quarta-feira, 29 de abril de 2009

VOZES

Qualquer desajustado que se preze apresenta como um dos primeiros sintomas a audição de vozes que não se sabe muito bem porque escolhem logo aquele ali prá azucrinar.
A voz manda. A voz sugere. A voz xinga e o chama de incapaz. A voz dá a entender que todo mundo está contra, e que só ela é a real companheira daquele amado ouvinte.
Se isso ficasse só com os loucos, tava tudo meio certo. Era calar a voz dos pobres coitados escolhidos com uma boa dose de sossega zoológico inteiro e pronto. Silver tape colado na boca de quem atrapalha a ordem natural das coisas.
Só que a voz está aí, o tempo inteiro, em toda parte. E ela fala tão alto que ninguém mais se escuta ( o 'se' aí usado tanto no sentido de reciprocidade como no que se refere a uma auto-escuta).
Há um hábito de escutar e engolir tanta coisa, tanta informação, tanto pitaco, tanto ensinamento de como viver essa ou aquela situação que a gente acaba se esquecendo um pouco de como é que fala. E fica dando créditos aos outros como se não tivéssemos um bom currículo prá dizer isso ou aquilo, afinal, por mais que a gente leia, o título de especialista não é prá qualquer um.
Só que assim fica uma voz presa lá na garganta. E às vezes parece que ela incha tanto, que acumula líquidos e pus. Que inflama até chegar no peito.
Aí danou-se. Dói tudo. E não há livro ou receita ou revista com testes que deem jeito.
Tem que fazer barulho. Tem que chorar, berrar, espernear, socar a parede. E de preferência com alguém ético prá testemunhar tudo isso sem revidar depois.
Bom, meu recado eu já falei. Agora fala tu!



Apesar do cara aí da foto estar todo costurado, esse é um jeito dele berrar. Se ele simplesmente se calasse, sem incomodar ninguém - a foto incomoda né? - nem notariam sua existência. Mas o prisioneiro paraguaiao pôde ser 'ouvido' mesmo sem pronunciar uma palavra. Olha que voz forte!

domingo, 19 de abril de 2009

ESSE LUGAR...

Recebi um postal com essa montagem de alguém muito querido na minha vida há mais de dez anos e resolvi dividir aqui com vocês essa maravilha.
Pensei nuns 5 textos completamente diferentes prá ter a desculpa de colocá-la aqui.
Eu podia falar da tirania da crianças com seus pais na atualidade.
Podia abordar a culpa materna em relação à criação dos filhos.
Podia falar de tanta coisa...
Podia estar matando e roubando mas resolvi vender aqui o meu peixe e questionar esse lugarzinho miserável em que a gente é colocado o tempo inteiro.
Chega a ser até engraçado como a gente pode se formar, fazer pós, ter filhos e constituir família,... Mas vem sempre um tentando colocar a gente na cadeirinha do papá.
experimente ir a uma reunião de pais na escola e veja como a professora primária, aquela que a gente sabe que não sabe nada do que tá fazendo, mas que teima em confiar achando que ela estudou sobre o desenvolvimento infantil vai lhe tratar.
Prá começar, seu nome não existe. É "mãe" e pronto. Assim fica mais fácil, infalível até, e o puxão de orelha que ela lhe dará fará mais efeito sem intimidade alguma.
Com os médicos não é muito diferente. Você será sempre um mal criado, que teima em fazer tudo errado do que ele prescreveu, mesmo que o efeito colateral do remédio que ele receitou lhe seja insuportável.
Com o chefe então... Nem precisa dizer.
Por mais que seu cabelo embranqueça e suas rugas apareçam na testa, ele controlará seu horário e idas ao banheiros como se você tivesse que pedir a cada vez, com o dedinho levantado: "Tia, posso ir no banheiro?"
Aí você chega em casa e encontra seu parzinho de vaso, sua cara-metade, perguntando por que demorou tanto, por que não telefonou, e dizendo que é melhor dormir cedo pois amanhã é dia de super-mercado.
Nem falo aqui de mãe e sogra que, por mais que você tenha 50 anos e seja forte como um touro, sempre vão perguntar se você está se alimentando direitinho - uma porque quer você forte, outra porque quer te explodir (Cabe a cada um dar o nome aos bois).
E quando te chamam pelo nome completo então?!? Você já espera o castigo, a surra, pois a "justiça" não falha nunca. E é a vez de a perna tremer, o medo chegar e a voz não vingar.
Sair desse lugar infantil não é prá qualquer um não. Muito menos sem uma ajudinha.
Então, diante disso, só posso te desejar:
Vê se cresce, tá?!?

terça-feira, 7 de abril de 2009

NÃO ME SEGUE QUE EU NÃO SOU NOVELA.


Apesar do erro gritante da frase, ela fica melhor assim, do jeito que todo mundo fala. Já que todo mundo fala mesmo...
E apesar de já ter comentado aqui do meu gosto por novelas, acho logo uma explicação prá ele:
É que vendo novela, me sinto MUITO inteligente.
Eu sei tudo o que acontece. E posso analisar a vida dos outros, e falar com a tv, como se os personagens me ouvissem.
E não é que eles fazem exatamente o que pensei?
Incrível como eles adivinham o destino que falei prá eles, parece até que ouvem...
Mas não ouvem.
Vamos ao choque de realidade nos defrontar com a ilusão que o autor criou para que nos sentíssemos mesmo MUITO inteligente e achássemos que somos co-autores.
Só que essa co-autoria não é só na novela. No futebol, por exemplo, todo mundo entende tudo. E quando o assunto é a vida dos outros então... Aí não tem prá mais ninguém.
Além do desejo de saber de tudo da novela, tem uma outra coisa também que não pode se perder por aí, que é o desejo de ser muito importante na vida alheia.
Aquela vontade de ter a chave das coisas, de saber 'o segredo', de indicar o caminho e dirigir a cena quase como um... flanelinha. (Pensou que fosse o diretor né?)
Fica só sinalizando do lado de fora do carro, e berrando prá quem tá lá dentro seguir as instruções: - direita, volta, esquerda, desfaz,...
Olha só o que uma novela faz na vida da pessoa!
O interessante é que, geralmente, quem tá do lado de fora, não tem a menor idéia do que se passa lá dentro do carro, da casa, do outro.
Daí o palpite ficar muito fácil de ser falado.
Mas quem perguntou?