sábado, 19 de maio de 2007

FALÁCIAS


Tem gente por aí me perguntando se psicólogo pode sair falando o que pensa, o que acha, dando opinião, parecer, etc, de torto à direita como eu tenho feito.
antes de responder, talvez outra pergunta: Psicólogo pode ter dor de barriga, fumar, beber, dançar, brigar com o namorado ou dormir na praia?
A resposta é um sonoro SIMMMMMMMMMM!!! Desde que não perca a hora da sessão de seus pacientes.
Até porque, antes de escolher profissão, eu já era!
Já era alguém que pensava, achava, tinha opinião, parecer, dor de barriga, vontade de dançar, etc, de torto à direita.
O tempo passou, eu mudei de ideia inúmeras vezes. E hoje fico crente que sou colunista quando escrevo aqui.
Charles Bukowski, o velho safado, tem um livro maravilhoso publicado postumamente no qual ele afirma que ao chegar aos 70 anos de idade não precisa mais ler e reler seus textos, e corrigi-los de acordo com o que ele espere da recepção do público. Segundo o mesmo, quando se chega aos 70, pode-se dizer o que quer e pronto.

Mas eu é que não espero tudo isso.

Aquela trava toda de não conseguir dizer o que pensa, o que sente, depois que a gente entra em contato com os porquês de tanta censura, não tem mais motivos pra existir.

Claro que durante o trabalho clínico a gente não fica nesse "achismo" todo. Ou ouvir o outro seria absolutamente impraticável. Como escutar se não calo a boca?
Impossível.
Mas o tempo todo a gente tá dizendo alguma coisa. Nem que seja com o olhar. Com o copo que escorrega das mãos justo naquele instante. Com a piada. Com o silêncio...
Daí o outro perceber e entender já são outros 500.
E o outro nem precisa estar tão longe assim para haver o som inaudível das multidões, confundindo e misturando todos os ruídos. Às vezes o que sai da boca destoa tanto da atitude que fica realmente complicado entender qualquer coisa. Tanto pra quem ouve quanto pra quem diz.
De vez em quando escuto no consultório a seguinte frase: "Fiquei pensando no que você me disse e resolvi fazer assim - assado".
Confesso aqui que não tem frase que me gele mais do que essa.
Medo total.
O que será que essa pessoa aqui na minha frente está dizendo que eu disse? E o que será que ela entendeu do que eu disse? E qual palavra da oração ela julgou ser a mais importante?
É engraçado, pois na maioria das vezes não fui eu que afirmei qualquer coisa. E sim a própria pessoa que queria atribuir a alguém a autoria de suas falas.
E como a culpa é da mãe, e na análise ela se transfere pro analista, fico com a fama fácil, fácil.
E isso não acontece por mal, não. Cada um enfatiza o que quer na comunicação. E isso ocorre dentro e fora do consultório.
Mas ultimamente acho que estou falando demais aqui.
E se a gente trocasse um pouquinho?
E se você aí começasse a escrever aqui prá mim sobre o que te aflige? Sobre o seu problema maior?
Prometo que faço de tudo prá entender e dou um retorno logo, logo.
Feito?

O que as fotos têam a ver com o texto?
Cada um associa como quer...

3 comentários:

Loja Moeggall disse...

Existe uma fala policial, que não é falácia, bem conhecida, que é assim: "Você tem o direito de ficar calado. Tudo o que disser pode ser usado contra você no tribunal." Fico pensando o quanto essa atitude, a de ficar calado, é uma defesa contra julgamentos alheios, arrependimentos e mal-entendidos.
Minha querida e saudosa Tia Tida também me ensinou a "não passar recibo", quer dizer, não dar mostras de que se recebeu a ofensa, quer por atos ou palavras, e tem aquela também: "deixar o dito pelo não-dito", muito usado quando a hora para dizer algo já passou, e não interessa voltar ao assunto delicado. Deixa prá lá. Diferentemente das novelas, em que tudo é verbalizado, tudo é passado a limpo. Não admira que as multidões fiquem lá grudadas a ouvir todos os impropérios que um dia quis dizer ou que merecia ouvir... Ah, me lembrei de outra: "Quem diz o que quer, ouve o que não quer."
Todos esses ditados vêm corroborar mais um: "Em boca calada não entra mosca." E o pior de todos: "Fulano, você fala demais."
Por isso todo mundo respeita e até tem em alta conta quando alguém pouco fala, nunca dá a menor pista do que está passando por dentro, nunca acha nada a respeito de nada e sempre concorda com o outro.
Eu é que não caio nessa. Gente que não fala é prá mim, no mínimo, suspeito. Não fala por quê? Porque "a boca fala o de que o coração está cheio". E se estiver cheio do que não presta, os outros vão saber. Daí o medo de falar. Mas aí é que tem de falar, e esse é o trabalho (hercúleo) do terapeuta, certo, Dra.Soraya? acessar a consciência prá tentar esvaziar o balão do medo, da raiva, da vingança, do crime, antes que ele exploda.

PS.: A Bíblia está cheia de citações pró-bico-calado também. Mas nesse ponto eu sou uma bela transgressora. Adoro "abrir o verbo".

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Calma...
Não sei quem está certo ou quem está errado.
acho que cada um tem seu jeito de se expressar.
Mas vamos lá... "Fulano, você fala demais" não é ditado. É crítica.
E das grossas.
Daí a dizer que quem não fala, por sua vez, é suspeito... Não será também uma crítica?
vamos ver o que faço com essas informações.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

terapeutas desarmam bombas, Moema?
POde ser. às vezes eles põem mais lenha na fogueira também.
às vezes uma explosão é necessária.