sexta-feira, 5 de julho de 2019

COMO É QUE FAZ MESMO???

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Com um coração que alternava de tamanho entre uva passa e baiacu, ela percebeu que nenhuma poesia seria possível.
Não naquele estado das coisas. Não naquele amontoado de cacos que jamais se tornariam mosaico. A não ser que um trabalho árduo fosse efetuado. Elaborando, organizando, desobnubilando a névoa das paixões inventadas só pra dar graça na vida.
Há muito não sentia nada. Há muito deixara que o corpo fosse mera máquina de locomoção. Mala pesada que se carregava daqui prá lá sem cessar. (se eu paro eu penso, se eu penso eu choro...).
Não teve jeito. Escorregou feio na calçada. Caiu de quatro, rasgou o joelho, estatelada, de boca aberta no meio-fio.
Cicatriz já é prova de vida. Marca de trilha aberta. De caminho errante-errado-torto-perdido. Encontro, encontrão, topada.
Já é sinal de que passou pela Terra.
Depois??? Ah, o depois é sempre mais trabalhoso. Transformar baiacu em verso não é nada fácil.
Enquanto isso ela chorava. No chão da cozinha, no meio da rua, em qualquer lugar onde o corpo não carregasse mais malas.
E encarnou princesas pra ver se aprendia a fórmula. Afinal, nos contos de fada isso sempre funcionava. (Entreouvido por aí...)
Faxinou a casa à la gata borralheira; comeu maçãs envenenadas; fez tranças longas e sentou-se na sacada; depois foi dormir esperando o beijo... Nada aconteceu.
Nada aconteceria se ela não se movesse. Afinal, a poesia era dela. Só dela. Não daria pra enfiar alguém mais nessa alucinação de tentar apreender um olhar ou um sorriso. Forma de uva passa novamente. Desidratada. Des-siderada. Uva passa já era alguma forma. Mesmo que fosse catada e separada no Natal.
Ahh, mas que grande invenção é essa que mortifica e maltrata? Que saudade insana do que foi inventado! Era a química - entre os ouvidos por aí.
E ela, que só entendia a matéria quando sentia, se viu um carbono valente. Valente enfrentando dragões e velando corpo ausente. Cadê o elemento orgânico? Cadê a matéria que ocupava o quarto todo? Cadê a voz que enchia o ar?
Ora bolas, assim não dá! Não há como sustentar um corpo com fraturas expostas sem aleijá-lo de vez.
E na valência, ela concentra nos cadernos antigos. Muita matéria. Muita. Quer se ligar em alguma coisa pra passar o tempo e distrair.
Mesmo que não tenha a menor ideia de como tudo isso funciona!


3 comentários:

Martha Pessôa Côrtes disse...

Porraaaa...q lindo!!! ♥

Anônimo disse...

Q o poemarse nos cure ainda q engolido pela rosa dos ventos voando abortado ao relento parido com sentimento e por algum momento...tempo de corona vírus escrever é o melhor passa tempo...q nossas poucas certezas encontre o seu cais e nossa alegria oxalá n acabe jamais

Unknown disse...

Que maravilha!
Quanta imagem foda e quanta identificação.
Me ajudou a curar e o coração que tava assim feito uva passa tomou forma de coração de novo!
Escreve mais!
Escreve sempre!