sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ESSA VIDA AINDA VAI MATAR VOCÊ

Baiano é bicho engraçado.
Passa dez anos definhando numa cama. Fralda geriátrica. Sopa na boca. Máquina desligada. E quando finalmente descansa - é que baiano se cansa muito - o povo diz: "Fulano morreu de repente. Assim. Do nada. Puff! E se foi. Assim. Sem mais nem menos."
Conheci uns casos de suicídio mais ou menos parecidos.
As pessoas querendo soluções rápidas. Um amor. Um remédio. uma cura do vício. Um milagresinho assim. Pequenino. Mas potente. Um salva-vidas básico.
E a solução passava no focinho e elas nada de perceberem.
Ficavam lá. Presas em suas vidinhas tristonhas. Curtindo uma dorzinha cativa mantida à ferro e fogo.
"Não ouse acabar com meu sofrimento. É a única coisa que tenho."
Aí tem horas que só o suicídio mesmo.
Não o literal. Sem chance. Sem volta.
Mas um suicidiozinho besta. Assim. só prá variar.
Daqueles que mata uma parte, só prá ver no que dá.
Daqueles que a gente não tem a menor ideia do que vai dar, do que sobra, do que resta.
Só sabe que é outra coisa diferente do que era.
Sabe o Fulano?
Morreu.
Assim... De repente...
Sobrou eu.
Serve?

QUE FALTA FAZ UM TRABUCO!

Acho que foi no mês passado, não sei ao certo, mas passou bem perto da minha casa - tão perto que fazia tremer as janelas - um movimento a favor da tolerância religiosa.
Do ponto de vista libertário, o movimento é muito válido, pois assegura a qualquer um o direito de acender velas prá quem quiser, com ou sem imagem, sem ter como consequência disso a casa queimada, um espancamento, um despejo do demônio mal pagador que só falava alemão,...
Mas... venho por meio dessas linhas me unir ao coro de Saramago e questionar não só deus, mas qualquer religião.
Ultimamente ando altamente intolerante com qualquer um que teime em me preservar do 'mal'.
Seja religião, ministério da saúde, políticas protecionistas, políticos que não descansam nem com enterro e canto prá subir (o que faz Sarney ali até hoje? Ninguém enterra o cara?)
Mas voltemos aos clubes de irmãos que se unem em torno de uma(s) figura(s) central e toda poderosa.
Suponhamos que Euzinha da Silva aqui queira descansar num domingo, prá poder recarregar as baterias prá uma semana 'heavy metal' que enfrentarei.
Impossível.
Simplesmente porque domingo é dia de louvar ao senhor. Quer você tenha um, quer não.
Daí que começam a louvação de tarde - Isso se você tiver perdido a missa e a novena. Um bando de gente muito desafinada que deve deixar o tal deus deles muito passado com a homenagem. Nem prá ensaiar um pouquinho antes???
Bem em frente há um carro de dançarinos de rua, que dão uns pulos prá lá, prá cá, e em torno de si mesmos, passam o chapéu, e se enfurecem com o louvor berrado na praça.
Reação deles? Ora bolas, ligar a rádio evangélica mais alto do que os pobres fiéis batistas.
Com esse barulho todo sou obrigada a sair de casa. Passo em frente a uma cubana que faz acarajé. Delícia. Logo em seguida vem um 'cabôco' virando no santo pois comeu dendê e não podia. E aí eu é que tenho que ouvir previsões do fim do mundo?
Pago minha merendinha da hora do recreio e continuo.
Vem outro, me contando que Jesus tem um plano prá mim.
E por que o próprio não me mandou uma proposta pelo correio, como faz todo mundo?
Por que mandou aquele cara que eu nunca vi na vida?
Tudo bem, você que até acredita nessas coisas e consegue achar justo o mundo onde os africanos esfomeados foram TODOS soldados nazistas e pagam por isso hoje; onde os aleijados foram gente muito má que esbanjava dinheiro e saúde em outras vidas. Você pode me chamar de rebelde.
Mas é que às vezes, por mais politicamente corretos que sejamos - e tá aí outro clube de gente que persegue os meus demônios -parece que entre essas porcarias de opções a única que me interessa é votar no não, obrigada!
Mas aí vem um qualquer tentar me convencer que eu é que não entendi ainda o poder dos salmos.
A falha é minha. Falho na compreensão do que já foi tão bem explicado.

Falho nessa minha mania de ser gente, enquanto todo mundo quer ser o escolhido.
Eu, reles mortal, só gosto de ser escolhida no salada mista.
Tenho cura, doutor?

O AMOR SALVA?

Em todo canto que se olhe, em toda casa que se preze, em toda historinha de criança, em todo ensinamento que se disponha a ser encarado como definitivo, lá está ele: O AMOR.
O lindo, lindão, herói de tudo e de todos, que move montanhas e remove tempestades.
prá nós, nem vou levantar o assunto de quão difícil está de se encontrar este amor heróico e amparador por aí. Meu tema aqui é outro. O outro. O tal oposto - ma non troppo - que geralmente fica como o vilão de tudo. O Jason, demônio, estranho que bagunça coreto, quarto, cidade, estruturas em geral.
É só com um pouquinho de ÓDIO que a gente começa a dar bastas onde não aguenta mais, e se diferenciar do resto todo do mundo, quase numa afirmação do tipo: "Eu não sou desses. Comigo não, violão!"
Usado na medida certa, ele pode fazer muito mais milagres do que qualquer água benta ou resignação.
Deixe os objetos cortantes por perto. Os vidros, os copos, os cinzeiros.
Não. Não tire nada do lugar. Deixe-os aí. Irresponsavelmente como se criança alguma visitasse a casa.
Agora mire. Mire naquele vaso que você ganhou da sua tia muquirana e que achou a coisa mais horrorosa que tem no mundo.
Faça pontaria mesmo. Feche um olho que é pro outro ver melhor.
Então faça o arremesso.
Arremesse tudo.
Espatife.
Estilhace.
Nada de tentar juntar cacos. Ou você se corta ainda mais.
Os cacos são seus. E eles estão aí dentro. Mas só cortando os pés, só quebrando espelhos, é que podem ser vistos.
Antes?
Antes eram só furúnculos sem cabeça. Feridas invisíveis. Hemorragia interna. Essas coisas de amor bonito, com muita dor, que é prá ficar mais lírico ainda.
Antes era o anti-depressivo. O calmante. O sossega-leão que amordaça qualquer voz que possa ferir o outro. Antes era a tentativa de curar o outro do que ele é.
Agora é o surto.
Viva!!!
Em nome do amor você se fere.
Amor a quem mesmo?