quarta-feira, 2 de junho de 2021

CABEÇALHO



 

    Em caso de desorientação, taquicardia, confusão mental, sudorese, descontrole esfincteriano ou simplesmente vontade de se juntar a algum grupo que você nem sabe como surgiu, há uma receita.

Para os casos de angústia diante da folha em branco, do jaleco branco, de branco na memória ou ainda de levantar bandeiras da supremacia branca, a receita é praticamente a mesma:

FAÇA O CABEÇALHO!

Faça o cabeçalho no alto da página, ou mesmo mentalmente. Do jeitinho que tia Marocas ensinou. Nome da escola, série que estuda, data, localização, nome.

De preferência, preencha ainda o nome do Pai, o da Mãe, e até o da bisavó que você sequer conheceu. aquela que provavelmente é filha de alguém que fugiu da guerra de algum país. Ou, ainda, que foi expulsa. Ou, ainda, capturada. 

A receita é boa. Situa. Orienta no tempo, no espaço, e na construção histórica.

Não se esqueça de colocar a ocupação. A ocupação é muito importante. E por que você se ocupa do que se ocupa, seja pra levar comida pras crianças de casa, seja porque acredita no que faz. 

E no que acredita. No pastor, no pôr do sol, na promessa amorosa, no meteoro, no chá de boldo, ... Não importa. Em alguma coisa existe crença.

A folha em branco já foi tomada pela metade até aqui. 

Agora um modo de fazer.

Preste atenção, pois é aqui o perigo. Se inverter a ordem das coisas, se não misturar direito o que é de misturar, e se não separar bem o que é de separar, vai virar uma gororoba difícil de engolir. E os ingredientes são seus. E você não quer esse ser prato insosso e impalatável né?!? Não pra você mesmo.

Junte agora tudo o que você acha odiável. Anote, enumere, classifique, dê notas.

Mas não personalize não. Sem nomes, sem siglas, só diga. Pode ser injustiça ou pimentão. Sábado de chuva ou quarta de sol. Barulho de ventilador ou silêncio sem ventilador. Coloque aqui.

Finalmente, depois de se situar pra ver a situação. Depois de classificar para a desclassificação, Tente ligar os pontos e contar uma história: A história das setas e seus porquês.

Bom, por hoje é só isso mesmo. Quero ver como fica. Não esqueça o cabeçalho. Se até o alho tem cabeça, não queira perder a sua.