terça-feira, 9 de dezembro de 2008

YES, WE CAN

Agora não tem mais jeito!
Até o Obama já assumiu que estamos todos em crise. Não dá mais
prá esconder, varrer prá debaixo do tapete, assobiar musiquinha, chamar de marolinha, pôr chapéu com sobretudo e jornal na cara num sol desses (ou numa enchente dessas) ...
Todas as alternativas acima já foram testadas cientificamente -
prá quem gosta dessas coisas de sair provando pro mundo - e (re)provadas no teste de eficácia da estratégia.
Não dá
prá fingir que o copo está inteiro. Ou dele escorre a água, ou você racha a boca.
Por um lado dá até um certo alívio de saber que os
States estão assumindo a crise com força total. Assim a gente não precisa disfarçar tanto por aqui. Afinal, ouvi a vida inteira por aí que "O que é bom para a América, é bom para o Brasil." Deve servir prá alguma coisa essa frase.
Quanto à crise
econômica no Brasil, acho que nem é tão difícil resolver. É só ver a conta mais alta que a gente paga e desempregar todo mundo que faz parte dela. Ou seja: desemprego pros políticos já!
Já as outras... Ah, as outras... Essas primeiro têm que aparecer
prá gente depois destrinchar feito frango de padaria. E só assim desatar os nós.
Não conheço época do ano mais propícia à avalanche do que a que antecede o natal - uma amiga chama de
TPN (tensão pré-natal). É incrível como fica todo mundo muito chateado de não ter uma família como as das propagandas de margarina. E levam isso a ferro e fogo, esquecendo até mesmo o gosto terrível que só as margarinas têm. Ou seja: TUDO ali é de mentirinha.
Só que o mais difícil de tudo é afirmar como fez O eleito que tá tudo ruindo, sim. Que agora é a hora de tomar uma atitude. De rever o que incomoda. De levantar o colchão
prá tirar aquela ervilha que entorta a coluna e causa dor a cada passo.
Agora que ele já fez o serviço sujo, você , rei nu, faz o que com essa informação?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

PSICOSE ou O OUTRO LADO


Ontem saiu no Globo a coluna do Jabor falando da psicose como marca de uma nova era. De como ultimamente - detesto esse termo, parece que no princípio tudo eram flores, embora eu já tenha lido por aí que era o caos.
Mas voltando aqui, parece que nos últimos tempos o perfil da gente mudou. Que não torcemos mais pelo mocinho da boca mole e sim pelo bandido-sedutor-psicopata e fatiador dos mais fracos. Segundo o Jabor, estamos virando todos psicopatas.
Eu, sinceramente, não consigo acreditar tanto nisso. E me explico
aqui rapidinho, antes que o Jabor me pique em pedacinhos me chamando de qualquer coisa.
(Pensando bem, até parece que ele se daria ao trabalho de fazer isso com mera mortal como eu. Mas essa pretensão minha vem a calhar, afinal, não é isso o que a vítima acaba buscando? Um lugar importante no filme, nem que seja o de estrogonofe?)
O psicopata da ficção acaba tendo um papel social muito mais importante que o do mocinho, e não só por suas falas serem muito mais elaboradas e interessantes.
É que assim a gente pode identificar um inimigo , uma ameaça, só que do outro lado - do lado de fora. Fora de nós. Preso na tv.
O Judas é linchado, a bruxa morta, e o psicopata sempre acaba seus dias preso - louco ou não.
Mas até lá, todas as energias estão voltadas para o momento de desmascarar o vilão.
Assim, o vilão que mora aqui dentro, que empaca e não gosta de brincadeiras, que acha tudo uma bobagem infantil e desvaloriza cada idéia ou prazer que temos tem um descanso e pode deixar a gente em paz uns minutinhos, nem que tenhamos que usar a ficção como forma de anestesiar um superego sempre alerta.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

FIGURINHA FÁCIL


Se tem uma palavra que de tão usada, mas tão usada, já tá até gasta e poída, e comida de traça e mofo é a palavra "liberdade"!
Impressionante como prá qualquer coisa vem sempre um gritar aos quatro ventos sua liberdade de fazer e acontecer e encher o saco de quem tá quieto.
Quem for contra é reacionário e pronto. Assim, sem pestanejar, sem pensar muito.
Fica até meio esquisito a facilidade que os ditos 'libertários' têm de encontrar um inimigo comum por este simplesmente usar da liberdade de escolha para não concordar com o que fala mais alto na tribo.
Outra palavrinha fácil, encontrada em qualquer balcão de lanchonete pela atendente sempre muito simpática, é "amor".
Nunca antes na história desse país foi tão simples encontrar o amor em qualquer esquina ou elevador. (amor tem que ter rima, coitado! Por mais pobre que ela seja)
A gente tropeça no amor, atropela o amor, dá carona, faz cerquinha prá ele fazer xixi na rua de madrugada, doa moedinhas prá caixinha do Natal,... Ninguém pode ser acusado de não ter dado tudo de si prá esse amor sobreviver.
...E complementando o rol de palavras usadas demais, lembrei aqui de um nome fundamental: "Freud".
Tive um professor genial que dizia que o Freud era como os tribalistas, naquele refrãozinho
puro amor daquele trio que ninguém aguenta mais.
A leitura que se faz do Freud é promiscuidade pura. É amor livre apreendido. E TODO MUNDO "cita" com propriedade alguma coisa interessante que leu do pobre coitado que faz mortal duplo carpado no túmulo.
"Eu sou de ninguém/
eu sou de todo mundo/
e todo mundo me quer bem..."
Acho que é por isso que quando digo que trabalho com psicanálise vem sempre mais umas 4 ou 9 perguntas me pedindo prá especificar mais um pouco.
Me perguntam se eu expulso paciente depois de 5 minutos de sessão, se faço hipnose, regressão a vidas passadas, se mando tirar a roupa, se mando deitar...
Parece até que sou - somos - muitas madres superioras
educando pacientes.
Confesso que dessa psicanálise normativa eu não entendo nada. E nem quero. Mas como o Freud é 'facinho' de ser amor de tanta gente, tem sempre um viés mais acolhedor prá gente experimentar.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

E AGORA JOSÉ?


Passei do lado de um camburão hoje e tremi.
Os fuzis apontando prá quem passasse por eles. O alvo é qualquer coisa que se mova.
Não que eu deva alguma coisa. Nada disso. Diziam os antigos que "quem não deve, não teme". Mas andando pelo Rio a coisa toda é muito outra.
A culpa masturbatória das crianças, de fazer coisa "feia" com medo de ser descoberto e punido pela justiça onipresente divina dos pais e inspetores nada tem com isso. O medo é de morte. O risco é de vida. E todo dia a gente lê que um ou outro acabou no lugar errado na hora errada e se deu muito mal por isso.
A polícia era feita, no imaginário de cada um, de gente que nos protegia. Enquanto os bandidos eram gente muito má, que matava rindo, e que convinha sempre manter uma certa distância.
Balela!
Não há como fugir de um questionamento dessas posições tão 'seguras' que a gente foi marcando ao longo da vida.
Nem pais protegem sempre, nem chefes "dão" emprego, nem polícia é gente boazinha que serve prá garantir a ordem do mundo.
Não dá mais prá culpar o morto e dizer que ele tinha envolvimento com tráfico, que tinha ficha suja ou que reagiu com violência e ameaçou os policiais - crianças de 2 ou 3 anos não fazem isso.
Políticos, polícia, milícia, pais, padrastos, chefes, padres, pastores, rabinos,... todos estes que, supostamente, deveriam tomar conta da gente, têm se mostrado absolutamente incapazes para essa função. Delegar ficou muito difícil e arriscado. E eu diria até ingênuo.
Pode dar uma solidão danada e um desamparo assustador quando pensamos que esses eleitos não servem para ser a nossa boca.
Mas já imaginou sair pelo mundo falando a plenos pulmões o que pensa da vida?
Coisa de maluco? Pode ser. Mas nem tudo na loucura é sofrimento.

O menino aí da foto (de Evandro Monteiro) enfrentou quem o ameaçava, quem supostamente o protegeria. E segundo a manchete do jornal, inverteu a posição.
Olha que é só uma criança - e das menos privilegiadas. Mas a atitude afirmativa dele diante do poder dispensa meu palavrório.

domingo, 28 de setembro de 2008

A NOVIDADE


Sei que sumi por uns tempos. Mas já voltei.
É que um leitor me fez uma crítica no último post, e me cutucou muito sutilmente - elegante que é - chamando a atenção para a falta de novidades que eu trazia.
Procuro, desde então, novidades para alegrar sua vida. Notícias novinhas em folha, daqui, de lá, de acolá, d´além mar, das produndezas d´alma, do baú de brinquedos, da última publicação, do telejornal,...
Qualquer coisa muito nova prá eu falar aqui.
Não as novidades tecnológicas, farmacêuticas, físico-elétricas, afinal, tenho um estranho defeito que é me interessar muito pelas gentes do mundo.
Por isso escrevo às vezes repetidamente sobre mar e incertezas. Por isso ainda falo de angústias e medos - quando qualquer pessoa que leia o 'da moda' sabe que é só seguir os passos prá acabar já com tudo isso. Pelo menos acabar por uns 4 ou 9 minutos.
Foi aí que fiz um exercício muito meu, procurando a coisa mais nova que eu podia falar, numa associação livre particular que divido aqui com você, não prá ser a palavra final em qualquer assunto - Zeus me livre disso - mas só prá dividir alguma coisa mesmo. Afinal, um mundo só meu não teria muita serventia.
...E achei a maçã.
A boa nova é a maçã!
Aquela frutinha que se coloca entre dois, que faz os homens e as Evas saírem da depressão resignada ao encontro do mundo afora, experimentando tudo, seja lá que gosto tenha.
É que prá falar de gente eu não preciso descobrir o mapeamento genético que determina como x ou y se comportam. Não preciso ler 'o segredo' e todos os 39 livros sobre como desvendar o segredo do segredo do segredo de... vender livros.
Prá falar de humanos de verdade preciso pensar em maçãs.
Sob pena de, aí sim, voltar a um "paraíso perdido" muito do sem graça.
Sem graça, sem cor, sem gosto, sem som, sem fúria, sem desejo.

domingo, 31 de agosto de 2008

CASTELINHOS


"O mar/ quando quebra na praia/ é bonito!"
Salve Dorival Caymmi!
Gosto do mar pelo poder que ele tem. Pela força da água que derruba a gente e ainda faz girar na água, como se houvesse um ralo ali debaixo. Força centrípeta. Acho que é isso...
De quatro, feito mesa de boteco vagabundo, as pernas bambas - da mesa. O apoio é duvidoso. Sempre.
O biquini cheio de areia, o cabelo em escultura, a boca em pânico sem saber se grita, ri ou chora.
É o caixote!
O tão famoso caixote que destrói reputações e castelinhos.
Tem hora que não dá prá fingir que nada aconteceu e que o controle está em nossas mãos. Duvido alguém aí abrir a porta do castelo de areia tão bem construído. Duvido alguém aí se instalar nele e dizer que resolveu morar ali.
Tá aí a graça do mar: Ele abala! Ele escancara as crises. Ele esfrega na cara que como está não pode ficar. Então é melhor se entregar às ondas até achar a hora certa de sair da água.
Por que é que a gente nega sempre quando vai tudo mal? Por que é que a gente teima em manter umas ilusões quando até o vento já anuncia a destruição da "terra firme"?
O salva-vidas fica ali espreitando, esperando um aceno que nunca vem. Melhor morrer afogado a matar de vez a ilusão?
Sei não.
Duvido que os gatos, de sete vidas, se arrisquem assim no mar.
E como no quadro de Magritte aí embaixo, às vezes é preciso ver que os castelinhos são de areia. Que isto não é um cachimbo. Que os sonhos são... sonhos. E que a segurança da ilusão, (in)felizmente, não é à prova d´água.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

JOVEM E BONITA PROCURA...

Mês passado saí de férias - é o nosso segredinho. Se os pacientes souberem, eles se sentem abandonados e se vingam todos - e comecei num vício terrível do qual julgava já ter me livrado há tempos. Voltei prás novelas (ai, falei). E vi uma cena terrível de uma personagem apanhando do marido. Coisa forte prá essas horas de fuga da realidade ou, como dizem, meditação, já que esvazia a mente. Só que uma frase me chamou muito a atenção, e fiquei encafifada com a tal que me abalou. Não é que uma mulher aconselha a outra com os seguintes argumentos: "Livre-se desse cara. Você é jovem, bonita, não precisa ficar presa a um casamento desse tipo." Vem cá, se a personagem fosse velha, feia, doente ou sei lá mais o que, ela então teria que se resignar com o destino que lhe foi 'dado'? Fiquei pensando ainda sobre as mulheres que apanham do marido, sobre as que sofrem com relacionamentos mal resolvidos, sobre as que aturam alguém pelo medo - pânico, prá ser exata - de ficarem sozinhas e desperdiçarem a única chance de serem felizes que elas acreditam ter. Sim, pois é isso o que passa na cabeça de quem não está lá muito bem com seu parzinho de jarro, de que ele é o último no mundo, de que é a sorte que bateu à sua porta e se fechar, nada sobrará. Queria que alguém me respondesse que mulher, nessas condições, acredita ser realmente jovem e bonita. Elas podem se olhar no espelho, podem ganhar a vida com a beleza, podem até ouvir os conselhos das amigas mais preocupadas, mas será que elas realmente se acham assim essa cereja do bolo todo? Acho que nem a Marilyn Monroe achava tudo isso dela mesma. Mas agora, que voltei das férias, podemos fazer um trabalho interessante com essas beldades sofredoras que se acham o ó do borogodó. É só fazer contato.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

COMO GANHAR UMA ELEIÇÃO:


Qualquer criança de 4 anos sabe como funciona uma eleição.
Ela tem que vender votos e levar muito dinheiro prá escola. Quem levar mais, vira sinhazinha e sinhôzinho.
Assim é até hoje, em qualquer lugar, em qualquer eleição. Não requer prática nem tampouco habilidade. Não precisa ter bons antecedentes, nível de instrução básico, projetos palpáveis... Nada disso.
Basta prometer levar bastante dinheiro pros 'donos das escolas', viabilizar lucros, e ter carisma.
Ah, o carisma.
O Freud já falava da identificação com o agressor, que é mais ou menos o que os sequestrados têm pelo sequestrador. É quase uma gratidão. Como se o cara fosse um sujeito muito gente boa, afinal, a vítima está viva graças à ele.
O que isso tem a ver com eleição?
É só ler os jornais e se deparar com a foto do bispo Crivela chamando bandido de iluminado, instaurando uma guerra civil no morro da providência - não sem antes levantar a bandeira da paz. Claro.
Pensando bem, acho que nunca vi uma guerra que não tivesse essa bandeira.
E não é mais ou menos assim que as coisas funcionam?
Quando alguém quer ganhar adeptos de sua causa, nomeia um inimigo qualquer, e contra ele, angaria simpatizantes para sua causa.
Qualquer cirança de 4 anos sabe disso. Queimar judas, caçar bruxas, matar bandidos, gaseificar judeus, ciganos, "comunistas".
Tudo é válido prá ganhar eleição.
Teve um cara que fez isso no século passado. Um baixinho, com bigode esquisito. Como era mesmo o nome dele?

segunda-feira, 30 de junho de 2008

ENTRE E.T.s E "US ÔMI"


Domingo frio e acabei vendo um filminho com as crianças.
Eu lá, vendo filme infantil, nem aí prá nada além da pipoca. Só que a diferença básica: era o filme do E.T: O extraterrestre. Filme vai, filme vem, caio eu no choro lá de longe, lá da infância, lá do cinema desde a primeira vez que pude ir sem adultos cuidando de mim. Só nós, os amigos, as crianças.
Me senti até intrusa daquele momento tão infantil.
É que esse fato corriqueiro, no filme do E.T., muda tudo. (Quem não viu, não merece. Corra. Ainda dá tempo).
Lembrei de como aquele filme me marcou, pois comecei a prestar atenção ao seguinte: Enquanto o mundo está povoado por crianças, cachorro e extraterrestre, tudo dá certo!
Mas chegam os homens...
Degringola tudo. É uma choradeira sem fim. É a ameaça que nunca acaba.
Senti mais ou menos a mesma coisa ao ver King Kong, quando primeiro tiram o pobre macaco da floresta. E depois, sem saber o que fazer com ele, matam o coitadão.
Impressionante né?
Acho que a sensação pós E.T./ King Kong veio à tona mesmo quando li os jornais a respeito da zona sul se mobilizando prá contratar milícias prá tomarem conta da segurança.
"Chama 'us ômi'" é a pedida. Mesmo quando a gente lê também que um menino (18 anos é menino, sim) é morto na porta de uma boate por um policial contratado prá fazer a segurança de outro menino.
Não é por nada não, mas esse negócio de chamar os "adultos" armados prá tomar conta das crianças indefesas - nós - não me desce pela goela. Nem com milícia nem com exército.
Prefiro as crianças...
Os cachorros...
Os macacos...
Os E.T.s...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

REPETINDO...


Criança é fogo!
A gente acaba de contar uma historinha e ela vem com a frase que mata qualquer adulto de sono:
- Conta de novo?
É que assim ela vai elaborando a história.
Vai elaborando. Vai digerindo... Num gerundismo obrigatório e quase contínuo que a persegue até...
Aí vêm os adultos, esses seres de outro planeta, e dizem que estão cansados de tanto repetir a mesma história. Sem se darem conta de que eles mesmos, os ETs, repetem suas próprias histórias incessantemente.
Eu, adulta e ET que sou, caí nessa esparrela no último post, e me vi escrevendo sobre a mesma coisa que já havia escrito antes.
Só percebi isso depois. Depois de uma sensação de deja vu tomar conta de mim e incomodar.
Concluí que no primeiro texto sobre esse assunto, ficou faltando alguma coisa que precisava ser dita, revista, ou meramente mencionada. E talvez por isso eu tivesse necessidade de ficar num blá blá blá de refrão. Até achar a tal coisa. Até achar a diferença. Até FAZER a diferença.
E feito máquina do tempo, tentei voltar prá resolver o que não estava definido. Voltar ao que "não deu certo", ao imperfeito (= pouco feito), ao que não foi mastigado, deglutido, engolido, digerido enfim.
Por que falo do meu processo criativo?
É que a repetição, como a das histórinhas, não acaba com a infância. O tempo todo a gente risca o disco prá ficar na mesma estrofe. O raro é perceber em cada repetição um solo diferente.
Mas afinal, por que repetimos?
Marque sua hora que a gente pesquisa isso junto.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

PELA SAÚDE DA LOUCURA



O festeiro Dioniso, nos momentos que sucumbia às pragas de Hera - a madrasta -, enlouquecia por aí, perdido, errante, sofrido, e procurava sua "curandeira" avó Réia para que o salvasse da dor.
A sábia avozinha levava o jovem às profundezas da desrazão, para que enlouquecesse de verdade, e só então pudesse sair da crise.
É que desse jeito ele mergulharia fundo, grande, delirantemente, até que nem soubesse mais nada de si e perdesse aquela certeza burra que às vezes nos assola, privando-nos de experimentar qualquer sensação ou ação nova, para ficarmos seguros, presos, no que já delimitamos como o que seja nós mesmos.
"Eu sou assim. Só durmo de luz acesa. Me conheço. Nem adianta tentar mudar. É da minha natureza."
Isso tudo pode aparentemente ser reconfortante, já que brigar com o 'destino' daria um trabalhão danado. Daí o fato de a gente procurar um nível suportável de sofrimento e ficar preso ali, sem sair, como se fosse sina da vida.
O trabalho de análise está mais ou menos associado ao de Réia - que não sem querer significa fluxo - possibilitando ao analisando que ele consiga transitar um pouquinho dentro do que já conhece de si, e entre o que nem experimentou ainda, entre o que ele sequer se achava capaz de realizar.
Depois o paciente escolhe o que quer.
Mas pelo menos tenta, ousa, 'enlouquece' mundo afora, pois começa a provar umas frutas exóticas, umas fantasias novas, umas 'maluquices' e extravagâncias antes inaceitáveis. Afinal, provar dessas coisas pode ser uma ameaça de perder o controle de tudo.
... E vai que saímos gargalhando por aí, de braços dados, cantarolando, absolutamente desgovernados... Já pensou se nos descobrem? Já imaginou se percebem que não precisamos controlar as risadas prá viver?

*foto: Luciano Máximo (Summer in Salemo)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

IN DARWIN WE TRUST


Respondendo ao último texto e me provocando, um amigo me escreveu o seguinte: "Zeus já era. O negócio agora é aceitar Darwin no coração."
Fiquei rindo sozinha. Mas, como costumo levar a brincadeira muito à sério, resolvi fazer um esforço, tomar um memoriol, e lembrar o que mesmo que Darwin dizia.
Acho, sinceramente, que uma das coisas mais difíceis de se fazer é aceitar Darwin no coração.
É que a tal da seleção natural implica em primeiríssima instância num exercício de desapego fora do normal. Aliás, fora do humano.
É tão difícil ver que o caminho traçado não era dos bons. Ou que até era, mas só naquele instante. Naquela ocasião. Naquela circunstância específica.
É tão difícil ver que amizades de infância duram somente a infância - claro que com raras exceções, dá prá crescer com um ou outro ente, se esse crescer também, é claro.
E amor prá vida toda então... Esses são os piores.
Tem hora que a seleção natural já não seleciona mais nada. Não há mais afinidade. Não há admiração. Não há nem relação. Mas a gente teima em manter como se fosse a única chance de ser feliz. Afinal, em time que tá ganhando... blá, blá, blá.
Só que às vezes o time ganha por incompetência do concorrente mesmo, ou por sorte, ou pela conjunção favorável dos astros, por ebó, por... Daí a achar que ele é o melhor dos dez mais, que só assim pode ser, que não há outro meio, acaba correndo o risco de ficar demasiadamente limitado. E o que seria escolha - seleção - acaba se apresentando como sina.
"Eu só sei fazer assim."
Tá formada a maldição da vida.
E o sujeito fica horas ali riscando o mesmo fósforo queimado. Afinal, ele já acendeu uma vez e foi tão lindo...

terça-feira, 6 de maio de 2008

TODO MUNDO É FILHO DE ZEUS.


Não, não.
Não estou bêbada trocando pernas e letras, afirmando que tá zuzo bem e tropeçando no próprio pé.
Mas é que lendo o jornal começo a ficar até mesmo religiosa. E como as religiões sempre pecam na prática, fico com os mitos, que já são impraticáveis por natureza.
Zeus, pai dos homens e dos deuses, símbolo da civilização helênica, conseguiu sobreviver a seu pai Cronos-devorador-de-criancinhas, graças a uma esperteza de sua velha mãe Réia, que escondeu o rebento e enganou o pai temeroso de que sua prole lhe roubasse o trono - por isso devorava todos os filhos.
Mas Zeus pode tudo. Zeus é forte. Só Zeus salva e o escambau à quatro. E ele não só sobreviveu como povoou o mundo de deuses e semi-deuses assumindo tudo o que é forma física - ou não - quando se interessava por uma gazela.
E cada filho seu era amado e respeitado como tal. Orgulho de painho, xodó de mainha (embora a madrasta já imperasse como a bruxa má do oeste, zeus sempre defendia suas crias do ciúme desta).
E era isso a que chamavam de civilização. A certeza de poder contar com uns cuidadosinhos desde pequenos, para depois virem a ser o que fossem.
Só que ultimamente parece que a dívida primordial - a do papai e da mamãe terem nos dado a vida - parece cada vez mais impagável. Pois além de dar a vida, a gente tem que agradecer todo dia nunca ter sido jogado pela janela, nunca ter sido incinerado, nunca ter apanhado até a morte prá parar de chorar - ô lógica bizarra - e nunca, nunquinha, ter sido preso em cativeiro por décadas.
Se bobear, a gente ainda tem que agradecer às neuroses e impotências, às culpas judaico-cristãs, às proteções de tudo o que se mexa e que respire e que se chame vida.

É muita falta de Zeus no coração, né não?!? Já que Zeus não protegia da vida. Mas da morte. Do fim. DA falta de escolha absoluta.

E por falar em pai - mãe só semana que vem - hoje é aniversário do Freud, outro que não largou seus filhos por aí escondidos na lixeira. Ao contrário, ele pegava os trapos humanos que lhe eram encaminhados e tratava de devolver-lhes a vida, com toda a idiossincrasia de cada um, já que cada inconsciente é único, mutante, inapreensível.

Que Zeus te acompanhe!
Quanto ao Freud, você tem que fazer contato comigo mesma. Eu dou o recado.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

TROCA DE EUS


Entro numa livraria qualquer. Desavisada e ingênua. Só prá olhar as novidades mesmo.
Impressionante como os últimos lançamentos ensinam tudo sobre mim. sobre você. sobre qualquer um.
Tudo prá gente aprender a controlar de vez o que eles chamam de eu, prometendo mundos e fundos com esse poder todo exercido sobre nós mesmos.
Nada importa. Nada é obstáculo. Nada me atrapalha. Só eu. ops: só o eu.
Só ele - o eu - vale alguma coisa.
Só ele tem superpoderes de saber e prever tudo, planejando exatamente o que acontecerá. Isso se você seguir o manual direitinho. Claro.
...E passeio pela livraria tentando fugir do eu - de mim mesma? leitura pobre essa - e vendo o que uns outros mais interessantes têm prá me dizer.
E controlada e sabendo o que procurava pois já domino o eu - hahaha - encontro uma das coisas mais lindas.
O Ferenczi, meu analista favorito, faz uma longa explanação sobre o ato sexual. E eis que ele coloca o beijo como um fator de dissolução do ego.
O beijo na boca, somado ao abraço, são elementos de dissolução do ego, pois nesse momento ninguém precisa muito de ego. O que se quer é se misturar ao outro, procurando um ritmo, uma respiração, um jeito de estar junto sem competição prá ver quem domina, quem está certo, quem comanda.
É o beijo o instrumento primordial para se abrir mão do que quer que seja chamado de eu. Sem isso, qualquer troca fica, inexoravelmente, impossível.
Fico aqui encarnando a Chapeuzinho, me perguntando sem parar:
-Prá que esse ego tão grande?

domingo, 20 de abril de 2008

DIGERINDO


E a gente lê as últimas notícias de um crime absurdo e fica enjoado, se perguntando o motivo.
Por que? Por que?
E logo, logo virão um monte de explicações dos 'especialistas' falando sobre um possível uso de drogas, sobre a possessão demoníaca, sobre sintomas de epilepsia, sobre acerto de contas de vidas passadas, sobre resquícios de uma infância mal curada, sobre sei lá mais o que que simplesmente não dá conta.
Nem quero eu aqui engordar o time dos que explicam tudo, caindo naquela esparrela de quem nunca leu Freud atribui a ele. Freud não explica. Ele investiga. O que é bem diferente.
Mas o tema aqui é outro. Vai bem além de tentar entender quem pratica crimes contra quem quer que seja.
Meu assunto aqui é digestão. Sim, pois a gente se acostuma a comer nosso pê-efe de todo dia, com grãos, hortaliças, proteínas e tudo que uma dieta saudável exige. E de repente vem um bloco de concreto, um monte de lixo enfiados goela abaixo e a gente se vê obrigado a engolir, tentando dar sentido àquela montoeira de coisa nenhuma que incomoda, dá náusea, tira o sono e remexe em tudo o que deveria ficar inerte, intocado, intovável.
A máquina de fazer sentido chamada consciência fica agora completamente ineficaz. E a estranheza diante do monstruoso que pode ser o humano esfrega na cara, até de quem não quer ver, um aspecto bastante desconhecido e pouquíssimo aceito entre os seres.
Não bastam anti-ácidos prá facilitar a digestão. Não adianta mamão com laranja, actívia ou qualquer coisa do gênero.
O homem é bicho desconhecido pro homem.
E quem não se choca com isso, quem consegue digerir essa concretude toda como se fosse normal, comum posto que frequente, prá mim, já deixou de ser humano há muito tempo.
Assim, engolindo tudo como se fosse tudo a mesma coisa, a gente deixa até mesmo de perceber o pôr-do-sol como espetáculo. E passa a achar tudo 'muito natural'.

foto de Vinícius Guarilha

segunda-feira, 14 de abril de 2008

DATANDO


Demorei um tempinho até cair minha ficha, lendo a obra de Freud, que esta era uma obra datada.
O que significa que às vezes ele pode parecer contraditório se a gente não prestar atenção em que contexto ele sai formulando hipóteses por aí. Até que percebi que isso não se dá só na obra do Freud, não.
Bingo. Achei a fórmula: Há que se prestar atenção no cabeçalho dos acontecimentos.
Vira e mexe saem umas 'pesquisas científicas' (sic) por aí abordando o tempo de duração dos afetos. Mas eu assumo que não consigo me preocupar muito com essas validades pré estabelecidas. O que me preocupa é a data de fabricação. E mais ainda, a data de declaração.
Acho que quando a gente registra uma declaração - seja de amor, ódio, amizade ou voto prá síndico - tem que assinar, colocar local, data, e de preferência, substância consumida,e ainda a música de fundo.
Assim a gente até entende com outros olhos aquele pedido de casamento depois de 2 garrafas e meia de vodka ouvindo um bolerão. Ou a briga dos melhores amigos até rolarem no chão depois de uma frasesinha boba envolvendo a mãe de alguém. E nem precisa fortalecer a ressaca lembrando do episódio.
Outro dia eu ouvia qualquer coisa assim: "Ele é tão carinhoso. SEmpre foi. Mas de repente, quando os gêmeos nasceram, ele esfriou um pouco, sabe? E desde então nunca mais ele me beijou, prá vc ter uma idéia."
Eu, tola, pergunto a idade dos gêmeos.
"Os meninos têm 36. São uns amores".
O registro tá tão atual né? Mas como em banco e previdência, às vezes é preciso um recadastramento. Uma confirmação de que ainda é aquele mesmo - pelo menos em uma coisa ou outra - e concorda com o que disse outro dia, outro mês, outro ano...
Enfim, tá aqui minha proposta de datar as declarações e de que elas precisem ser sempre renovadas.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

MALDIÇÃO


Quem não se lembra de Malévola, a bruxa má que roga uma praga na Princesa Aurora - a bela que dorme - quando esta ainda era um bebezinho?
A gente cresce e acha que essas historinhas são pura ficção prá distrair as crianças e enriquecer o imaginário delas.
Só que a ficção às vezes vira realidade e nem nos damos conta disso.
Outro dia eu via o filme 'O passado' em que uma mulher louca de pedra persegue o ex marido até acabar com tudo o que ele conseguiu construir na vida. E lhe roga uma praga mais ou menos assim; "Quando você estiver sozinho, só terá a mim."
Só que a mesma faz tudo prá chegar logo esse momento de solidão do pobre diabo até que sua profecia se concretize.
Na vida real (heim?) não é muito diferente do filme, não. Mas há como fugir disso, há como reescrever o roteiro, há como quebrar o encanto lançado simplesmente olhando bem firme prá ele num trabalho prá lá de pai de santo ou pastor universal.
O propósito na clínica psicanalítica está justamente em tentar descobrir outras saídas, outros modos de ação, fechando o corpo de vez e começando a escolher um pouquinho só no que acreditar, tirando das maldições o caráter de verdades incontestáveis, absolutas.
É que geralmente quem roga a tal praga de madrinha é alguém que exerce um poder fenomenal sobre a gente. Daí desmentir essa pessoa significa também desmentir todas as outras coisas importantes que ela falou. Mas por que levar as "pré-destinações" tão à sério?
Só questionando isso a gente pode encontrar um outro destino, bem diverso do já escrito pelas bruxas de plantão, e dessa vez abrir espaço para, pelo menos, experimentar o diferente.

segunda-feira, 31 de março de 2008

DEVOTOS DE SÃO PTOLOMENO


O Nietzsche lá se esgoelando até perder a voz, dizendo que Deus está morto.
Mas os intelectuais não levam o louco sifilítico à sério.
Já tá tarde prá falar do episódio envolvendo Marcelo Madureira e os fãs de Glauber Rocha.
Digo tarde pois o Arnaldo Bloch já falou quase tudo o que eu pensava na coluna do Globo de sábado. Parece até que ele - o Bloch - dormiu aqui em casa e me ouviu bravejando enquanto lia o jornal de manhã.
Mas fiquei com umas dúvidas que me corroem o estômago até agora.
Por que todo mundo tem que gostar de Glauber Rocha, Niemeyer ou do que quer que seja?
É engraçado que por mais que digam que Deus está morto, que o Superhomem está morto, ou até que Glauber está morto, o comportamento religioso de muita gente que diz que pensa por aí não passa de ato de carola, tomando como heresia qualquer ação iconoclasta que derrube alguns mitos ou simplesmente expressem um gosto crítico.
Por que?
Por que todo mundo tem que gostar da mesma coisa?
É engraçado - e patético - que os argumentos contra o Madureira ficaram no nível do 'vai você que tá mais acostumado'.
Tem um filme que passou já faz um tempinho no cinema chamado 'O gosto dos outros' no qual todo mundo tentava ensinar a um homem do que ele deveria gostar.
Achei que a discussão foi bem por aí, já que ninguém correu prá falar 'Ah, eu gosto de Glauber por tais motivos. Se ele não gosta é direito dele.'
É que fica parecendo uma guerrinha de direita contra esquerda, de mente contra corpo, de beatles contra stones, de vermelho contra azul que eu, sinceramente, não vejo porque adotar qualquer um dos lados. Como não vejo no outro lado uma antítese a ser atacada.
E por que será que tem gente que se vê obrigada a fazer esse tipo de escolhas?
Tá. Você pode dizer que fico em cima do muro (não é minha intenção). E eu posso responder que essa guerra não é minha.

sexta-feira, 14 de março de 2008

PRÁ QUE SERVE ISSO?


A gente vai encontrando uns medos pela frente que nem sabia que tinha. E quando se dá conta, a fuga é uma bandeira só.
Mas foges de quê? Prá quê? por quê?
Eu fico aqui te perguntando, ao ver você se mexer desconfortável na cadeira aí bem em frente ao seu computador nessa tarde de chuva.
Volto à pergunta, só prá provocar: Por que tanto medo de análise?
Talvez sejam um monte de estereótipos que a gente vai montando e formando conceitos bizarros quanto ao que seja uma análise.
'Será que o cara que me escuta não escuta nada e só faz lista de compras que nem eu vi num filme?'
'Será que fazendo análise eu serei mero soldadinho de chumbo ou bonequinha de porcelana na mão do analista fazendo tudo o que ele quer?'
'Será que me curando da minha loucura, me livro também de minha criatividade, de meus devaneios, de minhas fantasias e sonhos prá ficar preso nessa realidade cruel que me soca o estômago o dia todo?'
'Será que na análise me descubro tão doente que só nascendo de novo prá ver se da próxima vez meu defeito tem conserto?'
O que é curioso é que tem um monte de gente por aí sem medo nenhum de se entupir de bolinhas e gotinhas, afirmando peremptoriamente - eu sabia que um dia usaria essa palavra - que se não usar essas coisas faz uma loucura.
O inferno é que, às vezes, tudo o que elas precisam realmente é de cometer a tal loucura.
Um virar a mesa, um quebrar os copos, uns gritos soltos ecoando pelo corredor e acordando os vizinhos, um tapa, um beijo, um strip tease,...
Análise não cura ninguém de si mesmo, nem molda os analisandos quanto à vontade de um pseudo-analista-todo-poderoso, muito menos amordaça as vontades mais íntimas trancando-as no mais fundo do mar profundo.
Ao contrário: De tanto a gente falar no analista, começa a prestar atenção em tudo o que tem prá dizer, só que sem aquelas chibatas terríveis que fazem a gente achar que o mundo só tá errado por nossa causa.
O que ela traz de bom é a possibilidade de usarmos nossa loucura - todo mundo tem, nem adianta negar - de um modo diferente: dessa vez A NOSSO FAVOR.

Fotos de Vinícius Guarilha

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

FALANDO SÉRIO


Não vou cantar a música do Roberto Carlos aqui. Pode tirar o cavalinho da chuva que o assunto é muito outro. Vamos falar sério!
Deu medo né?
Outro dia levei esporro de uma velha louca na rua que jurava que eu tinha roubado o marido dela.
Como essa não é muito a minha, de roubar marido alheio, muito menos de velha louca, ignorei e continuei meu percurso. Não sem antes ouvir de quem passava que eu era ousada por não lhe dar ouvidos.
Mas é que depois de anos de análise a gente começa a prestar atenção só no que nos diz respeito. E como a bronca dela não era prá mim, eu é que não ía bater palma prá maluco dançar.
Mas minha atitude foi exceção o tempo todo. E me fez questionar algo muito mais profundo.
Por que a gente só leva à sério a bronca?
Parece que o sinônimo de sério passou a ser sisudo, chato, ranzinza. Ignorando o que pode nos chegar de maneira dócil e acolhedora e até mesmo reduzindo essas últimas abordagens como se, estas sim, não fossem sérias.
E isso não é só no meio da rua, não.
Até quando vamos ao médico e o mesmo nos diz:"você está ótimo.", vem logo uma desconfiança do profissional, como se ele não achasse tudo, como se não procurasse direito, como se fosse um relapso, já que não receitou uns remédios horrorosos que nos entopem de efeitos colaterais e tornam física a bronca de não sabermos cuidar de nós mesmos.
E não faltam exemplos da busca pela repreensão, seja casando com mulher chata - que é prá lembrar a mãe quando enchia o saco prá arrumar o quarto ou pentear o cabelo direito -, seja em reunião que só registra a reclamação, seja até entre os amigos que às vezes nem dão muita pelota prá quem não cria problemas.
"Amigo é prás horas difíceis" - eles se resguardam.
Mas minha pergunta não cala: por que o lúdico não é computado? Por que o 'legal' não é levado em consideração? Por que o que dá prazer não pode ser feito?
Isso é um desafio. Quero hipóteses.
Quem se atreve?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

PENSEM NAS CRIANÇAS...



O estômago dilata a cada nova refeição. Jogar comida fora é pecado. Com tanta gente morrendo de fome na Árica...
Ao invés de aprender a fazer um prato menor, essa desculpa engorda muita gente por aí.
Minha pergunta é: Se comer tudo, a criança na África não passa mais fome?
Claro que é pergunta cretina. Mas é que os africaninhos têm uma responsabilidade muito grande no cotidiano das pessoas.
Não chega a fome que eles passam - como se aqui não tivesse disso em cada esquina - esses seres raquíticos e desnutridos ainda são motivo de culpa por conta de quem tem um nó na garganta e não consegue soltar em grito ou choro.
"Como eu posso ser tão egoísta preocupado com meu sofrimentozinho se agora mesmo tem gente morrendo de fome na África?"
Repito a pergunta: Se todo mundo ficar bem alegre e contente, as crianças terão o que comer?
Tem sempre gente pior que a gente. Como tem sempre um ou outro que se dá muito bem e tem seus momentos de glória.
Mas por que é que se desmerece ou se desvaloriza tanto o que se sente?
Parece que a angústia acaba relegada à um campo da invenção, da fantasia, da criação - o que pode até ser - muito inferior aos problemas tidos como "reais".
E a dor de cada dia passa a vir acompanhada de uma culpa muito grande, como se não tivessem o direito de se dar ao luxo de ter problemas existenciais quando alguém no mundo passa fome.
Mas se essa dor existe. Se ela paralisa e agoniza em carne viva, por que virar a cara prá isso?
Fica aqui o convite de abrir feridas para, só assim, poder tirar as farpas, os cacos, o veneno.

Foto de Vinícius Guarilha chamada "Fragmentos e cortes do real'. Às vezes a imagem do espelho não é tão desagradável.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

VOCÊ FOI DE QUÊ?


Eu sei. Eu sei.
O carnaval já acabou e eu aqui falando dele. Só isso já é algo altamente anti ético de minha parte. Afinal, a festa da carne tem hora prá terminar não é à toa. Assim a gente fica bem seguro e pode enlouquecer à vontade. Sem medo de se perder para todo o sempre. Até o meio-dia da quarta-feira, a alegria é permitida. O riso é solto e frouxo. O desejo é até aceito em clubes mais conservadores.
Mas eu quero falar do antes. Do processo. Da escolha da fantasia.
Acho que a fantasia que escolhe a gente. E não o contrário.
Aliás, essa é toda a minha questão. Se a gente veste ou despe a fantasia prá pular o carnaval.
É que faz uns anos já eu fico observando as pessoas tão identificadas com suas roupas, com seus trajes que não são os do dia-a-dia, que chega a haver uma libertação total ao sair de pirata, puta, princesa ou bate-bola.
E fico aqui pensando se a hora de por a fantasia de verdade não é só na quarta-feira de cinzas. Quando se atarracha a máscara e segue a vida em frente. "Normalmente".
Segundo Rosa Montero, "a primeira mentira é o real". E essa frase me caiu nas mãos dia desses de presente de uma amiga confirmando a minha hipótese. Pelo menos não penso isso sozinha. O que já me dá uma grande credibilidade. Afinal, a loucura só existe quando não há consenso. Pelo menos é o que dizem.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

"TÔ ME GUARDANDO PRÁ QUANDO O CARNAVAL CHEGAR"

Lobão que me desculpe, mas Chico Buarque é fundamental!

... E tem dia que dá uma vontade de ficar na cama esperando que o mundo rode até a exaustão que é prá gente poder ficar bem enjoado e ter desculpa prá não levantar.
É uma espécie de Complexo de Walt Disney, -inventei isso agora. não levem a sério. não é termo técnico- se congelando prá acordar só daqui uns 70, 100 anos.
"Quem sabe assim tudo já se resolveu e eu nem precisei fazer nada?!?"
É mais ou menos esse o pensamento corrente.
É como se quisesse pular uma parte da vida, das decisões, prá depois correr um pouquinho e alcançar. Saltar etapas.
"Vou entrar aqui na caverna, ou dormir mais, ou jogar, ou ver televisão, ou qualquer coisa pra´ matar o tempo enquanto essas coisas se resolvem por si próprias.
A religião é o ópio do povo? Então que venha o entorpecimento nesses dias entregues à mais pura das vontades divinas. Se é prá alguém por aqui ter vontade, que seja deus. Eu é que não.
Depois eu alcanço. Eu reclamo. Eu faço qualquer coisa. Mas agora não. Agora não consigo me mexer. Agora estou de pé quebrado. Paralisado. Passivão que só.
De vez em quando eu chego até a ouvir no consultório: Me diga aí que rumo tomo. Quase impondo o dever de casa prá mim.
Mas pensem comigo.Se fosse prá eu decidir o destino da vida dos outros, escreveria uma novela. Aí sim os personagens fariam tudo o que eu quisesse.

Mas o carnaval tá aí, e depois que ele passar é que começa o ano. Aí sim dá prá tomar alguma titude.
Enquanto isso você fica aí, paradão, que é prá não fazer barulho, né?!?

sábado, 5 de janeiro de 2008

PAGANDO BEM, QUE MAL TEM???


Semana passada foi publicada nos melhores jornais do ramo a "pesquisa científica" que comprova como é inerente às fêmeas a ação de se prostituir. A tal pesquisa foi realizada com macacos dessa vez, "provando" que as mulheres, muito antes de o serem, já eram putas velhas e vendiam seus corpitchos pela bagatela de 8 minutos de cafuné - se a população feminina fosse muito grande.
Minha primeira reação ao ler essa notícia "séria" foi cair no riso. Afinal, deram tanto espaço prá uma coisa dessas ser publicada. Só pode ser gozação.
Mas depois caí na real e vi a gravidade do caso.
Já nos tempos de Freud, o próprio perdia noites de sono querendo descobrir os mecanismos estranhos que regem esse ser de outro mundo que é o sexo oposto - ao dele.
Só que isso faz tanto tempo. E a gente sempre acha que coisas do passado estão láaaaa longe. E que o mundo já evoluiu bastante hoje.
Foi esse o meu choque. Não consegui identificar qual a relação da pesquisa com o resultado obtido - por isso as aspas de pesquisa científica.
Depois não consegui identificar qual seria o objeto negociado por sexo. Já que cafuné, na minha terra, é parte da preliminar. É coisa boa que relaxa, dá prazer, e faz parte da troca de carinhos que se espera de uma relação sexual dita normal - aquela regida pela atração-física-mútua-de-um-pelo-outro-e-vice-versa. Tudo bem explicadinho assim que é prá não ter dúvida da qualidade da relação.
Os pacientes do Freud conseguiam expressar prá ele a diferenciação entre dois tipos de mulher: a casada e as outras. E até hoje, meus próprios pacientes me falam dessa mesma divisão quando relatam que namoravam muito suas mulheres nos muros da escola, nas escadas, nos cinemas, e, pasmem, nos motéis. Mas que depois de casados eles não se sentem à vontade prá fazer isso. Não com elas.
Talvez seja por isso que o CASAmento seja hoje essa instiuição declaradamente falida, já que na própria palavra, o amor - encontrado no nAMORo - ceda espaço aos cuidados da casa.
Eu prefiro acreditar que tem gente por aí que ainda queira trocar cafunés, retornando às nossas origens.


Afinal, o amor sempre vende? Ou o amor sempre vence?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PROMESSAS


E começa o ano numa velocidade estonteante. Aliás, convenhamos, esses últimos tempos correm demais.
E é tanto ritual que uma meia-noite só não basta. Comer uva verde, saltar onda num pé só, jogar flor prá Yemanjá, comer caroço de romã, lentilha e sei lá mais o que... e nada combina. Como encher a boca com isso tudo? Isso sem falar na calcinha. Dá prá serem duas? Uma vermelha e outra amarela? E põe qual por cima.
Ai... Muita tarefa nessa gincana. Tudo prá ver se muda alguma coisa.
E depois dessa parte vêm as promessas.
E a partir do dia primeiro ninguém fuma. Sim, do dia ´primeiro, pois de noite, bebendo champanhe, impossível né?
E dia primeiro começa o regime (depois do almoço) e a promessa até de procurar uma psicoterapia e deixar de usar esse blog que vos fala como uma espécie de auto-ajuda.
Esse ano vai ser tudo diferente. Vai ser novo, de verdade.
Então vamos fazer diferente de verdade?
Que tal parar de procurar frases dos outros prá se identificar e começar a falar com sua própria boca? Te juro que tenho orelhas maiores que o Lobo Mau. E posso escutar tudinho da sua história que é só sua. Quem sabe a gente consiga fazer dessa matéria prima alguma coisa realmente nova e bem interessante?