Qualquer desajustado que se preze apresenta como um dos primeiros sintomas a audição de vozes que não se sabe muito bem porque escolhem logo aquele ali prá azucrinar.
A voz manda. A voz sugere. A voz xinga e o chama de incapaz. A voz dá a entender que todo mundo está contra, e que só ela é a real companheira daquele amado ouvinte.
Se isso ficasse só com os loucos, tava tudo meio certo. Era calar a voz dos pobres coitados escolhidos com uma boa dose de sossega zoológico inteiro e pronto. Silver tape colado na boca de quem atrapalha a ordem natural das coisas.
Só que a voz está aí, o tempo inteiro, em toda parte. E ela fala tão alto que ninguém mais se escuta ( o 'se' aí usado tanto no sentido de reciprocidade como no que se refere a uma auto-escuta).
Há um hábito de escutar e engolir tanta coisa, tanta informação, tanto pitaco, tanto ensinamento de como viver essa ou aquela situação que a gente acaba se esquecendo um pouco de como é que fala. E fica dando créditos aos outros como se não tivéssemos um bom currículo prá dizer isso ou aquilo, afinal, por mais que a gente leia, o título de especialista não é prá qualquer um.
Só que assim fica uma voz presa lá na garganta. E às vezes parece que ela incha tanto, que acumula líquidos e pus. Que inflama até chegar no peito.
Aí danou-se. Dói tudo. E não há livro ou receita ou revista com testes que deem jeito.
Tem que fazer barulho. Tem que chorar, berrar, espernear, socar a parede. E de preferência com alguém ético prá testemunhar tudo isso sem revidar depois.
Bom, meu recado eu já falei. Agora fala tu!
Apesar do cara aí da foto estar todo costurado, esse é um jeito dele berrar. Se ele simplesmente se calasse, sem incomodar ninguém - a foto incomoda né? - nem notariam sua existência. Mas o prisioneiro paraguaiao pôde ser 'ouvido' mesmo sem pronunciar uma palavra. Olha que voz forte!
Um comentário:
isso aí, solta a voz, mulher!
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