quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

FALANDO SÉRIO


Não vou cantar a música do Roberto Carlos aqui. Pode tirar o cavalinho da chuva que o assunto é muito outro. Vamos falar sério!
Deu medo né?
Outro dia levei esporro de uma velha louca na rua que jurava que eu tinha roubado o marido dela.
Como essa não é muito a minha, de roubar marido alheio, muito menos de velha louca, ignorei e continuei meu percurso. Não sem antes ouvir de quem passava que eu era ousada por não lhe dar ouvidos.
Mas é que depois de anos de análise a gente começa a prestar atenção só no que nos diz respeito. E como a bronca dela não era prá mim, eu é que não ía bater palma prá maluco dançar.
Mas minha atitude foi exceção o tempo todo. E me fez questionar algo muito mais profundo.
Por que a gente só leva à sério a bronca?
Parece que o sinônimo de sério passou a ser sisudo, chato, ranzinza. Ignorando o que pode nos chegar de maneira dócil e acolhedora e até mesmo reduzindo essas últimas abordagens como se, estas sim, não fossem sérias.
E isso não é só no meio da rua, não.
Até quando vamos ao médico e o mesmo nos diz:"você está ótimo.", vem logo uma desconfiança do profissional, como se ele não achasse tudo, como se não procurasse direito, como se fosse um relapso, já que não receitou uns remédios horrorosos que nos entopem de efeitos colaterais e tornam física a bronca de não sabermos cuidar de nós mesmos.
E não faltam exemplos da busca pela repreensão, seja casando com mulher chata - que é prá lembrar a mãe quando enchia o saco prá arrumar o quarto ou pentear o cabelo direito -, seja em reunião que só registra a reclamação, seja até entre os amigos que às vezes nem dão muita pelota prá quem não cria problemas.
"Amigo é prás horas difíceis" - eles se resguardam.
Mas minha pergunta não cala: por que o lúdico não é computado? Por que o 'legal' não é levado em consideração? Por que o que dá prazer não pode ser feito?
Isso é um desafio. Quero hipóteses.
Quem se atreve?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

PENSEM NAS CRIANÇAS...



O estômago dilata a cada nova refeição. Jogar comida fora é pecado. Com tanta gente morrendo de fome na Árica...
Ao invés de aprender a fazer um prato menor, essa desculpa engorda muita gente por aí.
Minha pergunta é: Se comer tudo, a criança na África não passa mais fome?
Claro que é pergunta cretina. Mas é que os africaninhos têm uma responsabilidade muito grande no cotidiano das pessoas.
Não chega a fome que eles passam - como se aqui não tivesse disso em cada esquina - esses seres raquíticos e desnutridos ainda são motivo de culpa por conta de quem tem um nó na garganta e não consegue soltar em grito ou choro.
"Como eu posso ser tão egoísta preocupado com meu sofrimentozinho se agora mesmo tem gente morrendo de fome na África?"
Repito a pergunta: Se todo mundo ficar bem alegre e contente, as crianças terão o que comer?
Tem sempre gente pior que a gente. Como tem sempre um ou outro que se dá muito bem e tem seus momentos de glória.
Mas por que é que se desmerece ou se desvaloriza tanto o que se sente?
Parece que a angústia acaba relegada à um campo da invenção, da fantasia, da criação - o que pode até ser - muito inferior aos problemas tidos como "reais".
E a dor de cada dia passa a vir acompanhada de uma culpa muito grande, como se não tivessem o direito de se dar ao luxo de ter problemas existenciais quando alguém no mundo passa fome.
Mas se essa dor existe. Se ela paralisa e agoniza em carne viva, por que virar a cara prá isso?
Fica aqui o convite de abrir feridas para, só assim, poder tirar as farpas, os cacos, o veneno.

Foto de Vinícius Guarilha chamada "Fragmentos e cortes do real'. Às vezes a imagem do espelho não é tão desagradável.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

VOCÊ FOI DE QUÊ?


Eu sei. Eu sei.
O carnaval já acabou e eu aqui falando dele. Só isso já é algo altamente anti ético de minha parte. Afinal, a festa da carne tem hora prá terminar não é à toa. Assim a gente fica bem seguro e pode enlouquecer à vontade. Sem medo de se perder para todo o sempre. Até o meio-dia da quarta-feira, a alegria é permitida. O riso é solto e frouxo. O desejo é até aceito em clubes mais conservadores.
Mas eu quero falar do antes. Do processo. Da escolha da fantasia.
Acho que a fantasia que escolhe a gente. E não o contrário.
Aliás, essa é toda a minha questão. Se a gente veste ou despe a fantasia prá pular o carnaval.
É que faz uns anos já eu fico observando as pessoas tão identificadas com suas roupas, com seus trajes que não são os do dia-a-dia, que chega a haver uma libertação total ao sair de pirata, puta, princesa ou bate-bola.
E fico aqui pensando se a hora de por a fantasia de verdade não é só na quarta-feira de cinzas. Quando se atarracha a máscara e segue a vida em frente. "Normalmente".
Segundo Rosa Montero, "a primeira mentira é o real". E essa frase me caiu nas mãos dia desses de presente de uma amiga confirmando a minha hipótese. Pelo menos não penso isso sozinha. O que já me dá uma grande credibilidade. Afinal, a loucura só existe quando não há consenso. Pelo menos é o que dizem.