segunda-feira, 29 de outubro de 2007

VARA DE GOIABA


Vez em quando escuto por aí sobre as semelhanças entre a psicanálise e alguns objetos
um tanto hostis. Outro dia mesmo ouvi que o psicanalista de hoje era a 'vara de goiaba' de ontem.
Absurdo!
Mas achei que pode ser interessante trazer esse tema aqui. Afinal, por que tanto medo de psicanálise?
A imagem mais apropriada é a da mão inquisidora apontando pro sujeito, obrigando-o a confessar seus crimes mais secretos.
Êpa. Mas isso quem faz é o padre, a madre-superiora, a diretora do colégio, do presídio, o delegado, os colegas da clínica de recuperação, o bedel,...
Por que é que a fama recai sobre o psicanalista?
Outro papel interessante que supostamente o psicanalista tem é o de guia turístico. Ele tem o mapa. Ele sabe como chegar lá. Ele tem a informação que eu não tenho, e vai me dar o caminho.
Esse é o outro lado da moeda, que no fim significa mais ou menos a mesma coisa. Nos dois, a posição de poder do psicanalista está em voga. Nos dois ele tem a força - seja em forma de objeto de tortura, seja em forma de mapa da mina.
Mas uma coisa precisa ser dita aqui: Esse psicanalista aí só existe prá quem foge de análise e inventa desculpas prá não fazer.
Se alguém cruzar com um desse tipo, fuja. Fuja o mais rápido que puder, pois isso de psicanálise não tem nada.
A função da psicanálise é muito outra.
É investigar. É procurar. É buscar, junto com o analisando, os caminhos, os porquês, as saídas do labirinto.
Ou psicanálise não passaria de mera imposição da vontade do analista sobre a vida dos outros, apelando prá um "faça isso; não faça aquilo". O que, convenhamos, não adianta muita coisa, já que a consequência de qualquer ação será somente de quem a pratica.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

SAUDADE DO CHIQUEIRINHO


... E o bebê ficava ali no meio da sala, usando um pedaço muito pequeno da casa - a parte que lhe cabia daquele latifúndio - seguro toda vida. Dentro do chiqueirinho, ou cercadinho, ele estava sempre seguro.
Nada podia lhe atingir. Nada podia lhe acontecer. Nenhum tropeço, nenhum objeto era estranho, nenhuma queda era perigosa.
Nada!
Sem riscos. Sem novidades. Sem vista pro céu.
Ah, o céu!!!
É curioso como alguns hábitos da infância permanecem eternamente.
Duvido que só eu tenha notado que tem gente por aí que caminha de andador até hoje. A gente olha a pessoa e consegue até visualizar aquele disco esquisitíssimo de plástico azul com rodinhas, onde se punha as pernas e teoricamente ensinava a andar com segurança. (Como se as pessoas só pudessem aprender a andar com esse objeto altamente anti-natural).
Nem vou falar aqui de fase oral, com chupetas trocadas por cigarros, bebidas e comidas... Cito apenas aqueles troços que cumprem a promessa de proteger.
E eles insistem em permanecer no convívio da gente, mesmo que o objeto em si já nem exista mais. E toma-lhe chave e tranca, toma-lhe condomínio altamente vigiado, toma-lhe emprego chato, toma-lhe namorado(a) intragável. Tudo muito seguro e sem ameaça de surpresa. Assim não existe a menor probabilidade de alguma coisa decepcionar, de sair do controle, de machucar.
se não acontece nada novo, como alguma coisa pode dar errado?
Só que lá na infância tinha o domingo.
O passeio era diferente. Parque, areia, praia, zoológico, vento no rosto, banho de picolé derretido, onda que derrubava e deixava sem prumo, árvore, jabuticaba, pé descalço, bicicleta, sol, ...
Mas e o céu hoje em dia? Cadê? Cadê olhar pro alto e perceber que há muito mais do que o teto da sala visto do chiqueirinho?

domingo, 7 de outubro de 2007

"ODEIO POLÍTICA"


Essa frase é constantemente repetida em qualquer lugar onde a gente vá. Frequentemente ouvida em consultórios e filas de banco. Facilmente compreendida em qualquer situação em que a gente não queira dar muito parecer, passar recibo de que a aposta que a gente fez acaba ficando mesmo sem recibo, sem garantia, sem satisfação garantida ou seu dinheiro de volta.
Já dizia o louco bigodudo Nietzsche que a diferença entre a ditadura e a democracia é que, na segunda, a gente escolhe quem vai mandar na gente.
Não quero aqui defender ditadura ou democracia num ou isto ou aquilo muito do empobrecido. Ao contrário, minha pergunta é: Por que delegar?
Depois dos comentários sobre o filme do Bope - digo de novo que é um excelente filme. O que mata, literalmente, é que não seja ficção - senti uma onda de escolha no ar, como se a gente pudesse escolher quem vai tomar conta da gente. Se o Bope, o tráfico, a polícia ou a elite alienada.
Mas por que é que eu tenho que escolher entre um desses?
Saindo do filme e indo pelo mundo afora a gente encontra outros exemplares eleitos por aí, os quais teoricamente 'tomariam conta' de nós, zelariam pela justiça e nosso bem estar, mas que olhando de perto não é bem assim.
É até reconfortante achar que alguém olha por nós. Que não estamos sozinhos. Que tem um 'responsável' por nossas proezas e até por nossas desgraças.
Falando nisso, as bancas de jornal estão abarrotadas com matérias anti e pró Che Guevara, explicitando bem essa idéia de que temos que escolher entre um - e só um - desses caminhos.
Mas se é prá escolher entre militares ou comunistas, Zé Pequeno ou Capitão Nascimento, alienação bronzeada ou intelectualidade amarga, fico com os shows de calouro mesmo. E dou bananas prá todos esses outros sem-talento.
Em Elke nós confiamos!