sábado, 28 de abril de 2007

CALMARIA

Tem uma frase ótima do Veríssimo que diz mais ou menos assim: A vida é que nem novela! Tem 3 ou 4 dias importantes, o resto é só encheção de linguiça.
Veríssimo e vocês que me perdoem por eu não fazer a citação corretamente, mas fiquei com a essência.
Essa encheção de linguiça mencionada acima parece ser aquela enganação de vida que a gente passa por ela o tempo todo.
O Freud ficou muito tempo explicando isso, e se confundiu, e mudou de idéia, e voltou atrás - como bom pesquisador que era -, e foi adiante, e concluiu que a gente acaba repetindo muita coisa por causa do instinto de conservação. Em outras palavras, é mais ou menos assim que funciona: O sujeito vive uma experiência qualquer, e mesmo que ela dê errado, mesmo que traga sofrimento, mesmo que nem dê em nada, ele acaba por repetir essa experiência sempre, sempre, sempre, como se ela fesse a única forma, como se tivesse dado certo.
De certo modo, até deu, pois se desse errado ele morreria, e não poderia repetir.
E já que começamos com citações mal feitas, vamos pro Chico Buarque, e seu cotidiano, que fala mais ou menos disso.
Todo dia ela faz tudo sempre igual...
É engraçado como na versão do Chico ele canta beeeeeeeemmmmmmm de-va-gar, arrastado até, mostrando uma certa preguiça de fazer alguma coisa diferente. Fica um "prá quê mudar?" subentendido. Já na versão de Seu Jorge e da Lua parece um 'sempre igual' com um tempero meio TOC - transtorno obsessivo compulsivo - daqueles que ficam limpando e inventando trabalho ininterruptamente, parecendo atribuir certa nobreza e utilidade à existência, só prá poder ter desculpa de não ter dado chance ao diferente por pura falta de tempo.
E o que é que a gente realmente ganha com essa calmaria toda? Com essa falta de novidades diárias? Com essa pseudo-segurança de todo dia, que faz a gente aguentar casamento chato, emprego ruim, cidade barulhenta - ou silenciosa - demais pela eternidade afora.
O Freud já afirmou que era por causa da pulsão. Pulsão de vida, de conservação, que na nossa crença protege a gente da morte, garantindo nossa sobrevivência.
Mas a nossa crença é primitiva demais. E se não investigarmos suas causas passamos a vida sem viver. Só fugindo da morte.
E eu provoco aqui: Isso lá é vida???
É curioso como a gente é capaz de passar tanto tempo vivendo de um jeito, sem perceber que o tempo passa, sem possibilitar mudança nenhuma.
Nenhuma cena importante. Nenhum personagem novo. Nenhuma emoção. Essas, aliás, convém evitar. Afinal, o que fazer com elas depois?
E respondendo a isso, lembro de um filme antigo maravilhoso chamado 'Zorba, o grego', no qual o personagem de Anthony Quinn, que dá nome ao filme, oferece a seu patrão/amigo a seguinte pérola: "A vida é encrenca. Só a morte é sossego. Viver é procurar encrencas."
Acho que não preciso dizer mais nada.

essa foto bucólica DEMAIS aí de cima nos remete ao mito de Ulisses, que ficou uns 10 anos prá voltar prá casa depois que a guerra de Tróia acabou . Ele sofreu com a calmaria dos mares, que não o deixava sair do lugar enquanto ele não fizesse um sacrificiozinho.

terça-feira, 24 de abril de 2007

NA REAL - COMO 2 E 2


E a discussão entre Real e Virtual não parou, não.
Ao contrário, ela vai dar ainda pano prá manga, prá gola, pro Passeio Completo.
Chego a achar graça de como o virtual hoje vem ganhando espaço na vida da gente. E ao mesmo tempo, ocupa um lugar de vilão de todos os tempos.
Já começa pela mera fila de banco, ou da operação não realizada.
- O sistema está fora do ar. Sinto muito. Volte mais tarde.E a máquina é a responsável por tudo.
Vira e mexe sai alguma coisa sobre no jornal que confirma essa idéia. Jovens embriagados capotam de carro; mulher toma veneno de rato, cumprindo a palavra no pacto de morte; adolescente tímido, introvertido, desaparece de casa após marcar encontro pela internet. E a culpa é de quem?
Ora bolas. Elementar, meu caro Watson: Só pode ser do ORKUT.
É realmente curioso como a orientação dos pais, que antes deveria ser :"coma alface, não veneno". ou simplesmente "se beber, não dirija", passa a ser "sai desse orkut que isso só traz desgraça."
Ops. toc, toc, toc. pé de pato, mangalô três vezes
E o mundo virtual passa a ser atacado, curiosamente, com suas próprias armas. Ou seja, a linguagem binária. 1 ou 0. Não tem outra alternativa. Não dá prá ser meio termo, outro termo, vários termos...
Fica um 'ou isso ou aquilo' de dar dó, empobrecendo qualquer discurso mais aprimorado sobre a atualidade. Parece até que o ser humano é sempre tão simples - chegando até a ser simplório -, tão exato, tão inteiro e racional, como se uma ação resultasse sempre, inequivocamente, em uma determinada reação.
O cinema americano, nesse ponto, estava certo. Será? Ou se é mocinho, ou se é vilão. Com o risco sempre de a vítima - de incesto, de holocausto, de incompreensão e de injustiça - virar psicopata e sair esquartejando gente por aí, arrancando o couro, literalmente. Tá aí o novo filme do Hannibal que não me deixa mentir.
Dia desses, o próprio Papa já anunciara o fim do limbo, tomando da gente qualquer chance de ficar pululando por aí, enquanto espera julgamento. É pau. É pedra. É o fim do caminho.
Tudo com ponto final, prá não dar chance a reticências dizendo que a história continua; a ponto e vírgula, mostrando um fim nem tão fim assim; a vírgula, dando chance de o enredo precisar de mais gente que se possa enumerar.
Mas e prá quem não aceita só um tipo de explicação? Só um caminho? Só uma receita de viver a vida? O que resta?
Só chamando Manoel de Barros, e o abuso que ele faz das palavras, prá ajudar aqui.
Aproveitem!

A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,
que aponta o lápis, que vê a uva, etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o mundo usando borboletas.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

DO INFERNO...



Nunca conheci ninguém que tivesse mau gosto!!!
Essa frase, a princípio, pode parecer estranha diante da cafonice do mundo. Diante das desigualdades e deselegâncias. Mas continuo batendo o pé e afimando: Não conheço - ou mesmo tenho notícia de - alguém que tenha mau gosto.
Todo mundo tá sempre afirmando por aí seus valores, sua sensatez, seu bom senso e clareza, sua capacidade de discernimento apurada.
Canibal é sempre o outro. Já dizia qualquer pesquisa antropológica em qualquer tribo que já se tenha notícia.
É incrível a capacidade do Homem (que me perdoem os politicamente corretos, mas acho esse termo mais interessante)de atribuir a outra pessoa as qualidades - e defeitos - com que ele não consegue lidar em si mesmo.
Citando o vesgo Sartre, "o inferno são os outros". Mas por que a gente não consegue ver com tanta clareza tudo de bom que esses outros têm prá oferecer?
E a gente sai pondo no outro a culpa de tudo de ruim que nos acontece. Seja esse outro o vizinho, o marido, a mulher, o filho, a cachaça, o demônio, o gen do mau humor...
E Deus, distraído que só ele, parece ter umas ausências na hora de nos defender. De nos livrar de todo mal. E faz questão de forçar a barra prá gente poder se deparar com o "inimigo".
Claro que é mais fácil colocar no outro o foco de ameaça. E sair pela vida, de arma na mão, exterminando tudo o que represente a alteridade. Mas a questão que levanto aqui é outra. A do encontro. A do reconhecimento do outro como necessário a nossa sobrevivência. Seja ela física ou psíquica.
Então tá feita a proposta. Que tal olhar pro lado um pouquinho e enxergar o que está a volta?

A propósito, essa sombra aí da foto é sua?

terça-feira, 17 de abril de 2007

SIGA O CAMINHO DAS PEDRAS AMARELAS

Tem hora que tudo o que a gente quer é uma direção indicada.
Hora em que a escuridão toma conta de tudo, e angústia parece ser o único sentimento possível. "Eu não sei o que fazer da vida, não. Vou procurar alguém que saiba isso prá mim." E a busca pelo mapa, pelo caminho, pelo fio de Ariádne que livra do labirinto começa.
Cartomante, pai de santo, auto-ajuda, brincadeira do copo, placa de trânsito, oráculo, horóscopo, guru, biscoito da sorte,... Qualquer coisa que me dê um sinal de que não estou sozinho no mundo, e tenho alguém prá me orientar nessa deriva total que me encontro. E me perco.
Qualquer coisa que me mostre uma luz, uma lanterninha, um vaga-lume sequer.
E fica-se pelo mundo aprendendo simpatia, pulando sete ondas, dormindo com a cabeça no sereno e o pé na bacia. Tudo prá resolver aquele problema. Só aquele, que é o único empecilho prá felicidade chegar e tomar conta de tudo de vez.
Mas a gente não segue qualquer um não. Isso é que não.
O critério é rigoroso.
Parece que a gente procura justamente alguém que diga o que a gente QUER ouvir, por isso o crédito. Queremos correligionários no que já sabemos. Alguém que diga, com a própria boca, o que nós já tínhamos pensado, confirmando a nossa tese.
Claro que não há mal algum em sair por aí procurando respostas. É até bem louvável que se tome essa atitude. E às vezes a gente não pode mesmo seguir sozinho. Precisa de um empurrãozinho. Precisa acreditar que tem alguém segurando a nossa mão. Precisa saber que se gritar, alguém vai ouvir.
Outro dia li o que uma pessoa escreveu a respeito de psicanálise, como se o Freud tivesse afirmado um monte de coisas que ele jamais fez. O barbudo tá dando piruetas no túmulo até agora, fazendo inveja a contorcionistas chineses, brabo com mais uma pseudo-citação de sua obra. Segundo o que li, a função da psicanálise é mostrar a veradde pro paciente.
Fica a pergunta aqui:
Verdade de quem, cara pálida?
Fui tomada de cólicas e tonteiras sem precedentes. Não é justo. Não é justo.
Pois bem, eu dou uma palhinha do que seria a função da psicanálise aqui. Rapidinho, prá fixar bem.
Esse jeito de prestar atenção nas pessoas e seus afetos que Freud foi descobrindo e inventando trata justamente do contrário, da contra-mão. Ao invés de sair ensinando os outros a viver, como se alguém o soubesse realmente, melhor descobrir, junto com a pessoa, o melhor jeito de ela própria estar no mundo.
É só uma sugestão.
Às vezes trabalhosa, mas por isso mesmo muito mais atraente.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

MÁQUINAS

Já faz tempo que um barbudo, de charuto em punho, que levava a fama de sair explicando tudo pela vida afora, começou a valorizar uns fenômenos que ninguém dava muita bola prá eles.
No princípio eram os sintomas das histéricas. Os médicos teimavam. Diziam que era fricote das moças todas as paralisias, afasias, anestesias e tantas "sias" sofridas por elas, e o tal barbudo teimava em dizer que aquilo significava alguma coisa. Ele ainda não sabia o quê, mas sabia que naquele mato tinha cachorro. Logo depois, ele começou a prestar atenção nos sonhos. Sim, os sonhos. Afirmando haver algum sentido naquele saco de gatos que aos olhos dos outros não tinha sentido algum.
Só que ele não parou por aí não. Além dos sonhos, dos chistes, das fantasias, e até dos mitos, já velhos e esquecidos, estava alguma coisa que ele não sabia bem o que era, mas que julgou necessário investigar até não lhe sobrar mais tempo prá nada.
E ficou com aquela idéia fixa: a do tal INCONSCIENTE, o qual se manifestava através do que a ciência da época chamava de lixo, e descartava procurando a "verdadeira verdade" das coisas.
Claro que o barbudo em questão é ninguém menos que Sigmund Freud, mencionado em linguagem chula, em estruturas nada acadêmicas, pra gente perder o medo logo dessa personagem.
Mas o tempo passou, a técnica da psicanálise foi difundida pelos quatro cantos, e encontramos agora uma outra discussão. Nem tão OUTRA assim, nem tão nova.
Trata-se da batalha do real com o virtual, e de como essas duas visões se fundem e se enfrentam.
Acontece que o virtual, geralmente, é associado como antagônico do real, como se ele representasse a mentira, a fantasia - e lá vamos nós de novo - o sonho..., ou mesmo um ensaio geral antes de o show começar. Intelectuais de plantão se acotovelam para separar esses mundos de maneira eficaz e decisiva.
Fica a pergunta aqui: será que essa separação é realmente útil? Afinal, se paga contas virtualmente, se conhece pessoas virtualmente, se encontra amigos de infância virtualmente, se estuda, trabalha, faz compras,..., virtualmente. Então será que essa parte é mentira? É irreal?
Creio que há hoje uma má vontade - ou até preguiça - em olhar com bons olhos tudo o que podemos fazer com os instrumentos que estão à nossa disposição. Mas creio também que, se perdermos tempo tentando agradar a todos, nossas possibilidades de encontrar algum significado pros nossos atos, como fez o barbudo citado acima, se escassearão bastante.



Afinal, cadê o homem da foto? Só vejo sua IMAGEM.

sábado, 7 de abril de 2007

Contato - Soraya Magalhães

Utilize o formulário para:

- marcar sua consulta on line
- tirar suas dúvidas
- sugerir temas a serem abordados






Nome:



E-Mail:



Assunto:



Mensagem: