára na banca de jornal e dá de cara com um monte de revistas ensinando a viver, a discutir relacionamento, a tratar pais, filhos, cachorro, papagaio... E nem se dá conta de que aquelas técnicas só servem pros últimos, os que não vão contra o que a gente fala, pois a única coisa que são capazes de fazer é repetir.
Mas tem uma coisa que escapa à nossa percepção. Todos esses "vida, modo de usar", sem exceção, falam de diálogo. Numa tradução grosseira, é uma lógica prá dois. Não a lógica do maior, do mais forte, do mais chato, do que fala mais, do que chora, do que bate,... Mas uma conversinha que conte com pelo menos dois pontos de vista.
O que implica em, no popular, seguir à risca o ditado do "quando um burro fala, o outro abaixa a orelha."
E isso, definitivamente, não é prá qualquer um - ou qualquer dois.
Geralmente, quem propõe o tal diálogo pensa algo como "vou expôr meu ponto de vista e ele, o outro, vai entender e mudar." Mas aí vem a resposta, que estraga tudo. O outro também quer mudanças, também quer falar, também quer ser ouvido.
E eu daqui pergunto o porque de ser tão difícil ouvir e ser ouvido?
Bom, acho que já falei demais...
Tô esperando sua vez. Afinal, o sem orelha aqui é só o Van Gogh.
Eu?
Sou toda ouvidos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Sou mais Albert Szent-Györgi, o descobridor da vitamina C, que no início do século XX afirmou:
-- A VIDA NÃO EXISTE.
Brincaderinha. Mas a vida não existe enquanto tal como objeto de investigação científica, já que seus mecanismos se reduzem a interações químicas. Estas apresentam, às vezes, características particulares, notadamente fenômenos de memória, como justamente a memória genética, mas isso é tudo.
É o que ensina Henri Atlan, médico e biólogo, professor de biofísica na Universidade Paris-VI e na Universidade de Jerusalém, é autor de vários trabalhos científicos em biologia celular, biofísica e inteligência artificial.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

e você? o que diz?

Anônimo disse...

Digo que la vida es sueño, por supuesto.

Anônimo disse...

Pra ser mais exato:

¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

Anônimo disse...

Eu não queria entrar no assunto, mas um amigo me aporrinhou tanto até que eu enviasse a seguinte mensagem:

AUDIÇÃO / ANATOMIA DA ORELHA
O órgão responsável pela audição é a orelha (antigamente denominado ouvido), também chamada órgão vestíbulo-coclear ou estato-acústico.
A maior parte da orelha fica no osso temporal, que se localiza na caixa craniana. Além da função de ouvir, o ouvido também é responsável pelo equilíbrio.
A orelha está dividida em três partes: orelhas externa, média e interna (antigamente denominadas ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno).

ORELHA EXTERNA. A orelha externa é formada pelo pavilhão auditivo (antigamente denominado orelha) e pelo canal auditivo externo ou meato auditivo.
ORELHA MÉDIA. A orelha média começa na membrana timpânica e consiste, em sua totalidade, de um espaço aéreo – a cavidade timpânica – no osso temporal. Dentro dela estão três ossículos articulados entre si, cujos nomes descrevem sua forma: martelo, bigorna e estribo. Esses ossículos encontram-se suspensos na orelha média, através de ligamentos.
ORELHA INTERNA. A orelha interna, chamada labirinto, é formada por escavações no osso temporal, revestidas por membrana e preenchidas por líquido. Limita-se com a orelha média pelas janelas oval e a redonda. O labirinto apresenta uma parte anterior, a cóclea ou caracol - relacionada com a audição, e uma parte posterior - relacionada com o equilíbrio e constituída pelo vestíbulo e pelos canais semicirculares.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Do ponto de vista médico, está certíssimo.
Confesso que já tive crises de riso com um amigo médico por causa dessa mudança de nomenclatura, seguindo os padrões norte americanos - aquele país famoso por seu rebuscamento intelectual e linguístico. hehehe
Mas e a palavra?
Matamos?
O verbo ouvir vira orelhar?
Acho que se eu trocasse o título dessa postagem para "Sou toda orelhas" a primeira coisa que me viria à cabeça seria a de um Homem-Dumbo, capaz de causar inveja a qualquer pasageiro que se veja obrigado a esperar em aeroportos...
Mas deixemos à linguagem técnica aos técnicos.
aqui? não tem muita norma. Só mesmo a do Freud: "Diga tudo o que lhe vier à cabeça"

Lucky Leminski disse...

Acho que a condição humana é de total e eterna imaturidade. Por mais maduros e evoluídos que possamos parecer, estas condições são palpáveis em relação ao passado, o presente sempre parece confuso e o futuro expõe ainda mais esta condição de despreparo. A escuridão fundamental do ser humano é a imaturidade e a ganância em estado bruto, aquela que já conduziu a civilização a incontáveis guerras, e realmente revela uma condição de total infantilidade e inconseqüencia própria dos bebês. Digo tudo isso mas eu sou otimista, acho que o riso é a salvação e que por sinal também é uma coisa bem infantilóide, rir da própria desgraça como se não tivesse a noção do prejuízo!! He,he,he,he!!!
Bjs