"Eu simplesmente detesto quando mudam o tom do meu silêncio!"
Ele pensava, calado, mudando de assunto.
Afinal, desde muito antes de nascer acostumara-se a escutar seu próprio ritmo, antes compassado apenas com o tambor forte da mãe que o carregava.
Agia assim, visceralmente. Pensava com o sangue, com as artérias, com os órgãos. Sentia a vida e ainda tinha tempo de contemplar o barulho do sol quando nasce.
"Neurônios são para os fracos!"
Mas nesse free jazz todo cotidiano, de serra na janela do vizinho, de ônibus freando, de camelô gritando e gente falando muito sobre coisa nenhuma ele se perguntava onde se encaixar.
Sentia-se solo fora de hora, atrapalhando, tentando organizar a harmonia que se atropelava depois que o maestro criou tudo e se aposentou.
Esse jeito de viver dava trabalho. Mas era enfim, o único que sabia mais ou menos. Porque ninguém sabe viver completamente.
Era nas nuances que ouvia os discursos. Era no ritmo da fala e da respiração que entendia o que realmente era pra ser entendido. Sem aquela encheção de linguiça de quem não tem o que dizer.
Algo assim feito cachorro que reconhece o afeto de longe. E tem ser mais sabido que os cachorros?
Ele sabia que um silêncio que contempla não é um silêncio cansado.
Que um silêncio pleno não é um silêncio cheio, ou de saco cheio.
Há que se ouvir os suspiros, a respiração. Sob pena de interpretar uma pausa como depressão. Um momento solitário como agressão. Ou qualquer outra coisa que não esteja dita, mas esteja ali, pulsante.
O silêncio grita, pra quem não quiser ouvir. Fere. Sofre. E cria.
Noutra vez não diz mais nada.
Acompanhar, sem quebrar o tom, aí já é coisa pra artista.
Um comentário:
O amor não é comparável a nada, pulsa, grita, fere, e sente pulsando a vida desde o incio ao fim, que fim?. bonito o que diz meu amigo buss "ao infinito e alem", as vezes acho que essa frase foi feita para o silencio do amor, o que vem além do infinito.
Postar um comentário