quarta-feira, 27 de junho de 2007

Idade?

O menino gritava. Esperneava. Xingava. Chorava.
Eu atravessei a rua para ver o que era aquilo, numa curiosidade de atropelamento. Até que pude ver uma agressão total. Um adulto, funcionário de uma farmácia, revirando o menino como se ele fosse uma colcha, a qual se sacode em busca de algum objeto perdido.
O adulto enfiava as mãos dentro da roupa do menino, e procurava.
O quê?
Nem ele sabia.
O objeto perdido simplesmente não existia. O que havia ali era demonstração de quem mandava, de quem podia subjugar o outro. E o atendente ganhou. Teoricamente cumprindo seu trabalho da "melhor" maneira possível.
O menino?
Ahhhh. Prá muita gente nem era mais menino, apesar de seus 12 ou 13 anos. Era só um monstro, que deveria ter maioridade penal, e ser enquadrado em qualquer crime prá poder ser isolado e nunca mais incomodar.
Ao mesmo tempo leio nos jornais o pai de um jovem espancador de mulheres defendendo-o como se fosse uma criança.
Seu crime? Segundo o pai foi o de ter errado ao julgar que uma empregada doméstica fosse mera prostituta.
Como se bater em prostitutas - ou em qualquer pessoa - fosse atitude até louvável.
Ironias a parte.
Minha pergunta é só uma : classe social determina a idade agora?
É que quando aprendi a contar, vi que o ano era composto de 365 dias, com exceção dos anos bissextos. Agora vejo que isso não tem muita importância. Já que um garoto de 12 anos pode ser monstro "di maior", e um monstro de 19 é só uma criança.
E vem um monte de teorias dizendo como os pais deveriam agir antes, de como deveriam controlar e se informar. Mas pergunto aqui: Será que não estamos esperando bom senso de pais que simplesmente não têm isso prá oferecer.
Ao contrário, pelo visto o que esses pais passam para os filhos é uma divisão do mundo muito pobre, como se houvesse 2 times. Os que batem e os que apanham. Os que são servidos e os que servem. As "crianças" e os índios, mendigos, domésticas, prostitutas, trabalhadores, bancários, camelôs, garçons, vendedores,...
Então, passar aquelas noções de respeito, de certo e errado, de justiça, fica realmente muito difícil.
E restam crianças. Apodrecidas em corpos de adultos. Fedendo. Putrefatas. Brigando até hoje pelo brinquedinho que nem querem. Ou que querem destruir.
Deve ser muito triste crescer e continuar criança assim, sem conhecer nunca o que seja o outro, sem se emocionar com o pôr do sol, sem experimentar carinho, respeito, companheirismo, ou qualquer sentimento mais nobre do ser humano.

sábado, 23 de junho de 2007

AINDA NÃO


E o sujeito se vê completamente desesperado, despreparado, nu, diante da platéia afoita...
Quem nunca ouviu falar, ou mesmo nunca sonhou com algo parecido?
A interpretação chega a ser óbvia. Como se ainda tivesse que fazer alguma coisa antes de se lançar em alguma atitude importante. Como se, literalmente, o sujeito não estivesse pronto.
Mas aqui, na vida irreal, é diferente.
Vida irreal, sim, já que ela conta meio como ensaio, como preparação, como rascunho prá uma vida que nunca chega.
E vêm uns raciocínios engraçados de gente muito inteligente, mas que se acha completamente "despreparada". É o caso de quem não vai à praia porque está muito branco... De quem arruma a casa pra chamar a faxineira. E não chama nunca, pois ainda não arrumou... De quem precisa resolver um problema que dura 30, 40, 50 anos para então começar a fazer análise...
Tá certo, parecem desculpas esfarrapadas à primeira vista. Mas não são, não. Essas histórias só falam de quanto as pessoas acham que ainda falta muito treino, muito curso, muita pós, para poderem começar a fazer qualquer coisa.
Tem um despreparo aí que é primitivo, ancestral, talvez mostrando até uma exigência de atitude num momento em que elas realmente não poderiam tomar atitude alguma... Quando ainda engatinhavam pela casa e se cortavam em cacos humanos adultos espalhados pelo chão, sem a menor idéia de como desviar ou colar aquilo tudo.
Eu sei, cada caso é um caso. Nem quero aqui ficar inventando personagens e motivos prováveis de essas sensações existirem.
Só ressalto aqui a resistência que se tem em não se mover, como se fosse rebeldia, como se fosse a resposta tardia...
Mas essa resposta atinge a quem, afinal?
Então fica combinado assim: eu espeto aqui com meu tridente, e você começa logo essa análise. Seguro sua mão e você vê que pode, ok?
Ligue jah!!!


Se você achou o telefone da foto antigo - sim, isso é um telefone - olha só prá idade do seu problema...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

SE ENTREGA, COURISCO!


Não pretendo tornar esse blog um pequeno diário, mas tem umas coisas que ficam na cabeça, e fazem pensar, e causam tanta coisa, 'tantas emoções', que seria até mesquinharia minha não dividir com ninguém.
Outro dia comi um negócio na rua que me fez realmente mal, e eu me contorci por uns dias outros até passar o mal estar.
Ajoelhei, pedi aos céus, pedi perdão, prometi que nunca mais, arrependi até da maçãzinha que nem fui eu que comi...
Até que mudei o foco.
Levei a família ao cinema!!!
E fui eu, verde tal qual uma ogra, ver Shrek Terceiro.
Cheguei lá ainda mal. E começou o filme.
Não tive dúvidas. Peguei a mão de meu filho e segurei bem forte. Vi o filme e, quando dei por mim, gargalhava alto no cinema. Totalmente entregue aquela cena, ridícula que só eu, citando Roberto Carlos no melhor dele: "Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo!" (tomara que Ele não me processe).
Voltei prá casa curada. Parei de prestar atenção só no meu umbigo - literalmente - prá atinar prá troca de calores que eu vivi, cantarolando a música de BNegão e tomando como ensinamento sua máxima, que, a princípio, parece uma redundância, mas que aos olhos mais atentos, é um ensinamento e tanto: "Priorize a prioridade!"
Pois bem, achei de falar disso aqui por causa da dificuldade que a gente têm de se entregar às coisas boas. De se entregar a uns momentinhos que deixam a vida menos chata, menos pesada...
E fica uma ameaça pendente como se, ao se entregar, a gente perdesse um pouco de si mesmo.
E realmente perde, sim.
Perde o controle, perde a sisudez, perde até a hora da novela.
Mas ganha tanto em troca.
E é justamente aí que tá a graça.

Aceita essa contradança?
É só se deixar levar. Como naquela festinha em que vc ainda era criança, lembra? E pôde dançar com a menina que, para você, era a mais linda. E seus pés levitavam... e você nem sabia mais seu nome. Aliás, prá que nome?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

ASSIM É SE LHE PARECE


Que o Cupido é moleque safado, sacana que só ele, ruim de mira que só os diabos e ainda por cima bêbado, torto, debochado,..., disso todo mundo sabe.
Que o amor é cego, e que ele seja também meio obtuso, meio tapado, meio burro até, disso pouca gente duvida.
Que Santo Antônio, afogado em copo d´água de cabeça prá baixo, mostra na prática os fenômenos estudados nas aulinhas de física - aquelas que ninguém entendia nada - exemplificando o que seja a refração, isso também é fato.
Santo Antônio não consegue traçar uma reta naquelas condições, talvez por isso a gente veja por aí cada parzinho de arrepiar... Decerto que tem um pacto, mas daí a esse pacto ser de amor ou felicidade; isso já é outra história.
Ok, ok, a gente pode dar o nome que for, tentando justificar as escolhas amorosas, o mau gosto, a sina de se envolver sempre com gente muito parecida. E responsabilizar os santos ou deuses, a cachaça ou a miopia quando nos for conveniente.
Mas explicar prá quê?
Prá quem?
Afinal, a parte interessada no assunto é inequivocamente a nossa.
Será que não tem nada além dessas escolhas?
Na psicanálise, o nome que a gente dá a tudo isso que justifica nossas miras um tanto toscas é um só: Inconsciente.
Sim, é ele quem decide o que fazer quando a gente acha que se entregou à emoção e não pode mais decidir nada.
É essa escolha aparentemente sem escolha - dizem que a gente não escolhe por quem se apaixona - que questionamos quando o tema é o amor, é o alvo do Cupido, esse menino zombeteiro que faz das suas quando resolve atirar sua flechinha.
Por que será que aquele brilho nos olhos, que aquela frase exatamente naquela hora tornou-se tão decisiva a ponto de elegermos alguém prá ser o depositário do bem mais precioso que podemos doar?
Deixemos Freud quieto. Nada de explicações. Elas são racionais demais prá falar de sentimento. Não servem.
Mas a gente pode investigar o Inconsciente. E pesquisar que sentimentos são esses, que emoções são essas que se constróem justamente quando presenciamos um determinado acontecimento - e queremos participar da cena.
Vamos pesquisar juntos?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

TODO MUNDO VAI AO CIRCO... MENOS EU.


Day after de dia dos namorados!!!
Para uns, foi só uma terça feira como outra qualquer. Pra outros, vivência de propaganda de margarina. Para outros ainda, o pior dia do ano. Dia de crise séria. De achar que todo mundo tem. Menos eu.
Parece que o verbo pro Valentine´s day é esse. Ter. Como se um realmente tivesse o outro. Como se o possuísse. Como se o namoro fosse um contrato de posse de direito.
É tudo com pronome possessivo. O meu namorado. A minha namorada.
E quem não tem... É pobre.
Fica pedindo nos sinais um olharzinho que seja, prá poder se sentir menos miserável nesse mundo que ama.
Mas e o verbinho? O que ele tem a ver com amor, afinal?
Dia desses fui ao cinema relaxar e saí de lá tomando dorflex pra dor nos ombros. O filme? Baixio das bestas. Fortíssimo. Mostrando um Caio Blat nada mocinho da novela da tv, que tem na força bruta o seu instrumento.
Atinei pruma questão talvez interessante, que é como as pessoas lidam com aquilo que não conseguem dominar. Nesse balaio a gente encontra o amor, o tesão, o desejo, a amizade até... E esses sentimentos vão tomando conta, mostrando que somos nada, derrubando nossa prepotência de achar que podemos nos organizar e planejar tudo com muita antecedência, pois nós agora, diante desses sentimentos, lidamos obrigatoriamente com o outro.
E nesse não saber o que fazer para 'manter o controle', vem o descontrole total. A tentativa de dominar e apreender esse outro que é objeto de nossos impulsos até o momento da posse absoluta. E, não raro, da morte.
Fica meio como cegar os olhos mais bonitos, pra que eles não vejam mais ninguém.
Ao invés de admirar, obter, até talvez sua destruição.
Não mais contemplar o vôo dos pássaros. Nada de vôo duplo. Afinal, eles aqui na área de casa, em sua gaiolinha, são tão singelos...
Claro que há os casais que se amam. Que dão a mão e caminham juntos. Que são cúmplices e sócios e admiradores mútuos...
O tema aqui é outro. É a posse. É o ter confundido com o amar. É o apreender lido como troca.
Por que diabos o entrelace desses conceitos é tão fácil? Talvez pela própria linguagem do amor ser confusa em sua natureza. Afinal, quem consegue pronunciar uma frase com sentido, lúcida, sensata, quando se é tomado por essas coisas do outro mundo?

E viva Santo Antônio!!!

domingo, 10 de junho de 2007

ESCANINHO SÓ PROS MEUS


E vira e mexe chega um me pedindo um diagnóstico preciso. Pois, segundo ele, assim será mais fácil tratar. A comparação é como a de um dermatologista, um especialista em determinado assunto que, infelizmente, se especializa tanto em um que esquece todos os outros.
E essa comparação não é só pro médico, não.
O Freud dizia que usava as patologias como lente de aumento prá estudar as características humanas. A princípio parece estranho isso, como se tivéssemos características "anormais", insanas, o tempo todo. Mas um olhar mais detalhado pode nos oferecer até um certo alívio, afinal, ninguém precisa ser de um jeito só o tempo todo.
E era isso que o barbudo afirmava. Que o problema maior surgia quando congelávamos num só aspecto da personalidade, cristalizando-a, e esquecendo todo o resto, todas as outras possibilidades de estar no mundo.
O filósofo Gilles Deleuze, por sua vez, levantou a questão da saúde em termos de uma personalidade nômade. Isto quer dizer que para levarmos a vida de maneira saudável, ao invés de nos firmarmos em um diagnóstico preciso e muitas vezes aprisionante, melhor seria se encarássemos a personalidade de cada um - inclusive a nossa - como transitória.
A multiplicidade impera, nessa sugestão de bem viver, como única possibilidade de saúde.
Olhando assim de banda, rapidinho, só correndo os olhos, parece realmente fácil. Não fosse a simplicidade a meta mais complexa de se alcançar...
Mas o que chamo atenção aqui é para a possibilidade. É para o poder ser outro como um aspecto saudável do ser, fugindo ao que chamamos patologicamente de 'duas caras', de 'maria vai com as outras' ou de mera volubilidade, quando acenamos com a hipótese de se mudar de idéia. De se mudar de posição e estratégia quando a que teimamos em utilizar simplesmente não dá mais conta.
E então?
Você vai ficar aí parado?

quarta-feira, 6 de junho de 2007

MEIO ASSIM, ASSIM...

- Ele tinha um jeito assim, metade irresponsável, metade homem de negócios.
Metade baiano, metade novaiorkino,
Metade forte, metade ranzinza,
Metade bailarino, metade corsário,
Metade ladrão, metade justo,
Metade jazzman, metade muito brega,
Metade clássico, metade da moda,
Metade poeta, metade lenhador,
Metade Sílvio Santos, metade Burroughs,
Metade depressivo, metade chave do manicômio,
Metade febril, metade volta ao mundo,
Metade inconsequente, metade casadoiro,
Metade viril, metade flor de maio,
Metade herói, metade fujão,
Metade sonho bom, metade filme classe z,
Metade...
Metade...
Metade...

- Alto lá... Quantas metades têm esse ser afinal? Duas não formam um inteiro?
- E quem foi que disse que ele era UM SÓ?

sábado, 2 de junho de 2007

PREGUIIIIIIIIIIIIÇA...


O céu branco. A chuva caindo forte sem anúncio de estio. Tempo bom prá se fazer... NADA.
Amanhã eu vejo isso. Amanhã eu levanto. Amanhã eu dou um jeito nessa bagunça que virou a miha vida.
Mas hoje?
Com essa chuva?
Não é dia bom prá mudanças drásticas. Vai que os astros nem queiram que eu me mexa logo hoje... Afinal, se mandaram uma chuva dessas, devem ter um bom motivo prá isso.
E o tempo, de assunto de elevador, passa a ser a desculpa mais que aceita prá gente não mover nem um músculo além do estritamente necessário.
Mas esse fenômeno econômico não ocorre só aos sábados de chuva, não.
É curioso como na análise a gente se depara com essa obnubilação do dia, invisível a olho nu, que acontece mesmo no verão, mesmo com sol a pino.
Chove dentro d´alma. De janela aberta. Molha tudo.
E a desculpa do tempo é usada de novo.
"Não estava no clima".
Resolvi esperar passar o tempo, prá ver se nem preciso mexer nisso, prá ver se fujo do assunto que incomoda mais uns dias, prá ver se ele se resolve sozinho e eu nem tenha que sair do meu cantinho.
E a gente percebe que quanto mais as pessoas precisam da análise, quanto mais estão próximas a um passo fundamental em suas vidas, o único passo que conseguem dar é para trás. É o que mantém tudo aquilo com o que já estão acostumadas.
A fuga é anunciada. Esperada até.
Sem muita novidade, sem muito pôr do sol, mas sem ter que gastar muita energia remexendo em armários velhos. Escolhendo o que ainda é útil e o que nem serve mais.
O mofo às vezes impera. Toma conta de tudo.
Mas com essa chuva... ninguém há de reparar.
Você pensa daí:
Ninguém vai notar.
Só eu.
Só eu sei como ando correndo de qualquer aceno de possibilidade de eu mudar minhas queixas.
E não mais precisar delas...