Exageros didáticos à parte, mas vocês nunca ouviram nada parecido?
É que o corte profundo do silêncio dói na carne, às vezes.
Fica meio um medo de redação tema livre. Lembram disso?
"Ué, folha em branco, professora? Mas eu mesmo que vou escolher o tema? Assim não vale."
E vem o pânico.
Mas o silêncio fala tão alto, tão alto, que chega a ser confuso lhe dar ouvidos. Tantas vozes... Tantas falas... Que o contato com o que se pensa chega a ser paralisante. Talvez daí venha a necessidade de fazer um barulhão. Prá preencher espaços. Prá encher logo a folha branca e não lidar nunca mais com o vazio. Prá fugir da solidão - palavra mais que associada ao silêncio. E que acaba, por isso mesmo, provocando uma ameaça de dor mais doída que a própria.
Mas preencher o silêncio com palavras tantas será realmente eficaz?
É que acaba ficando meio sem sentido fugir do silêncio e pôr no lugar um monte de coisas que nem sempre se pode aproveitar. Só prá não se sentir só.
Às vezes o grito é necessário. Noutras não.
Basta um olhar prá dentro. Sem medo. E descobrir tanta coisa que ainda pode vir a ser. Que ainda pode surgir.
Até prá poder mediar bem e prestar atenção em de quem é a voz.
Se nossa.
Se de alguém que a gente tomou emprestado só prá não dizer nada. Ou prá ter o que falar...

Não é que quando escrevia sobre o silêncio saiu tudo do ar... E fiquei muda. Maldição.
Assuntos ocultos dão nisso.
Mas quero ver quem escuta o grito do Munch agora. Parece grito de sonho. Não sai nada.
3 comentários:
Relendo o texto, fiquei na dúvida se solidão e silêncio andam necessariamente juntos. Tô achando que o silêncio, o vazio de pensamento de verdade é uma peça rara. Se o estímulo não vem de fora, vem de dentro, ou dos dois lados, simultaneamente. Por acaso eu experimentei dois episódios de completo silêncio interior, que durou não mais de 5 ou 6 segundos.
Diz que Deus não fala, pois Ele é a única presença, daí não ter com quem falar. A linguagem pressupõe comunicação, a existência do outro, dentro ou fora de nós. Talvez a autora possa explicar por que parece existir uma divisão em nossa mente, em que ela fala com ela mesma como se fosse outra pessoa ("split mind"). A meditação procura justamente conseguir um estado mental de unicidade, em que a fala do outro é eliminada momentaneamente ("Eu e o Pai somos um."JC). Mas enquanto isso não acontece, é melhor não fugir de ouvir a vozinha na nossa cabeça, geralmente com falsas acusações, mesmo que seja prá rejeitá-las, o que já é um passo e tanto.
Valeu, Soraya!
Querida SORAYA poetisa ,
me encantou tudo que escreveste...
Ficar quieta ouvir o silêncio é um ato de coragem!
Na solidão lidamos conosco, com a profundeza da alma e nos unimos a LUZ, que no calar nos fala.
Abraço imenso,
M.Edilia (FADA AZUL)
É no discurso
da grande fala
que a fala se cala.
Sem nome e sem corpo.
Silencia na voz,
silencia no afeto,
silencia na dor.
Ai! como dói!
se quiser se divertir um pouco mais, entre em http://pontodeencontroblog.blogspot.com/2007/08/palavra.html
beijos rogerio
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