sábado, 5 de maio de 2007

VINDE A MIM AS CRIANCINHAS


Amanhã, 06/05, é aniversário do Freud, nosso charuteiro mor. Pensei no que falar a respeito do pai da psicanálise e suas teorias, e só me veio à cabeça essa frase que vez em quando ouço por aí.
"Criança não tem que querer!"
Não é raro ouvir a respeito das crianças como se elas fossem de outra espécie que não a humana. Algo assim como cachorro, gato, passarinho. Um ser desses que não muda nunca, independente da idade; desses que jamais entram na adolescência e discordam dos pais; desses que supostamente não entram em conflito, pelo simples fato de não pagarem a conta de luz.
A gente alimenta, põe prá dormir, cuida da higiene, e não leva muito em consideração o que eles dizem ou pensam. Afinal, são só crianças.
Por isso mesmo, já comecei o texto com título de Jesus Cristo que é prá provocar logo. Assim, minha idéia fica incontestável. E logo depois falo do Freud, o judeu fugitivo da guerra, que é prá por tudo no mesmo saco e me encher de autoridade prá falar sobre o assunto.
Pois bem. Vem do Freud a teoria de que a infância não é dotada só de obediências e brincadeiras inocentes e singelas. Isso é que não. Nosso teórico, inventor da técnica psicanalítica, foi rechaçado de maneira vil quando afirmou que as crianças possuíam sexualidade - o que por si só já implica em desejo - e que essa influenciará de maneira inequívoca a vida psíquica no futuro.
Essa sexualidade infantil foge, e muito, da vivenciada pelos adultos. Ela vem muito mais como experimentação, desde a primeira vez que o bebê mama, desde o primeiro olhar, a primeira voz ouvida...
Na época, as palavras de Freud não foram aceitas de modo algum. E ele chegou a ser ridicularizado em público por considerar, mais uma vez, o que ninguém considerava quando o tema era ciência.
E não é que até hoje a gente se depara por aí com uma negação estarrecedora de como essa fase é fundamental para a formação de adultos perspicazes e independentes?!?
Fica algo assim como se fossemos semelhantes a estágios de vídeo game. Passa-se de uma fase a outra sem muita ligação entre elas.
É que muitas vezes é difícil prá nós mesmos aceitarmos que nossa infância NÃO FOI esse mar de rosas cheio de inocência e tranquilidade. Daí acolher a infância alheia se mostra tão trabalhoso. E reconhecer que a infância, que seria a base de tudo, possa não ter sido muito sólida, mas sim meio bamba, meio instável, acaba provocando uns sentimentos desconfortáveis, que desestruturam certezas que a gente segura com tanta convicção.
O conflito então se instala. E a maneira dita mais "fácil" de lidar com ele é negá-lo.
Mas negar o conflito não implica também em negar o desejo?
Aquele desejo da infância. Aquele reconhecimento de que as crianças, também elas, podem e querem, mesmo que isso seja um mero exercício para o futuro.
DESEJEMOS TODOS, então!!!
E VIVA FREUD!!!

5 comentários:

Unknown disse...

Salve, salve Borboleta!!!

Minha nossa. Me assustei com o texto... eu levo comigo esse estigma do "criança não tem querer" ouvi tanto que decorei... Era assustador, pensar que só depois de muito tempo eu teria algum desejo atendido... Então: criança - desejo olha ai o Freud!
Adorei, bjus Marcos Paulo

afonso magalhaes disse...

Soraya achei o testo mais comemorativo da vinda do papa do que do aniversário do freud.Criança tem querer, toda criança, pobre,rica, branca, preta, defeituosa, com encefalite etc tem querer, merece viver, vinde a mim as criancinhas.
Criança tem querer adulto não? quando vemos uma criança gritando, dizendo eu quero, fazendo manha sabemos que ele está tentando dizer alguma coisa para a mãe. E o mundo, e as outras pessoas que não têm nada que ver com este diálogo?
O mundo em que vivemos é baseado na estoria do direito de um que termina onde acaba o do outro. Se o desejo da criança é incomensurável, se ela não tem limites que digam a ela até onde vai o seu querer os adultos, todos, serão sempre espectadores pasivos de um show que nem sempre estavam preparados para ver e, na maioria das vezes ouvir. Pode parecer comentario de Herodes mas é o comentario de alguém que não tem filhos, ou seja, aquele que dá palpite na educação dos outros, igual a todo mundo, os que os tem e os que não.
O mundo não é tão benevolente como os pais e, na maioria das vezes, vai castrar este "eu quero". Se em casa ele não entendeu o que é o chega, o não, o agora sou eu, o dá um tempo,fudeu.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Afonso,
bom vc falar nisso. me aguarde no próximo post

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Marcos Paulo,
a idéia é bem essa mesmo. Parece que tem uma geração perdida por aí, a que esperou virar adulta prá poder querer. E agora fica se sentindo até injustiçada com as crianças querendo. tipo "e minha vez? quando é?"
Por isso repito a proposta: DESEJEMOS TODOS!!!cada um na sua intensidade, cada um no seu ritmo.
ah... Adorei o apelido

Unknown disse...

Quando ouço alguem dizer essa frase ou lembro das milhões de vezes que me disseram... Tenho sempre uma interpretação mais simploria
Não vejo o frasiado "Criança não tem que querer" como algo instituido para tolir ou tirar o direito de tomar decisões, tornando-os seres irracionais e sim como preservação da infância...